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Em meio a derrotas no Congresso e à baixa popularidade nas pesquisas, o PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiram intensificar a ofensiva política em defesa do que chamam de “justiça tributária”. O partido lançou nesta quinta-feira (26) um vídeo que defende o projeto do governo de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês e reforça o discurso de que os mais ricos precisam pagar mais.

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No vídeo, o PT usa a sigla BBB — uma alusão ao reality show da TV Globo — para se referir a “bilionários, bancos e bets”, alvos que, segundo o partido, devem ser mais tributados para financiar a isenção aos mais pobres. A peça é parte de uma série com ao menos cinco vídeos, que serão divulgados nos canais do partido. A campanha é coordenada pelo secretário de Comunicação, Jilmar Tatto.

Pela rede social, o presidente Lula também divulgou nesta quinta (27) uma sequência em quadrinho para explicar que o seu governo quer é “justiça tributária” e não aumentar imposto. “Muita gente está falando em imposto no Brasil nos últimos dias. É importante entender o que de fato está sendo proposto. O governo quer fazer mudanças tributárias combatendo privilégios e injustiças. É tornar o sistema mais justo. É simples: quem tem mais, paga – proporcionalmente – mais. Quem tem menos, paga menos”, diz a postagem.

A estratégia faz parte de um reposicionamento do governo Lula, que tenta recuperar apoio popular às vésperas da eleição municipal de 2026. A ideia é usar temas como taxação dos ricos, fim da jornada de trabalho 6×1 e combate aos supersalários como bandeiras de enfrentamento aos privilégios, retomando um discurso clássico da esquerda.

Dentro do Planalto, há o diagnóstico de que o discurso da “defesa da democracia” perdeu apelo entre os eleitores e que o bolsonarismo empurrou esse tema para a esquerda. A aposta, agora, é em pautas com potencial de mobilização popular, mesmo que encontrem resistência no Congresso.

“O Lula sempre foi um presidente que olhou para o povo trabalhador, o povo mais pobre”, afirmou o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ). Para ele, chegou a hora de “ter nitidez política” sobre a desigualdade tributária no país. “Essa é a posição do presidente Lula e a posição que nós vamos assumir.”

Adesão popular à taxação dos mais ricos

Segundo aliados do governo, a pauta da taxação dos ricos tem mais apelo social do que a isenção do IR para os mais pobres. Pesquisa Datafolha divulgada em abril mostra que 76% dos brasileiros apoiam cobrar mais IR de quem ganha acima de R$ 50 mil por mês. Já a proposta de isenção para quem ganha até R$ 5 mil conta com apoio de 70%.

A proposta do Ministério da Fazenda prevê a criação de uma cobrança para cerca de 141 mil pessoas que ganham mais de R$ 600 mil por ano, grupo que hoje paga, em média, menos de 10% de IR efetivo.

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad tem defendido a agenda desde o início do governo. Ao comentar as medidas de arrecadação para cumprir o arcabouço fiscal, citou o aumento de taxação sobre fintechs, apostas online e fundos exclusivos como medidas que atingem “os moradores da cobertura”.

Supersalários e jornada de trabalho

Na tentativa de ampliar o campo de batalha, o governo também deve apoiar medidas como o fim da jornada de trabalho 6×1 e o combate aos supersalários no serviço público. A proposta de reduzir a carga de trabalho semanal foi mencionada por Lula em pronunciamento no Dia do Trabalho. Uma PEC sobre o tema foi apresentada pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), mas ainda não tem o apoio explícito do Planalto.

Sobre os supersalários, a Fazenda estuda apoiar projetos já em tramitação no Congresso. Um dos textos está parado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado desde 2021.

Responsabilidade do Congresso

A base governista também tem buscado jogar para o Congresso a responsabilidade por medidas impopulares. A derrubada de vetos presidenciais que barravam a contratação obrigatória de usinas termelétricas, por exemplo, pode adicionar R$ 35 bilhões ao ano na conta de luz pelos próximos 15 anos. O Planalto pretende usar esse tema para reforçar que o Congresso tem atuado contra o interesse do consumidor e a sustentabilidade fiscal.

Mesmo sem maioria no Legislativo, o governo tenta construir uma narrativa de que está do lado dos mais pobres e luta contra privilégios. A ofensiva midiática do PT e o reposicionamento estratégico do governo mostram que Lula quer transformar o embate fiscal em embate político — e eleitoral.

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