A oposição turca realizou novos protestos na noite desta segunda-feira 24 contra a detenção do popular prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, principal rival do presidente Recep Tayyip Erdogan.
Reunidos anteriormente em Besiktas, bairro central no lado europeu de Istambul, milhares de estudantes começaram à noite a marchar em direção à prefeitura da cidade, onde a oposição se reúne todas as noites desde que o prefeito foi preso na última quarta-feira, constatou um jornalista da AFP.
A polícia turca deteve mais de 1.100 pessoas, incluindo jornalistas e advogados, desde o início da onda de protestos desencadeados pela prisão do prefeito de Istambul, que começaram na capital e se estenderam para mais de 55 das 81 províncias da Turquia. Já são as maiores manifestações no país em mais de uma década.
O popular prefeito, de 53 anos, era considerado por muitos o único político capaz de derrotar nas urnas Erdogan, que está no poder há mais de duas décadas.
Em apenas quatro dias, ele passou de prefeito de Istambul — cargo que iniciou a ascensão política de Erdogan há algumas décadas — a detido, interrogado, encarcerado e deposto da prefeitura devido a uma investigação por corrupção.
Imamoglu, que foi oficialmente destituído de seu cargo no domingo, passou a primeira noite na prisão, em Silivri, na região de Istambul.
Apesar de sua detenção, ele foi designado no domingo por esmagadora maioria como candidato do CHP, principal partido da oposição, para as eleições presidenciais de 2028, com 15 milhões de votos.
Ekrem Imamoglu, o popular prefeito de Istambul preso após ser alçado ao posto de principal opositor do presidente Erdogan.
Foto: YASIN AKGUL / AFP
Segundo analistas, as iminentes primárias desencadearam a detenção de Imamoglu, principal rival político de Erdogan. Este último tem dominado a política turca desde 2003, em uma primeira fase como primeiro-ministro e depois como presidente.
“Parem de perturbar a paz dos nossos concidadãos com suas provocações”, disse nesta segunda-feira o presidente turco dirigindo-se à oposição em um discurso televisionado.
“Não brinquem com os nervos da Nação. Não lancem contra nossa polícia as organizações marginais de esquerda”, pediu.
A Alemanha classificou como “inaceitável” a detenção de Imamoglu, a França afirmou que se trata de um “grave atentado contra a democracia”, e a Grécia, que “não se podem tolerar” medidas que atentem contra as liberdades civis.
A União Europeia, bloco ao qual a Turquia aspira aderir, instou as autoridades a respeitar os valores democráticos.
Dez jornalistas turcos, entre eles um fotógrafo da AFP, foram detidos nesta segunda em suas residências em Istambul e Esmirna (oeste), a terceira maior cidade do país, por “cobrir os protestos”, informou a associação turca de defesa dos direitos humanos MLSA.
“O que estão fazendo com os membros da imprensa e os jornalistas é uma questão de liberdade. Nenhum de nós pode permanecer em silêncio diante disso”, denunciou a esposa de Imamoglu, Dilek Kaya Imamoglu, na rede social X.
“Pedimos a libertação dos jornalistas detidos”, disse Erol Önderoglu, representante da organização Repórteres Sem Fronteiras na Turquia.
“As autoridades turcas devem cessar o uso inútil e cego da força (…) contra manifestantes pacíficos”, declarou a Anistia Internacional em um comunicado.
“Vencerei esta guerra!”
Os estudantes das principais universidades de Istambul e Ancara convocaram um boicote às aulas nesta segunda-feira.
No domingo, dezenas de milhares de pessoas voltaram a lotar as imediações da prefeitura de Istambul no domingo e confrontos foram registrados entre manifestantes e policiais.
A Ordem dos Advogados de Esmirna, cidade costeira do oeste do país, relatou a detenção de dois advogados da região, incluindo seu ex-diretor, que representavam os manifestantes.
Violência policial durante protestos na Turquia contra a prisão do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu. Centenas de manifestantes foram presos no país.
Foto: KEMAL ASLAN / AFP
Na manhã de segunda-feira, o governador de Istambul, Davut Gul, acusou os manifestantes de “danificar mesquitas e cemitérios”. “Não será tolerada nenhuma tentativa de perturbar a ordem pública”, advertiu na rede social X.
Quando era levado à prisão de Silivri, Imamoglu classificou as medidas judiciais contra ele como uma “execução” política “sem julgamento”.
Em uma mensagem posterior enviada da prisão, quando dezenas de milhares de pessoas se concentravam pela quinta noite consecutiva, ele se mostrou desafiador.
“Estou usando uma camisa branca que não poderão manchar. Tenho um braço forte que não poderão torcer. Não recuarei um milímetro. Vencerei esta guerra!”, declarou em uma mensagem transmitida por meio de seus advogados.
Diante dos grandes protestos, as autoridades turcas tentaram fechar mais de 700 contas no X, informou a plataforma no domingo.