A pequena empresária Mariana Menezes estava em Eldorado do Sul (RS), quando as enchentes devastaram o estado, em 2024. Naquele mesmo ano, a adolescente Taissa Kambeba viu, ao redor da sua aldeia, a Tururukari-uk, em Manacapuru, no Amazonas, muitos animais queimados pelo incêndio que consumiu parte da floresta.
Nesta terça-feira (11), elas estiveram juntas na coletiva de imprensa Mães e Crianças na COP30, na Zona Azul, área oficial do evento. Para elas, falar sobre como a mudança do clima afeta a vida das crianças é urgente. Tassia é uma jovem que sofre, desde pequena, os efeitos da crise climática. Mariana é mãe e teme pelo futuro dos seus filhos, assim como a gestora de comunicação Catarina Nefertari, moradora de Belém, capital paraense sede da COP, que dividiu com elas o espaço do debate.
“Aqui, a minha preocupação enquanto mãe é o quanto eu ainda vou conseguir evitar e ter recursos, tanto emocionais quanto de estrutura mesmo, para minimizar os impactos da crise climática na minha vida e da minha filha”, diz a gestora de comunicação.
Mãe de uma menina de dez anos, ela sabe que o assunto da crise climática é inevitável, porque os efeitos já chegaram. “A gente fala muito sobre o nosso território, que é a Amazônia. Apesar de ser a Amazônia urbana, do quanto alguns rios aqui de Belém a gente não consegue tomar banho, porque eles estão muito sujos”, lamenta.
“Antigamente a gente pensava assim: ‘Eu preciso deles numa boa escola, com uma boa alimentação, uma boa vida’. Agora a gente tem que se preocupar com o mundo onde eles vão viver”, completa a empresária Mariana Menezes.
Em 2024, enquanto o nível da água subia em Eldorado do Sul, na maior enchente registrada por lá, ela tentava proteger os filhos, então com nove, 12 e 14 anos. “A gente estava num prédio com mais de 40 pessoas, 20 cachorros. A gente quebrou o telhado para poder sair por cima. Um helicóptero desceu, pegou meus filhos e levou eles”, lembra Menezes.
Meses depois, a mais de 7 mil quilômetros dali, Taissa, com apenas 14 anos, passava madrugadas sem dormir. “A gente teve que lidar com o fogo dentro da comunidade, dia e noite, dia e noite, para que aquilo se apagasse”, conta. Os incêndios devastaram o Brasil em 2024 e a Amazônia foi o bioma mais afetado. “Nunca imaginei que aquilo aconteceria dentro da minha comunidade”, lamenta a jovem liderança do clima.
Em Belém, ela participa da terceira Conferência do Clima e celebra a presença de jovens como ela. “Nas minhas primeiras COPs eu vi que realmente não tinha tantas crianças, tantos adolescentes em pauta”, observa. Antes, Taissa esteve em Dubai, nos Emirados Árabes, em 2023; e em Baku, no Azerbaijão, em 2024. “É uma coisa que eu tô vendo que evoluiu bastante”, avalia.

No debate, as participantes — todas mulheres, entre mães, representantes de organizações e adolescentes — ressaltaram a importância dos jovens não apenas para pensar e debater o futuro, mas para serem priorizados nas decisões sobre adaptação à crise climática.
“O nosso grande pedido é que as crianças tenham uma consideração primordial em todas as negociações e decisões climáticas. Que elas sejas citadas em todas as decisões, que elas sejam o centro”, diz Laís Fleury, diretora do instituto Alana, organização da sociedade civil pela defesa dos direitos das crianças e adolescentes.
Para a COP30, Fleury espera uma resolução direcionada à proteção dos direitos desses grupos. “Tem um dado da ONU [Organização das Nações Unidas] que fala que tem 1 bilhão de crianças morando em países com altíssimo risco climático”, diz.
A exposição a eventos climáticos extremos, como enchentes, queimadas e tornados, tem impactos emocionais em qualquer pessoa. Nas crianças, no entanto, os danos são ainda maiores. “Elas são altamente impactadas emocionalmente. Tem toda questão de trauma. Elas, muitas vezes, são deslocadas da própria moradia. Então todo o ambiente que as cercam, onde elas precisam para se desenvolver é impactado”, diz Fleury.
Menezes, que ainda hoje chora quando se lembra dos dias de angústia ao lado dos filhos em Eldorado do Sul, sabe disso. “Essa foi a primeira enchente da vida deles. Talvez eles tenham muitas ainda para passar”, diz. Embora reconheçam que os debates da COP fiquem, muitas vezes, distantes dos problemas reais de quem já convive com a crise do clima, elas depositam nos acordos alguma esperança.
“A gente sabe que tem muita coisa que ainda precisa avançar, mas eu acho que essa COP no Brasil tem me dado esperança, tanto por causa das mobilizações que os brasileiros têm feito, quanto também porque a gente está cobrando e falando mais alto”, diz Nefertari.
“Se você não é um bilionário, se você não pode comprar um bunker para se defender, a única coisa que a gente pode fazer é acreditar nisso daqui”, finaliza Menezes.
