Em uma Gaza afetada pela fome, palestinos recorrem à carne de tartaruga

A França se tornou na quinta-feira passada o primeiro país do G7 a anunciar a intenção de reconhecer o Estado da Palestina. O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que formalizará a decisão na Assembleia Geral da ONU em setembro.

O G7 é um grupo que reúne sete países industrializados. São eles os Estados Unidos, o Reino Unido, a França, a Alemanha, a Itália, o Japão e o Canadá.

Israel e os EUA condenaram veementemente a decisão da França, afirmando que ela legitimaria o grupo radical palestino Hamas. Ambos os países, juntamente com a União Europeia e outros, classificam o Hamas como uma organização terrorista.

A França recebeu, porém, elogios da Espanha, que em maio de 2024 reconheceu o Estado palestino junto com a Noruega e a Irlanda, e outras nações do Oriente Médio, como a Arábia Saudita. A Autoridade Palestina (AP), que governa a Cisjordânia ocupada, também saudou a medida.

Após o anúncio de Macron, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, declarou que seu país está aberto a reconhecer o Estado palestino.

A maioria dos países do mundo já reconhece o Estado da Palestina, mas a oposição de algumas potências importantes é forte. Em 11 de maio de 2024, 143 dos 193 membros da Assembleia Geral das Nações Unidas votaram a favor de uma resolução que reconheceria a condição de Estado palestino.

A Palestina já possui status de observador não membro, mas a adesão plena à ONU só pode ser decidida pelo Conselho de Segurança da ONU. Em abril de 2024, os Estados Unidos, membro permanente do Conselho com poder de veto, bloquearam um projeto de resolução que recomendaria a concessão da condição de membro pleno à Palestina.

Os países que já reconheceram

A França será o 148º país a reconhecer oficialmente a Palestina como um Estado. Pouco menos da metade dessas nações o fez formalmente depois de novembro de 1988, quando a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) declarou oficialmente a Palestina um Estado independente. O apoio veio de países comunistas, como a União Soviética, e da China, bem como de países não alinhados, como a Iugoslávia e a Índia.

Logo outros países seguiram o exemplo. Na última década do século 20, muitas nações da Ásia Central, assim como a África do Sul, as Filipinas e Ruanda, estabeleceram relações diplomáticas com o Estado da Palestina.

No início dos anos 2000, Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela reconheceram oficialmente a Palestina como uma nação soberana. Em 2010 foi a vez de o Brasil reconhecer um Estado da Palestina dentro das fronteiras de 1967, o que inclui a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, e tendo Jerusalém Oriental como sua capital.

Em 2011, a Autoridade Palestina solicitou a adesão plena à ONU, mas o Conselho de Segurança rejeitou o pedido. No entanto, os esforços diplomáticos da AP, somados à frustração generalizada com o estagnado processo de paz com Israel, levaram mais de uma dúzia de países, incluindo Chile, Uruguai e Peru, a reconhecer a Palestina como um Estado.

Em 2011, a Palestina foi admitida como membro pleno da Unesco, marcando uma vitória para a diplomacia palestina. A Islândia tornou-se o primeiro país da Europa Ocidental a reconhecer a Palestina no mesmo ano, estabelecendo um precedente seguido em 2014 pela Suécia.

Acontecimentos recentes

Em 2024, as Bahamas, Trinidad e Tobago, a Jamaica e Barbados anunciaram o reconhecimento do Estado palestino.

Em junho de 2023, o México anunciou seu total apoio à criação de um Estado palestino e, pouco depois, o governo mexicano decidiu estabelecer uma embaixada nos territórios palestinos, com todos os privilégios e imunidades concedidos a missões diplomáticas.

Em 2023, a Bolívia cortou relações diplomáticas com Israel por causa da guerra em Gaza, argumentando que Israel estava cometendo crimes contra a humanidade.

Em 2018, a Colômbia declarou a Palestina uma nação soberana, pouco antes do término do mandato do presidente Juan Manuel Santos. Desde o início da ofensiva israelense em Gaza, o país sul-americano, que exportou 1 bilhão de dólares em mercadorias para Israel em 2023, reduziu suas relações políticas e econômicas com Israel. Em 2024 o presidente colombiano, Gustavo Petro, cortou relações diplomáticas com Israel e, recentemente, ordenou a abertura de uma embaixada na cidade palestina de Ramallah, na Cisjordânia ocupada.

Qual a posição das nações do Ocidente?

Os Estados Unidos, o Canadá, a Austrália, o Reino Unido, muitos países da Europa Ocidental e seus aliados Japão e Coreia do Sul apoiam oficialmente o conceito de um Estado palestino independente coexistindo com Israel como uma solução para o conflito no Oriente Médio. No entanto, muitos afirmam que só reconhecerão a Palestina como nação independente no âmbito de um acordo de paz abrangente.

No entanto, o especialista em Oriente Médio Hugh Lovatt, do think tank europeu ECFR, disse à DW que outros países europeus poderiam se unir à França no reconhecimento de um Estado palestino. Ele prevê que Bélgica, Dinamarca, Luxemburgo e talvez Portugal possam seguir o exemplo.

Já a Alemanha, como uma das maiores apoiadoras de Israel na UE, dificilmente mudará sua posição. “Bem, nunca diga nunca, mas acho que os alemães já deixaram bem claro que estarão entre os últimos a reconhecerem o Estado palestino”, disse.

Nesta segunda-feira, em conversa telefônica com o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, o chanceler federal alemão, Friedrich Merz, reiterou que o reconhecimento do Estado palestino não está na agenda do governo em Berlim e que o governo alemão continua a vê-lo como “um dos passos finais no caminho para alcançar uma solução de dois Estados”.

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