Já se passou mais de um mês desde que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), viralizou comendo banana com casca, mas o episódio segue grudado à sua imagem – e ele continua escorregando na própria estratégia.
Com popularidade restrita ao seu estado e desempenho nacional pífio, Zema tenta se viabilizar como alternativa da direita para 2026. O problema é que, por enquanto, sua tática oscila entre um confronto forçado com o presidente Lula (PT) e gestos que o fazem parecer mais um político performático do que um presidenciável competitivo.
Segundo uma pesquisa Genial/Quaest, realizada entre 19 e 23 de fevereiro em oito estados que concentram 62% do eleitorado, Zema lidera em Minas Gerais com 21% das menções quando os eleitores são questionados sobre o nome mais forte para enfrentar Lula em 2026. Mas a vantagem é curta: a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e Pablo Marçal aparecem com 15% cada, enquanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), marca 13%.
Basta ultrapassar as montanhas mineiras para o cenário mudar drasticamente. Em São Paulo, Zema tem apenas 2%, enquanto Tarcísio lidera com 32%. No Rio de Janeiro, Michelle Bolsonaro domina com 27%, e Zema amarga 1%. O mesmo se repete no Rio Grande do Sul, Pernambuco e Goiás, onde seu desempenho é insignificante.
Nem entre os bolsonaristas ele empolga. Uma pesquisa da ONG More in Common, realizada no fiasco de manifestação da extrema-direita no último domingo, em Copacabana, mostrou que Tarcísio tem 42% da preferência desse público, seguido por Michelle (21%). Zema? Meros 2%.
Para piorar, o governador mineiro saiu enfraquecido das eleições municipais, errando sucessivamente em suas apostas em Belo Horizonte. Seu apoio a Mauro Tramonte (Republicanos) fracassou no primeiro turno, e sua aliança com Bruno Engler (PL) no segundo tampouco vingou.
Enquanto isso, os governadores de São Paulo, Tarcisio de Freitas; do Paraná, Ratinho Júnior (PSD); e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), saíram fortalecidos, vencendo as eleições nas capitais e se posicionando como os principais nomes da direita para 2026, no vácuo da inelegibilidade de Bolsonaro.
Ciente da necessidade de ampliar sua projeção nacional, Zema resolveu partir para o embate direto com Lula. Mas fez isso de maneira desajeitada, ignorando a tradicional hospitalidade mineira.
Na terça-feira 11, durante eventos na fábrica da Stellantis, em Betim, e na Gerdau, em Ouro Branco, atacou o governo federal, criticando a política econômica do petista e insinuando que ele estaria inchando a máquina pública.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, retrucou com ironia: “Presidente, eu sei que o senhor gosta de comer banana com casca, mas o que o senhor faz mesmo é descascar grandes abacaxis em favor dos brasileiros”.
O presidente Lula (PT) e o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (NOVO). Foto: CanalGOV/Reprodução
O desconforto com Zema não ficou apenas nos discursos. A primeira-dama, Janja da Silva, assistiu à fala do governador na Fiat de braços cruzados, sem olhá-lo. À tarde, na Gerdau, simplesmente deixou o palco enquanto ele discursava.
A guinada na postura de Zema tem um nome por trás: Renato Pereira, seu novo marqueteiro, contratado no início de 2025 para dar ao governador um perfil nacional. Pereira tem no currículo campanhas de figuras como o ex-governador (e ex-presidiário) Sérgio Cabral e o deputado federal Aécio Neves (PSDB). Ele substituiu Leandro Groppô, responsável pelas bem-sucedidas campanhas de Zema em 2018 e 2022.
O problema é que, até agora, os resultados têm sido desastrosos. Na tentativa de viralizar nas redes sociais, Zema publicou o famoso vídeo comendo banana com casca para protestar contra a alta dos preços dos alimentos.
Justificou dizendo que havia consultado uma nutricionista e descoberto que a casca também é comestível. O que poderia ter sido apenas uma ação de engajamento digital virou piada nacional. Para quem passa fome, o ato simbólico pareceu perverso.
O ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), ironizou: “As redes sociais do governador parecem um episódio de Teletubbies”. Se a intenção era atrair os holofotes, Zema conseguiu – mas não do jeito que esperava.
O grande problema do governador mineiro é a falta de uma identidade clara dentro da direita. Se bate forte em Lula, arrisca parecer um bolsonarista genérico. Se tenta se diferenciar, não empolga o eleitorado radical.
As pesquisas mostram que seu nome não tem força nacional e, mesmo em Minas Gerais, Michelle Bolsonaro e Pablo Marçal já aparecem competitivos.
Em sua cruzada nas redes sociais, Zema já escorregou em outras cascas de banana. Compartilhou frase do líder fascista Benito Mussolini e classificou a Inconfidência Mineira como um golpe. “Estudar de menos e opinar demais: essa é a maior desgraça do brasileiro”, escreveu certa vez, citando o falecido guru bolsonarista Olavo de Carvalho.
O presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, acredita que Zema é uma ‘jóia’, mas entende que o desafio é torná-lo conhecido. “De todos os governadores pré-candidatos que estão por aí, ele é o menos conhecido”, afirmou, em entrevista à revista Crusoé.
Enquanto isso, a direita segue sem uma liderança natural para 2026. Bolsonaro está inelegível, Michelle resiste a assumir um papel de protagonista e Tarcísio ainda tenta equilibrar sua posição entre bolsonaristas e o establishment político. Os coringas como Pablo Marçal e o cantor Gusttavo Lima começam a aparecer.
Zema, por sua vez, continua tentando forçar uma relevância que as pesquisas insistem em negar. Mas se a melhor cartada até agora foi comer banana com casca, talvez seja hora de repensar sua estratégia. Afinal, do jeito que vai, a única coisa que ele está descascando é a própria reputação.