Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – As taxas dos DIs fecharam a sexta-feira em forte baixa, superior a 35 pontos-base em alguns vencimentos, com a curva a termo brasileira refletindo queda em apostas de alta da no curto prazo, após dados fracos do mercado de trabalho dos EUA provocarem recuo firme dos rendimentos dos Treasuries.
A avaliação de parte dos investidores é que a possibilidade de aceleração dos cortes de juros nos EUA ajuda a conter a valorização do , amenizando a pressão sobre a inflação brasileira.
Foi o quarto dia consecutivo de queda das taxas curtas — mais sensíveis às decisões de política monetária brasileira de curto prazo. A taxa para janeiro de 2027 — uma das mais líquidas — acumulou queda de 53 pontos-base nos últimos quatro dias.
No fim da tarde desta sexta-feira a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2025 — que reflete a política monetária no curtíssimo prazo — estava em 10,56%, ante 10,688% do ajuste anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,26%, ante 11,572% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,47%, ante 11,829%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 11,79%, ante 12,073%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 11,81%, ante 12,066%.
Bastante aguardado pelo mercado, o relatório payroll do Departamento do Trabalho mostrou que os EUA abriram 114.000 empregos fora do setor agrícola em julho, depois de abrir 179.000 vagas, em dado revisado para baixo, em junho.
Economistas consultados pela Reuters projetavam abertura de 175.000 postos de trabalho em julho, depois de 206.000 em junho conforme o dado anterior. A taxa de desemprego nos EUA subiu de 4,1% para 4,3%.
Os números abaixo do esperado em julho reforçaram as apostas de que o Federal Reserve de fato começará a cortar juros em setembro nos EUA, como já vinha sendo precificado. Mais do que isso, eles fizeram a curva norte-americana passar a precificar de forma majoritária corte de 50 pontos-base em setembro — e não de 25 pontos-base, como o mercado vinha esperando.
“Hoje está sendo um dia bem importante, porque saiu o dado do payroll, com criação de vagas bem abaixo do esperado, mostrando que a economia está se desacelerando de uma forma rápida. Ainda não há recessão, mas estamos vendo aumento de desemprego”, avaliou durante a tarde Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research.
“Por isso a curva norte-americana está baixando tanto e, no Brasil, as taxas (dos DIs) estão acompanhando”, acrescentou.
No melhor momento do dia, pouco antes do fechamento, às 16h29, a taxa do DI para janeiro de 2027 atingiu 11,46%, em queda de 37 pontos-base ante o ajuste da véspera.
Com o movimento do dia, perto do fechamento a curva brasileira precificava 72% de chances de manutenção da Selic em 10,50% ao ano em setembro. A probabilidade de alta de 25 pontos-base estava em 28%. Na véspera, os percentuais eram de 39% e 61%.
“O mercado brasileiro estava na outra ponta do norte-americano, considerando quase que certa a necessidade de o Banco Central ter que subir juros. Ele chegou a precificar 25 pontos-base de alta da Selic em setembro”, comentou Luciano Rostagno, estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos.
“Agora a curva brasileira está fechando bem, principalmente na parte curta, que captura as expectativas para as próximas reuniões (de política monetária do BC)”, acrescentou.
Uma das avaliações no mercado é de que o iminente corte de juros nos EUA retira parte da pressão sobre a inflação brasileira.
“O payroll de hoje indica quase que certeza de que o Fed vai cortar juros em setembro, o que facilita a vida do BC brasileiro. O dólar está caindo (ante o real) e temos ainda as commodities em forte queda. Estas são forças deflacionárias poderosas”, avaliou Quaresma, da Empiricus.
Às 16h40, o –referência global para decisões de investimento– caía 19 pontos-base, a 3,79%.