A prefeitura de Ilhabela, no litoral de São Paulo, cancelou uma mesa sobre literatura negra que aconteceria na noite desta quarta-feira 22 na Feira Literária e de Aventura, que acontece até o sábado 25.
A mesa Escurecendo a Escrevivência através da Literatura seria conduzida pela escritora Rosângela Sebastião, idealizadora do projeto Coletivo Pretas Ilhabela, uma iniciativa de afroempreendedorismo para mulheres do litoral norte. A mesa também contaria com a participação de dois jovens escritores periféricos da região, Adrian Santos Lima e Mirelle Alves.
Em conversa com a reportagem de CartaCapital, Rosângela afirmou ter tomado conhecimento do cancelamento há apenas seis dias — sem, contudo, saber dos motivos por trás da decisão.
“Apenas foi dito que a minha mesa estava cancelada. Será que eu incomodo tanto assim?”, questionou. “A mesa trataria das vivências negras que encontram na arte e na literatura uma forma de expressar as suas vivências, as suas dores.”
“Seria um espaço para discutir as nossas literaturas e os nossos fazeres literários, que não necessariamente acontecem dentro de espaços acadêmicos. O sentimento é de tristeza.”
O cancelamento motivou uma nota de repúdio de coletivos negros, que classificaram a decisão como “um ato de apagamento simbólico e político das vozes negras”. “A literatura negra é um espaço de resistência, de cura e de afirmação identitária, e sua exclusão de um evento literário é um retrocesso inaceitável”, diz um trecho do documento.
A mesa sobre literatura negra foi substituída por uma nova programação, conforme o calendário oficial da Flai 2025, que anuncia uma roda de conversa com a participação de Noemi Petarnella, presidente da Associação do Movimento Afrodescendente de Ilhabela, e de Eloiza Lourenço dos Santos, diretora de Patrimônio Histórico e Cultural da prefeitura de Ilhabela.
A prefeitura sustenta que a decisão de cancelar a atividade partiu do secretário de Cultura, Marcos Batista, para quem o encontro deveria ocorrer na Tenda dos Povos, que sediará a nova atividade. O espaço, segundo a gestão de Toninho Colluci (PL), teria sido criado para dar visibilidade à diversidade cultural do município e da região. A organização, defendeu a prefeitura, teria o objetivo de assegurar que todas as iniciativas fossem contempladas de maneira equitativa, respeitosa e integrada.