Há alguns anos, o educador e produtor cultural Cláudio Prado, ícone da contracultura brasileira, definiu os movimentos extremistas atuais como o “último espernear de um mundo que já não existe”.
Quanto mais os países do Sul Global reivindicam um mundo mais justo e coletivamente sustentável, observamos o reacionarismo de trumps, musks, mileis e bolsonaros, extrativistas e farialimers, golpistas civis e militares. Quanto mais as maiorias minorizadas (em direitos) se afirmam, mais estridentes os falsos apelos destes grupos a “valores tradicionais” e ultraindividualismos, armas de uma classe identitária poderosa — branca, rica e conservadora — em defesa de um status quo de séculos. Mas “é você que ama o passado e que não vê / que o novo sempre vem”, já enxergara Belchior há muito tempo.
Quem se informa pelo noticiário político e econômico da grande mídia raramente vê o novo. Ao contrário, tende a achar que o Brasil vai de mal a pior, principalmente quando o governo apresenta números positivos na economia. Já o povo enxerga as coisas de outro jeito: para 75% da população, a vida pessoal e familiar e o próprio Brasil irão melhorar em 2025. O índice vem da mais recente pesquisa Radar Febraban, da Federação Brasileira de Bancos, setor reconhecidamente mais afeito à Faria Lima do que aos movimentos sociais, e converge com os dados atualizados do IBGE, que apontaram a taxa de desemprego de novembro como a mais baixa da História do País.
Ou seja: apesar dos muitos percalços internos e externos, o Brasil avança com as políticas de desenvolvimento econômico e universalização de politicas publicas do governo Lula, e as pessoas percebem isso. Comparam o período de triste memória bolsonarista – a volta da fome, a fila do osso, milhares de mortos na pandemia – ao cenário atual de projeção de mais empregos e dignidade para as famílias brasileiras. E voltam a ter esperança em um futuro melhor.
Ainda assim, iniciaremos 2025 em guarda redobrada. Apesar do (ainda tímido) sentimento otimista, há muita luta pela frente. Precisamos seguir adiante nos processos contra os traidores do 8 de Janeiro. Jamais esqueceremos que por muito pouco não sofremos um golpe que previa explosões em aeroporto e os assassinatos do presidente e do vice eleitos e do presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Seguiremos na inescapável tarefa de apontar os crimes e levar à prisão todos os responsáveis pela tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Temos motivos para confiar na Justiça: pela primeira vez na História, um general de quatro estrelas foi preso por conspirar contra o Brasil. Outros militares de alta patente também estão na cadeia. Mas precisamos insistir e cobrar: sem anistia!
Até porque Jair Bolsonaro está inelegível, mas continua à solta. Assim como ele, há diversos extremistas que permanentemente ameaçam as instituições democráticas brasileiras. Abusam do território sem lei das plataformas digitais para espalhar fake news e discursos de ódio. No ano que vem, com a posse de Donald Trump – que terá Elon Musk, entre outros extremistas, em seu gabinete -, precisaremos estar duplamente atentos a isso. No STF, a discussão pela responsabilização das big techs sobre o conteúdo extremista criminoso, publicado em suas redes, avança. No Congresso, também temos a obrigação de retomar a discussão de um projeto de lei que regulamente estas atividades, para proteger os direitos da população e combater crimes contra a saude pública, misoginia, racismos, pedofilias e outras ameaças à infancia, fobias por religião ou orientação sexual, xenofobias e ameaças à nossa democracia.
Demos exemplos ao mundo em 2024. A suspensão do “X” no Brasil por descumprimento de decisões judiciais apontou caminhos institucionais para lidar com as big techs e ofereceu uma grande lição de soberania nacional. As realizações diplomáticas do G20 sob a liderança brasileira, em especial a Aliança Global contra a Fome e o debate sobre a taxação dos super-ricos, foram feitos históricos. Agora, precisamos nos preparar para dar exemplos também na área ambiental, com a COP30, no próximo ano.
Mas para que o País volte a deslanchar de vez e justifique a sensação de otimismo de três quartos da população, é preciso modificar com urgência a política de juros do Banco Central, que serve apenas à classe rentista. Com a mudança da presidência do BC, seguiremos pressionando pela queda dos juros, injustificáveis sob qualquer aspecto que não seja o de provocar uma recessão para atacar a popularidade do governo. A campanha presidencial para 2026 já começou e a oposição joga pesado. Combater os juros altos é mais um front na luta pelo desenvolvimento produtivo e geração de emprego dentro de um projeto nacional.
Mais do que tudo, precisamos voltar a usar a imaginação como ferramenta política. Construir saídas para os problemas complexos que enfrentamos com propostas de avanço, inclusão social e mudança para todos, não apenas uma pequena parcela da população. É o que todos e todas mais desejam: um País digno, próspero e justo. Seguiremos firmes nas lutas de reconstrução do Brasil. A sociedade precisa ampliar sua organização e sua participação para avançarmos mais. Ainda há muito mais a fazer e comunicar. Feliz Ano Novo!
PS:a coluna vai tirar férias em janeiro. Até a volta, pessoal!
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