O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou um crescimento de 0,4% no segundo trimestre de 2025 em comparação com o trimestre anterior, totalizando R$ 3,2 trilhões. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (2).
O resultado indica uma desaceleração no ritmo de expansão da atividade econômica, influenciada pela menor contribuição da agropecuária e pelo efeito das altas taxas de juros. As altas nos setores de serviços (0,6%) e da indústria (0,5%) compensaram a variação negativa da agropecuária (-0,1%).
Pela ótica da demanda, o consumo das famílias cresceu 0,5%, enquanto o consumo do governo recuou 0,6% e os investimentos caíram 2,2%.
Segundo a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, a variação positiva indica uma perda de fôlego da economia. “Era um efeito esperado a partir da política monetária restritiva (alta nos juros) iniciada em setembro do ano passado. A indústria de transformação e a construção, que dependem de crédito, são mais afetadas nesse cenário”, avalia.
Ela também destaca que os efeitos negativos na construção e na produção de bens de capital ajudam a explicar a queda nos investimentos. Palis explica que o setor de serviços é menos afetado por essa política. “Foi uma alta disseminada, puxada pelas atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados, informação e comunicação, impulsionado pelo desenvolvimento de software, e transporte, armazenagem e correio, puxado por transporte de passageiros”, diz.
No lado da demanda, o consumo das famílias e o setor externo sustentaram o crescimento do PIB, já que houve queda no consumo do governo. “O total de salários reais segue crescendo e há uma manutenção dos programas governamentais de transferência de renda, o que contribui para o consumo das famílias”, avalia a coordenadora.
Pelo setor externo, a alta nas exportações também contribuiu para o resultado positivo. “Está sendo um ano bom para o agro e para a indústria extrativa, que são commodities que o país exporta”, explica Palis.
Em nota, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda apontou que a perda de ritmo da economia já era esperada.
Só o PIB da agropecuária acelera no comparativo anual
Na comparação com o mesmo período do ano anterior, o PIB desacelerou de 3,5% para 3,2%. O PIB agropecuário, no entanto, avançou 5,8%, ante alta de 1,8% no primeiro trimestre. Os demais setores perderam força nessa métrica: o crescimento da indústria passou de 3,1% para 2,4%, e a expansão dos serviços foi de 3,3% para 2,9%.
O ritmo de expansão do consumo das famílias caiu de 4,2% para 3,4%, o consumo do governo de 1,2% para 1,0%, e o investimento de 8,8% para 8,3%. As exportações e importações também desaceleraram.
Economia brasileira deve reduzir o ritmo na segunda metade de 2025
Após um início de ano mais robusto, as projeções do mercado convergem para uma desaceleração, e o PIB deve encerrar o ano com uma expansão moderada, entre 2,0% e 2,2%. O patamar, embora positivo, sinaliza uma clara perda de ritmo.
Instituições como Daycoval, Itaú e XP Investimentos alinharam suas projeções em 2,2%, enquanto o Inter prevê um avanço de 2,0%. O consenso é que, sem novos estímulos ou uma queda mais rápida dos juros, o crescimento não terá força para decolar no curto prazo.
Juros altos são o principal freio para a expansão da economia
O principal fator por trás dessa moderação é a política monetária restritiva do Banco Central. A manutenção da taxa Selic em patamar elevado impacta diretamente a atividade econômica de duas formas principais.
O primeiro é a queda no investimento. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) — que representa a compra de máquinas, equipamentos e o avanço da construção civil — tem recuado de forma acentuada, pois com juros altos e maior incerteza, as empresas adiam planos de expansão.
O segundo é o enfraquecimento do consumo. O consumo das famílias, embora resiliente, também desacelera, especialmente em bens que dependem de crédito, como veículos e eletrodomésticos. A lentidão na queda da inflação e um mercado de trabalho aquecido mantêm o índice de preços acima da meta, o que adia cortes mais agressivos nos juros.
Tarifaço americano e incerteza fiscal pesam no cenário
Completando o quadro, o ambiente externo contribuiu positivamente até agora, mas os efeitos do tarifaço aplicado desde o dia 6 elos Estados Unidos já devem ser sentidos no resultado do terceiro trimestre.
Internamente, a incerteza fiscal permanece como um fator de risco. A ausência de mecanismos claros de controle para as despesas públicas, especialmente em ano de eleições, gera desconfiança no mercado e pode manter os juros futuros em patamares elevados. A resiliência dos serviços e a força do mercado de trabalho funcionam como amortecedores, mas sem um alívio significativo nos juros, a tendência de moderação deve se consolidar.