O ministro da Fazenda, Fernando Haddad: plano era elevar arrecadação anual do IOF em 60%.

A perspectiva de queda da inflação no segundo semestre por conta do tarifaço de Donald Trump não será suficiente para permitir cortes na taxa básica de juros ainda este ano, avaliam analistas do mercado financeiro.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deverá comunicar, nesta quarta-feira (30), a manutenção da Selic em 15% ao ano — o maior nível em quase duas décadas, interrompendo, ao menos por enquanto, o ciclo de alta iniciado em setembro de 2024.

Caio Megale, economista-chefe da XP, prevê que os cortes da Selic só devam começar a partir de janeiro. “Acreditamos que o Copom será conservador neste semestre para garantir que a inflação siga em queda”, afirma. A XP projeta que o IPCA feche o ano em 5,0%, melhorando a projeção, que chegou a superar 6,0%.

Rodrigo Miotto, da Nippur Finanças, afirma que qualquer decisão diferente do Copom seria vista com surpresa e criaria volatilidade no mercado. “Não há espaço para cortes no curto prazo, mesmo com uma tendência deflacionária aparecendo nos indicadores”, afirmou.

Em relatório, o J.P. Morgan afirma que o Banco Central deverá enfatizar sua postura de “vigilância e perseverança” até que o processo de desinflação esteja claramente consolidado.

O Itaú Unibanco, em relatório a clientes, afirma que o Copom deve “reforçar a estratégia de manutenção da taxa Selic em patamar contracionista por período bastante prolongado, em meio a um cenário de inflação prospectiva acima da meta até 2027”. E manteve a previsão de início do ciclo de cortes para o primeiro trimestre de 2026.

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Tarifaço é desinflacionário

A previsão é de manutenção do aperto monetário, mesmo com a avaliação geral dos analistas de que a imposição de tarifas tende a reduzir o crescimento da economia brasileira, aumentando a oferta interna de produtos que antes seriam exportados, o que resultará em efeito desinflacionário.

Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, acredita que o Copom não deve incorporar imediatamente os efeitos da sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos para produtos brasileiros porque a discussão não está consolidada.

“As tarifas ainda não estão definidas, há muita negociação em andamento e novidades surgem a cada dia”, diz. “O nosso cenário aqui é de que o impacto sobre o crescimento é moderado, e a gente também não vê ainda nenhum movimento relevante sobre preços.”

Mas admite que o tarifaço pode ajudar a desaceleração da atividade econômica, que por enquanto segue firme. Um espaço para um corte de juros, para ele, só bem mais à frente, provavelmente no começo do segundo trimestre do ano que vem. “Há um longo caminho desinflacionário”, prevê.

As expectativas de médio prazo para a inflação seguem distantes do centro da meta, de forma persistente. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou alta de 5,35% nos 12 meses até junho, permanecendo acima do limite superior do alvo do BC por seis meses seguidos. A inflação de serviços está acima dos 6%.

O objetivo central do BC é de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. O presidente do BC, Gabriel Galípolo, projeta que a inflação voltará a ficar abaixo do teto da meta a partir do fim do primeiro trimestre de 2026, com o Copom agora mirando a inflação do primeiro trimestre de 2027 devido aos efeitos defasados da política de juros.

Política monetária versus política fiscal

Para Miotto, apesar do alívio inflacionário previsto pelo tarifaço, as consequências fiscais e cambiais vão permanecer. “Vai ter um impacto grande, porque os Estados Unidos compram cerca de 12% das nossas exportações. Isso pesa na balança comercial e na arrecadação”, afirmou.

Padovani ressalta que, diferentemente da política monetária, o tarifaço acaba atrapalhando a política fiscal, seja por menos arrecadação, seja porque torna a economia mais vulnerável a choques. “Do ponto de vista das contas públicas, o tarifaço é ruim, porque ele desacelera a atividade econômica, faz com que o governo arrecade menos e, portanto, piore a situação fiscal”, diz.

“Além disso, uma situação de incerteza comercial, como a gente está vivendo hoje, nunca é positiva para a avaliação de risco. A recomendação tradicional é que o Brasil mantenha contas públicas em ordem e uma dívida equilibrada para reduzir a vulnerabilidade diante das mudanças de humor dos investidores internacionais.”

Miotto acredita que, se houver alguma negociação entre Brasil e EUA, o câmbio será impactado diretamente. “O dólar pode recuar para a casa dos R$ 5,40, abaixo de R$ 5,50. Caso contrário, pode subir. Mas não acredito que vá alterar a política de juros.”

Gastos públicos continuam no radar

Para os economistas, além das incertezas externas, a redução dos juros vai depender da evolução do cenário fiscal, por sua vez impactado pelo cenário político. A preocupação com o comportamento dos preços em 2026, ano de eleições presidenciais, segue no radar. A inflação pode voltar a subir a depender dos gastos públicos.

Para Megale, as despesas devem acelerar no segundo semestre, compensando algumas linhas que ficaram abaixo do orçamento no primeiro semestre, como precatórios, emendas, INSS. “Isso pode pôr em risco o processo de convergência da inflação à meta”, diz.

Além disso, medidas de estímulo ao crescimento, como transferências, crédito facilitado, desoneração tributária, tendem a acontecer, em particular com a proximidade das eleições estaduais e federais. “O risco aí é frear o reequilíbrio entre oferta e demanda agregada”, explica.

Solange Srour, economista do UBS, também reconhece que a questão fiscal continua fazendo o cenário para o próximo ano bastante desafiador. “As medidas fiscais do governo e o estímulo ao crédito ajudam a adiar o início da queda dos juros e o retorno para um dígito.”

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