SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pressionou nesta quinta-feira (24) pessoalmente o chefe do Federal Reserve, Jerome Powell, para reduzir as taxas de juros do país durante visita às obras da reforma da sede do banco central americano.
Após um desentendimento no encontro sobre os custos do projeto, Trump disse que não havia tensão com Powell e indicou que os problemas não eram motivo suficiente para demiti-lo.
O presidente brincou durante a visita às obras que demitiria um gerente responsável por estourar o orçamento da construção e provocou Powell -que enfrenta críticas do republicano desde o início do mandato- sobre as taxas de juros.
“Bem, eu adoraria que ele reduzisse as taxas de juros. Além disso, o que posso dizer?”, disse Trump.
Trump e Powell, usando capacetes brancos de construção, caminharam juntos por um dos canteiros de obras. Em entrevista a jornalistas no encontro, as duas autoridades trocaram farpas e discordaram em relação ao custo do projeto.
Powell rebateu as alegações de Trump de que os custos haviam atingido US$ 3,1 bilhões, balançando a cabeça enquanto o presidente falava sobre os excessos.
O presidente ofereceu a Powell um pedaço de papel que segundo ele continha detalhes sobre uma nova estimativa, mas o chefe do Fed disse a Trump que a revisão incluía um edifício que já havia sido concluído.
Quando um jornalista perguntou o que Trump faria se um gerente de um de seus projetos de construção tivesse estourado o orçamento, o presidente foi incisivo. “De forma geral, o que eu faria?” disse Trump. “Eu o demitiria.”
O presidente americano também fez referência à sua crítica de meses sobre a decisão do banco central de manter as taxas estáveis, e Powell justificou citando preocupações sobre os potenciais impactos inflacionários das tarifas.
A visita do presidente representa uma escalada pública de seu confronto com o chefe do banco central. Embora Trump tenha regularmente criticado Powell nas redes sociais -e o pressionado sobre as taxas de juros durante uma reunião privada na Casa Branca em maio- a visita desta quinta ofereceu a ele a chance de expressar suas preocupações no território do presidente do Fed.
As intervenções também mostram como o presidente intensificou em seu segundo mandato a pressão sobre o banco central, ameaçando normas de longa data sobre a independência do Fed.
No final da visita, Trump evitou fazer críticas sobre o projeto. Ele disse que, embora tenha visto “uma situação muito luxuosa acontecendo”, entendia que medidas de segurança e a necessidade de reforma no porão acarretavam altos custos.
“Olha, sempre há críticos depois que as coisas acontecem -eu não quero ser isso”, disse Trump. “Eu quero ajudá-los a terminar.”
Trump disse que não havia “tensão” com Powell e recusou-se a detalhar sua discussão sobre taxas de juros, referindo-se ao atual período de silêncio do Fed antes de sua reunião na próxima semana.
“Eu só quero ver uma coisa acontecer, muito simples: as taxas de juros precisam baixar”, disse.
Trump tem criticado o presidente do órgão, Jerome Powell, repetidamente por não reduzir a taxa de juros dos EUA de forma agressiva. Trump voltou a chamar Powell de “idiota” na terça-feira, um dia após afirmar que deverá trocar o comando do Fed em oito meses.
O presidente indicou Powell para liderar o banco em seu primeiro mandato, mas desde então tem se arrependido de sua escolha devido a divergências sobre os juros e a economia. Entre os mandatos de Trump, o presidente Joe Biden indicou Powell para um segundo mandato, que vai até 15 de maio de 2026.
Ao mesmo tempo, autoridades da Casa Branca têm acusado o Fed de gerir mal a reforma de dois prédios históricos em Washington, sugerindo supervisão deficiente e possível fraude. O diretor de orçamento da Casa Branca, Russell Vought, estimou o custo excedente em “US$ 700 milhões e contando”. A reforma está estimada em US$ 2,5 bilhões e Powell afirmou que a reforma atende medidas de segurança.
As críticas públicas de Trump a Powell e o flerte com a possibilidade de demiti-lo já haviam perturbado os mercados e ameaçado uma das principais bases do sistema financeiro global -o fato de os bancos centrais serem independentes e livres de interferências políticas.
O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse na quarta-feira que o governo não está com pressa de nomear um novo presidente para substituir Powell. O secretário disse que o governo provavelmente anunciará um sucessor em dezembro ou janeiro.
Normalmente, presidentes dos EUA se abstêm de comentar sobre a política monetária do Fed em deferência à autonomia do banco, mas Trump não tem seguido esse exemplo.
Trump tem dito que gostaria que o Fed cortasse a taxa de juros para até 1% da atual faixa de 4,25% a 4,5% para reduzir os custos de empréstimos do governo. Isso permitiria que o governo financiasse os déficits crescentes previstos em sua legislação de cortes de impostos.
A maioria dos 19 membros do Fed não vê os juros caindo tão baixo quanto Trump gostaria. Suas mais recentes projeções, divulgadas no mês passado, mostraram que a maioria espera que a taxa não caia abaixo da faixa de 3,25% a 3,5% até o fim do próximo ano. Em junho, a inflação dos EUA teve a maior aceleração no ano e atingiu 2,7% em 12 meses.
O Fed se reúne na próxima semana e a expectativa é de que mantenha os juros na faixa atual. Operadores esperam que o banco central volte a cortar os juros em setembro.