Soprano brasileira recebe honraria da família real britânica por luta pela equidade de gênero – CartaCapital

Gabriella Di Laccio saiu do Brasil para buscar seus sonhos e os encontrou na Inglaterra, onde será condecorada pela família real, pelas mãos do Rei Charles III, ainda neste mês. Ela receberá o título de Member of the Most Excellent Order of the British Empire (Membro da Ordem Mais Excelente do Império Britânico), por seus serviços prestados à música e pelo ativismo em prol da equidade de gênero.

Ela ganhou reconhecimento como uma das grandes sopranos no universo da música clássica. Na luta pela igualdade de gênero, destaca-se a Fundação Donne, criada por ela.

“Fiquei muito emocionada, por ser uma artista brasileira. Isso é tão raro”, afirmou Gabriella Li Laccio em entrevista a CartaCapital. “Mais do que tudo, espero que esse reconhecimento sirva para amplificar o trabalho de trazer mais mulheres para a música.”

A iniciativa começou quando ela encontrou uma enciclopédia em um sebo, em 2016, com uma lista de seis mil mulheres da música ao longo da história. “Eu me senti a musicista mais ignorante do mundo quando comecei a escutar e descobrir músicas lindíssimas.”

“Estudei em uma das maiores escolas de música do mundo, a Royal College of Music (Londres), e nenhum professor meu falou de mulheres”, relata. “Isso abriu minha mente.”

Foi o passo necessário para Gabriella criar, em 2018, a fundação Donne – Women in Music. O projeto começou como um banco de dados de mulheres compositoras silenciadas ao longo da história, com acesso gratuito a informações sobre elas, além de playlists, gravações e outros recursos multimídia.

Atualmente, o projeto vai além do site e funciona como “um movimento de tentar acelerar a mudança na indústria”, a fim de diminuir a resistência a mulheres por parte de diretores artísticos, de festivais e de salas de concerto.

O banco de dados da fundação não contempla somente mulheres que trabalham na música clássica, mas no jazz e até cantoras e compositoras populares.

Em fevereiro de 2024, Gabriella organizou o Let Her Music Play, um concerto acústico de 26 horas, 18 minutos e 57 segundos, que entrou para o Guinness World Records como o mais longo dedicado exclusivamente a compositoras mulheres e pessoas não binárias.

Segundo Gabriella, há muitas jovens envolvidas na fundação. “Elas estão cansadas desse jeito antigo de falar de música clássica, que hoje está muito mais fluida”, declarou. “As nossas salas de concerto continuam presas no passado. Existe um problema estrutural das instituições de se abrir para músicas novas, porque têm medo de as pessoas não comparecerem.”

Gabriella Di Laccio lançou quatro discos. Ela vive na Inglaterra desde 2001 e é destaque nos palcos da Europa como soprano. Em setembro, virá ao Brasil para concertos em Porto Alegre e São Paulo. Atualmente, faz um doutorado em torno da transformação e da promoção da representatividade na indústria musical.

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