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A crise financeira dos Correios instalou um clima de apreensão entre os funcionários, que temem não receber o 13.º salário se não houver o aporte emergencial de R$ 6 bilhões solicitado ao Tesouro. O socorro é necessário enquanto o governo viabiliza o empréstimo de R$ 20 bilhões junto a instituições financeiras para sanear a empresa, que já acumula um prejuízo recorde de R$ 6,1 bilhões neste ano até setembro.

O presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (ADCAP), Roberval Borges Corrêa, acredita que o dinheiro saia até a data limite, 20 de dezembro. “Sem esse aporte, não há garantia nem de pagamento do 13.º e outros compromissos”, diz, cobrando a responsabilidade do Executivo.

“É uma situação inédita e nós esperamos que o governo assuma sua responsabilidade, porque ele é o responsável pela manutenção do serviço universal e é o único acionista da empresa.”

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmou nesta quarta-feira (10) que trabalha nas duas frentes. “Um caminho é o aporte, que pode se tornar necessário se nós não chegarmos a um acordo com o pool de bancos que vai financiar a reestruturação da companhia”, disse. “Não vamos ficar com a faca no pescoço por conta da incompreensão da parte de uma ou outra instituição financeira.”

O ministro descartou, no entanto, qualquer alternativa fora do arcabouço fiscal ou um crédito extraordinário, que liberaria recursos de forma imediata para despesas urgentes e imprevisíveis.

Para Corrêa, o aporte deve sair porque é obrigação da União. “Ao longo da sua história, a empresa não recebeu um centavo da União para prestar esse serviço”, afirma.

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Segundo ele, o modelo histórico dos Correios prevê que a empresa gere receitas próprias para financiar a universalização, que já custa neste ano quase R$ 5 bilhões — volume que a companhia não consegue mais sustentar.

“Se os Correios fossem decidir sozinhos, como empresa, eles não manteriam 80% da rede de agências, porque elas são deficitárias. Elas existem para atender o cidadão.”

Empréstimo pode ser única opção para Correios

Apesar da fala de Haddad, o uso de eventual recurso dentro do arcabouço demandaria a publicação de um novo Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas. Isso requer, no mínimo, dez dias, já que é preciso solicitar projeções atualizadas a todos os ministérios. Até lá, o ano legislativo já teria praticamente se encerrado.

Por isso, técnicos da Fazenda não preveem tempo hábil para autorizar o aporte, o que torna o empréstimo a única opção viável para que a empresa consiga honrar seus compromissos ainda este ano.

Mas o tema segue em compasso de espera. Mesmo com o aval do Tesouro, cinco bancos (Banco do Brasil, BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil e Safra) impuseram juros considerados elevados para uma operação com garantia soberana: quase 136% do CDI, ao redor de 20% ao ano.

A Fazenda chegou a acionar a Caixa Econômica Federal para destravar o crédito após o Tesouro Nacional rejeitar a proposta, mas até agora não houve avanços, sob alegação de risco operacional da empresa.

Expectativa é por plano de reestruturação dos Correios

Correndo contra o tempo, o governo publicou um decreto que autoriza a concessão de garantia da União ao empréstimo, estabelecendo que estatais que identifiquem risco de precisar de recursos do Orçamento apresentem um plano completo de ajustes, com detalhamento dos aportes previstos e medidas para manter a sustentabilidade financeira.

A iniciativa abre espaço para que a estatal apresente um plano de reestruturação e consiga fechar o empréstimo considerado essencial pelos bancos e pela própria Fazenda, já que evita que os Correios se tornem dependentes diretos do Tesouro — tudo o que a equipe econômica quer evitar em meio à crise fiscal.

Haddad tem frisado a importância do plano para o crédito, requisito para bancos classificarem o risco da operação, que pode ficar abaixo dos R$ 20 bilhões inicialmente estimados pela companhia para quitar dívidas e ainda mais abaixo do necessário para a reestruturação.

A primeira fase do plano foi anunciada em outubro e prevê fechamento de agências e um Programa de Demissão Voluntária (PDV), mas foi considerada tímida por especialistas do setor. Há dúvidas sobre a capacidade de adaptação da empresa para concorrer em um mercado complexo e em transformação tecnológica.

Para o economista Murilo Viana, os Correios precisam demonstrar que vão conseguir manter competitividade dentro de um projeto de investimento e modernização. “Existe uma estrutura de mercado: onde ele vai se encaixar?”, questiona.

“Deve manter serviços postais ou concorrer com as empresas privadas na entrega de compras on-line? Qual o modelo de negócios? São questionamentos que têm que ser feitos para se ter credibilidade junto às instituições financeiras.”

Corrêa aposta que as medidas adotadas pela administração, sob a presidência de Emmanoel Schmidt Rondon, vão conseguir dar suporte à operação. O foco, segundo ele, tem sido o resultado — ao contrário da gestão anterior, de Fabiano Silva dos Santos, a quem atribui a situação atual.

“A gestão foi perdulária, incompetente, inadequada à realidade da empresa”, afirma. “Nós alertamos publicamente várias vezes. Não quer dizer que não teríamos problemas estruturais, mas a gestão causou um problema maior que a atual administração está tentando resolver dentro de uma lógica de gestão profissional. Nossa expectativa é positiva.”

Em nota à Gazeta do Povo, os Correios disseram que os detalhes do Plano de Reestruturação serão divulgados “em data a ser definida” e que a “operação de crédito está em negociação e informações a respeito poderão ser divulgadas assim que formalizadas”.

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