Donald Trump chegou na noite desta sexta-feira 25 à Escócia para uma visita que combina compromissos diplomáticos e negociações comerciais com sua grande paixão: o golfe. Um forte esquema de segurança foi montado devido à convocação de diversos protestos contra a visita do ex-presidente dos Estados Unidos. Além de jogar golfe, Trump se reunirá no domingo 27 com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e também deve encontrar-se com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer.
O republicano desembarcou no aeroporto de Prestwick, próximo a Glasgow, pouco antes das 20h30 (horário local), e seguiu diretamente para Turnberry, um dos dois luxuosos campos de golfe na Escócia pertencentes à Trump Organization, empresa da família administrada por seus filhos.
Trump deve dedicar seu primeiro dia na Escócia, neste sábado 26, ao golfe. O local está sob forte esquema de segurança, apesar de estar distante das manifestações anunciadas em várias cidades escocesas contra sua visita.
A chegada do ex-presidente transformou a pitoresca e geralmente tranquila região do sudoeste da Escócia em uma verdadeira fortaleza, com estradas bloqueadas e diversos pontos de controle montados pela polícia. Policiais e militares patrulhavam na manhã de sábado o histórico campo de golfe — que já sediou quatro edições do British Open masculino —, além das praias e dunas ao redor. Snipers foram posicionados em andaimes próximos, segundo constatou um jornalista da AFP.
A visita de cinco dias divide opiniões. Trump já expressou diversas vezes seu amor pela Escócia, terra natal de sua mãe, mas suas políticas e os investimentos locais do grupo familiar têm gerado polêmica entre moradores, ambientalistas e autoridades locais.
“Muitas pessoas não confiam em Trump, e eu sou uma delas. Acho que ele é um megalomaníaco”, protestou o aposentado Graham Hodgson.
Reforços mobilizados
Para a polícia escocesa, a chegada de Trump desencadeou uma operação de segurança de grande escala, com reforços vindos de outras forças policiais do país.
O grupo Stop Trump Coalition anunciou manifestações neste sábado nas proximidades do consulado americano em Edimburgo (sudeste), bem como em Aberdeen, onde Trump deve visitar o segundo complexo de golfe da Trump Organization.
Esse é apenas um dos muitos projetos da holding familiar ao redor do mundo, sobre os quais Trump já não tem controle legal. No entanto, críticos o acusam de conflito de interesses e de usar sua influência como ex-presidente para promover negócios da família, especialmente no exterior.
A polícia também se prepara para possíveis manifestações em Turnberry, onde Trump deve passar o dia jogando golfe no que ele chamou, na sexta-feira, de “o melhor campo do mundo”.
O primeiro-ministro da Escócia, John Swinney, afirmou que o país “mantém uma forte amizade com os Estados Unidos, que remonta a séculos”. Ele anunciou que se reunirá com Trump e que a visita é uma oportunidade para a Escócia “fazer sua voz ser ouvida sobre temas como guerra, paz, justiça e democracia”.
Protestos contra Trump na Escócia.
Foto: SCOTT HEPPELL / AFP
Negociações comerciais com a UE
“Estou na Escócia agora. Muitas reuniões previstas!!!”, publicou Trump em sua rede Truth Social logo após a chegada.
Trump não tem compromissos oficiais neste sábado. No domingo, ele se reunirá com Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, que busca um acordo para evitar tarifas adicionais de 30% anunciadas por Washington.
Ao desembarcar, Trump declarou à imprensa que as chances de um acordo com o bloco europeu eram “50%”, com divergências ainda em “cerca de 20 pontos diferentes”.
Ele também deve se afastar temporariamente dos campos de golfe para se encontrar com o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer. Os detalhes do encontro ainda não foram divulgados. Starmer, que não é adepto do golfe, está mais interessado em discutir temas como política comercial.
Em maio, Estados Unidos e Reino Unido anunciaram um acordo comercial que evitou tarifas elevadas ameaçadas por Trump. No entanto, Londres teme que o republicano promova “ajustes” nesse acordo. Trump já adiantou que a reunião com Starmer será “mais uma celebração do que uma sessão de trabalho”. “O acordo está fechado”, afirmou.
Apesar disso, antes de deixar Washington, Trump indicou que não pretende atender ao pedido britânico de reduzir tarifas sobre aço e alumínio. Até o momento, o Reino Unido está isento das tarifas de 50% aplicadas às importações pelos EUA. “Se eu fizer isso por um, terei que fazer por todos”, disse antes de embarcar.
A guerra em Gaza também deve entrar na pauta, especialmente após o presidente francês Emmanuel Macron anunciar que reconhecerá oficialmente o Estado da Palestina — decisão que aumentou a pressão sobre Starmer.
Críticas e polêmicas
Trump, de 79 anos, deve retornar ao Reino Unido em setembro para uma segunda visita de Estado — a primeira foi em 2019 — a convite do rei Charles III, em um evento que promete ser pomposo.
A visita à Escócia também o distancia fisicamente dos desdobramentos do polêmico caso Jeffrey Epstein, financista encontrado morto em sua cela em 2019, antes de ser julgado por crimes sexuais. Epstein mantinha laços com Trump, o que tem gerado críticas até de apoiadores, que exigem acesso aos documentos do caso.
Muitos seguidores do republicano defendem uma teoria conspiratória segundo a qual Epstein teria sido morto por um “Estado profundo” para proteger figuras influentes, especialmente do Partido Democrata e de Hollywood.
Trump negou, ao chegar à Escócia, ter sido informado pela procuradora-geral de que seu nome aparecia nos arquivos do caso. “Não, nunca fui informado”, afirmou, após o Wall Street Journal revelar a informação. O jornal, que publicou uma reportagem detalhando os vínculos entre Trump e Epstein, foi excluído da cobertura da viagem e está sendo processado por Trump.
Durante uma visita anterior, em 2023, Trump declarou que se sente em casa na Escócia, onde sua mãe, Mary Anne MacLeod, nasceu e viveu até emigrar para os EUA aos 18 anos.
(Com AFP)