O longo voto do ministro Luiz Fux no julgamento da ação do golpe na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, nesta quarta-feira 10, animou o entorno de Jair Bolsonaro (PL) e até líderes do Centrão. Segundo esses interlocutores, ouvidos sob reserva por CartaCapital, a manifestação do magistrado deve fazer a proposta de anistia ganhar fôlego no Congresso Nacional.
Bolsonaro e sete aliados são réus no caso. Fux abriu divergência de Alexandre de Moraes e Flávio Dino e se manifestou pela absolvição do ex-presidente.
A avaliação de parlamentares consultados pela reportagem é que, apesar de não ser capaz de reverter a tendência de condenação, o voto de Fux serve de instrumento político para reforçar a pressão em torno do perdão aos condenados pelos atos golpistas.
“O voto de Fux foi o recheio do bolo”, resumiu um deputado federal próximo à família do ex-capitão. A articulação em torno da anistia tem encontrado resistências em Brasília. Na Câmara, o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) receia pautar o texto para não tensionar a relação com o STF, apesar de admitir a aliados que o tema terá de ser enfrentado pela Casa em algum momento.
A principal barreira está no Senado, onde Davi Alcolumbre (União-AP) trabalha por uma proposta moderada, a beneficiar apenas condenados pelos chamados delitos de multidão.
A anistia voltou à pauta com a articulação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que vestiu a roupa de candidato à Presidência em 2026 e engrossou o tom contra Alexandre de Moraes, relator da ação do golpe e alvo preferencial do bolsonarismo.
Tarcísio fez chegar a integrantes do PL nesta quarta que voltará à capital federal após o julgamento, para retomar as conversas sobre o projeto. Prometeu buscar Alcolumbre e integrantes do Republicanos que ainda torcem o nariz para a anistia.
No governo Lula (PT), o voto de Fux foi recebido com “constrangimento e perplexidade”. Um ministro do PT disse à reportagem que o magistrado pareceu ter “incorporado o papel de advogado de defesa de Bolsonaro” e esquecido votos anteriores sobre réus envolvidos no quebra-quebra de 8 de Janeiro. A ordem no Palácio do Planalto, no entanto, é não se manifestar sobre o julgamento.