
O plano de paz dos Estados Unidos para pôr fim à guerra russo-ucraniana inclui a adesão de Kiev à União Europeia (UE), com efeito a partir de janeiro de 2027, disse à AFP, nesta sexta-feira 12, um funcionário do alto escalão familiarizado com o assunto.
O processo de adesão à UE costuma levar anos e requer o voto unânime dos 27 membros do bloco. Mas alguns países, como a Hungria, se opuseram sistematicamente ao ingresso da ex-república soviética.
A ideia de uma adesão rápida faz parte da última versão de um plano dos Estados Unidos para encerrar a guerra, iniciada com a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
O projeto de Washington implicaria, além disso, a cessão de territórios ucranianos à Rússia, e desencadeou um frenesi diplomático na Europa nas últimas semanas.
“Está estipulado, mas é uma questão de negociação, e os americanos são favoráveis”, disse o funcionário, que falou sob condição do anonimato.
Enquanto isso, europeus e ucranianos pedem que os Estados Unidos lhes deem “garantias de segurança” antes de que a Ucrânia negocie qualquer concessão territorial, informou a Presidência francesa.
“Precisamos de total transparência sobre as garantias de segurança que os europeus e os americanos podem oferecer aos ucranianos antes de qualquer acordo sobre questões controversas”, apontou o Palácio do Eliseu.
Washington tem a influência necessária para convencer os dirigentes que se opõem à adesão da Ucrânia a mudar de postura, declarou na quinta-feira o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky.
“Os Estados Unidos podem tomar medidas para desbloquear nosso caminho rumo à União Europeia”, afirmou Zelensky em uma coletiva de imprensa, acrescentando que “o presidente americano dispõe de diversas alavancas de influência e isso terá efeito sobre aqueles que atualmente bloqueiam a Ucrânia”.
Kiev vem lutando há tempos para entrar na UE e realizou uma série de reformas nesse sentido desde a revolução pró-europeia de 2014. Mas o país ainda enfrenta dificuldades para pôr fim à corrupção endêmica, um requisito básico para ingressar no bloco.
‘Um processo longo’
Após um giro diplomático pela Europa na semana passada, Zelensky viajará na segunda-feira a Berlim para novas conversas sobre o plano americano.
O mandatário ucraniano será recebido pelo chefe de governo alemão, Friedrich Merz, e outros líderes europeus estarão presentes, segundo seu porta-voz.
Moscou indicou, nesta sexta-feira, que suspeita de esforços para modificar o plano dos Estados Unidos, ao qual tem demonstrado apoio em grande medida.
“Temos a impressão de que esta versão, que está sendo apresentada para debate, vai piorar”, declarou Yuri Ushakov, assessor de política externa do Kremlin, ao jornal econômico Kommersant.
“Será um processo longo”, acrescentou, detalhando que Moscou viu uma versão atualizada do plano desde as conversas entre o presidente russo, Vladimir Putin, e os enviados americanos, Steve Witkoff e Jared Kushner, na semana passada.
Zelensky afirmou na quinta-feira que Washington quer apenas que a Ucrânia, e não a Rússia, retire suas tropas de partes da região oriental de Donetsk, onde seria criada uma “zona econômica livre” desmilitarizada.
