Zécarlos Ribeiro, do grupo Rumo, lança álbum solo com caminho próprio e engenhoso – CartaCapital

O Rumo é marcado por letras bem sacadas, usando o canto falado e uma sonoridade muito própria. Em seu segundo álbum solo, Zécarlos Ribeiro, percussionista, vocal e principal compositor do grupo, retoma esses atributos.

A excelente cantora Ná Ozzetti, colega de Rumo, gravou as canções do primeiro disco de Zécarlos, de 2023. Agora, ele próprio interpreta as músicas, de sua autoria.

Sob o nome incomum de (Todos os Homens)° = 1 (leia-se: todos os homens elevado a zero é igual a um), o álbum de dez faixas conta com a participação dos cantores Arrigo Barnabé, Carlos Careqa e Ana Deriggi. A produção é de Marcio Nigro.

Apenas uma música é regravação: Minha Cabeça, registrada originalmente em 1981 e composta por Zécarlos com Luiz Tatit. No álbum, Arrigo canta no estilo radiofônico, remetendo ao que fez em seu clássico álbum Clara Crocodilo (1980). 

A canção que abre o disco, Banco de Loucos, tem um tom de humor, marca do Rumo. A faixa-título, com uma espécie de fórmula matemática, é na verdade uma montagem engenhosa de Zécarlos Ribeiro sobre transformação, tendo a linha do metrô e as suas estações como elementos de conectividade.

Na terceira faixa, Deslumbre (Zécarlos Ribeiro com Geraldo Leite), Ana Deriggi canta um rock adequado à sua voz rascante. O álbum segue com Sonhe em Pé, com participação de Carlos Careqa, baseado em uma história verdadeira de Gal Opido, integrante do grupo Rumo e renomado fotógrafo, sobre a presença insólita de um cavalo no corredor da casa em que vivia quando criança. A letra confere mais uma pitada de humor ao disco.

Em Estica a Trena, Zécarlos faz a representação poética de uma obra civil. Na sequência de Minha Cabeça, Vai para Cama Descansar (com Geraldo Leite), sobre a vida prosaica a dois em casa: Deixa a louça comigo/ Vai pra cama descansar/ Fico ligado no bolo/ Desta vez não vai queimar.

Vem para Cá (com Geraldo Leite) e Volta para Mim surgem como baladas amorosas, mas com sonoridades e acentuações incomuns.

O disco termina com É do Mal (com Geraldo Leite), uma canção de crítica à gestão negacionista da crise sanitária da Covid-19 pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). Segundo Zécarlos, “foi composta por ocasião da epidemia, quando assistimos, impotentes, aos desencontros na saúde pública”. 

O álbum de Zécarlos Ribeiro nos lembra de que ainda há trabalhos inteligentes em execução.

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