Laurent Freixe (à esq.) foi demitido por manter um relacionamento secreto com uma funcionária; Philipp Navratil (dir.) assume
Nestlé
A saída de Laurent Freixe do comando global da Nestlé, anunciada nesta segunda-feira (1º), agitou o mundo corporativo e ganhou repercussão internacional. A decisão veio após uma investigação interna apontar que o executivo mantinha um relacionamento amoroso com uma funcionária que estava sob sua supervisão direta, conduta proibida pelo Código de Ética da companhia.
Na Suíça, país onde fica a sede da multinacional, o episódio ganhou ainda mais destaque. Jornais locais chegaram a especular sobre a identidade da funcionária e até sobre uma possível promoção recebida durante o período em que manteve o envolvimento com Freixe. (saiba mais abaixo)
A Nestlé, no entanto, não confirmou essas informações, limitando-se a afirmar que a decisão foi difícil, mas necessária para preservar a governança e os valores da empresa.
A saída inesperada do executivo também reacendeu o debate sobre os limites entre vida pessoal e profissional dentro das corporações.
Para esclarecer as principais dúvidas, o g1 preparou um conjunto de perguntas e respostas com o que já se sabe sobre o caso e o que prevê a legislação brasileira em situações semelhantes.
Abaixo, saiba:
Como o relacionamento foi descoberto?
Quem é a funcionária envolvida?
Qual foi a trajetória de Laurent Freixe na Nestlé?
Quem vai comandar a Nestlé agora?
O que a Nestlé disse sobre a decisão?
Como a lei brasileira trata relacionamentos no trabalho?
1. Como o relacionamento foi descoberto?
Segundo o portal suíço SRF, o conselho de administração da Nestlé foi informado pela primeira vez sobre a suspeita de um relacionamento em maio deste ano, por meio dos canais internos de denúncia da companhia.
Na época, a empresa abriu uma investigação interna conduzida pela consultoria Gemium, que não encontrou evidências de má conduta, e Freixe negou o envolvimento.
Mais tarde, porém, surgiram novos relatórios internos. Diante disso, a Nestlé decidiu ampliar a apuração com o apoio de uma assessoria jurídica externa e independente. Foi somente nessa segunda investigação que o relacionamento foi confirmado, informou um porta-voz da companhia à agência AWP.
Essa nova investigação foi conduzida pelo presidente do conselho da Nestlé, Paul Bulcke, e pelo diretor independente Pablo Isla.
2. Quem é a funcionária envolvida?
A identidade da colaboradora não foi confirmada pela Nestlé.
Apesar disso, o portal suíço Inside Paradeplatz informou que ela trabalhava na área de marketing e que, um ano e meio depois de conhecer Freixe na sede da empresa, em Vevey, teria sido promovida a vice-presidente de marketing para as Américas.
Essa suposta promoção é um dos pontos que teria causado críticas, mas a empresa não confirmou essa versão.
3. Qual foi a trajetória de Laurent Freixe na Nestlé?
Francês, nascido em 1962, Freixe construiu toda sua carreira dentro da companhia. Ele ingressou em 1986 na divisão francesa e, ao longo das décadas, comandou operações em países como Hungria, Espanha, Portugal, Estados Unidos e México.
Em 2008, assumiu a vice-presidência executiva da Nestlé, cargo que o levou a liderar diferentes zonas geográficas. Em 2014, foi CEO da divisão Américas; em 2022, da América Latina; e, em 2024, tornou-se CEO global.
Fora da atuação corporativa, ficou conhecido pelo programa Nestlé Needs YOUth, iniciativa voltada para incentivar a empregabilidade jovem.
4. Quem vai comandar a Nestlé agora?
O substituto é Philipp Navratil, que está na empresa desde 2001. Ele começou como auditor interno e passou por diversas funções, liderando operações em Honduras e no México, além de comandar estratégias para marcas como Nescafé e Starbucks.
Mais recentemente, esteve à frente da Nespresso e, em janeiro de 2025, foi nomeado membro do conselho executivo. Agora, assume oficialmente a presidência global da companhia.
“Philipp é reconhecido por conseguir entregar resultados mesmo em ambientes desafiadores. Estamos confiantes de que ele vai impulsionar nossos planos de crescimento sem perder o ritmo”, disse Paul Bulcke, presidente do conselho.
Em seu primeiro pronunciamento, Navratil afirmou estar “honrado” com a nomeação:
“É um privilégio assumir a responsabilidade de liderar a Nestlé rumo ao futuro. Estou ansioso para trabalhar em alinhamento com o conselho e intensificar a criação de valor.”
5. O que a Nestlé disse sobre a decisão?
A empresa destacou que a demissão foi motivada pela violação do Código de Conduta, que veta relações entre superiores e subordinados diretos. O objetivo é proteger a governança e evitar qualquer tipo de favorecimento.
O presidente do conselho, Paul Bulcke, declarou:
“Os valores e a governança da Nestlé são fundamentos sólidos da nossa companhia. Agradeço a Laurent por seus anos de serviço.”
6. Como a lei brasileira trata relacionamentos no trabalho?
No Brasil, a CLT não aborda o tema e a Constituição garante o direito à intimidade e à vida privada. Por isso, impedir relacionamentos entre funcionários pode ser considerado abusivo.
Ainda assim, muitas empresas criam regras internas. É comum que códigos de ética restrinjam relações entre chefes e subordinados ou exijam discrição no ambiente de trabalho.
A advogada Cristina Pena explica: “Proibir que as pessoas se apaixonem é inconstitucional e fere os direitos fundamentais da personalidade. Mas é possível estabelecer regras sobre o comportamento dos funcionários em decorrência do namoro, para não prejudicar a produtividade.”
O advogado Ronaldo Ferreira Tolentino acrescenta que impor regras fora do ambiente corporativo pode ser interpretado como invasão de privacidade:
“Regulamentar fora do ambiente empresarial, ainda que seja entre dois funcionários da empresa, é a companhia se metendo na intimidade dos empregados.”
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