A Petrobras iniciou a perfuração do bloco 59 da bacia Foz do Amazonas no exato dia em que o Ibama concedeu a licença para a pesquisa de petróleo na região. O início das operações ocorreu na última segunda (20), conforme ofício encaminhado pela própria estatal ao órgão ambiental.
A apuração, segundo a Folha de S. Paulo e a CNN Brasil, aponta que “a perfuração do poço exploratório […] teve início em 20/10/2025”, sem que o horário exato fosse informado. À Gazeta do Povo, o Ibama confirmou o início da operação no mesmo dia da emissão da autorização.
“O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) confirma o início da perfuração do poço Morpho em 20 de outubro, conforme comunicado pelo empreendedor na mesma data, em atendimento a condicionante contida no processo de licenciamento ambiental mencionado”, disse o órgão em nota.
A Petrobras não respondeu à reportagem até a última atualização.
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A coincidência chama a atenção pelo imediatismo da perfuração. Segundo o sistema do Ibama, a Licença de Operação foi assinada pelo presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, às 12h14, enquanto que a Petrobras declarou que a atividade começou “após a concessão de licença pelo Ibama”.
A Petrobras já mantinha a sonda de perfuração posicionada no local desde agosto, realizando simulações de emergência exigidas pelo processo de licenciamento. Com a licença finalmente publicada, segundo as apurações, a petroleira deu início imediato à perfuração, em uma operação que visa apenas à pesquisa — sem produção de petróleo nesta etapa.
O documento de autorização afirma que não há impedimentos ao empreendimento, desde que cumpridas 34 condicionantes ambientais, incluindo planos de proteção à fauna e à flora, além de resposta a emergências. O Ibama também determinou que a Petrobras invista R$ 39,6 milhões em compensações ambientais.
Um dos principais pontos de discussão durante o processo de licenciamento foi a capacidade de resposta da empresa em caso de vazamentos. O parecer técnico final do órgão destacou que o principal barco de apoio, baseado no Pará, levaria até 55 horas para chegar ao local, mas a estatal garantiu que uma embarcação mais ágil poderá realizar o primeiro atendimento em até 26 horas.
“Após o indeferimento do requerimento de licença em maio de 2023, Ibama e Petrobras iniciaram uma intensa discussão, que permitiu significativo aprimoramento substancial do projeto apresentado, sobretudo no que se refere à estrutura de resposta a emergência”, declarou o órgão na nota informativa que acompanhou a autorização.
Entre as melhorias exigidas e implementadas estão a construção de um novo Centro de Reabilitação e Despetrolização (CRD) de grande porte em Oiapoque (AP), que se soma ao já existente em Belém (PA), além da inclusão de três embarcações offshore dedicadas ao atendimento da fauna atingida por óleo e quatro embarcações nearshore para apoio emergencial.
“As exigências adicionais para a estrutura de resposta foram fundamentais para a viabilização ambiental do empreendimento, considerando as características ambientais excepcionais da região da bacia da Foz do Amazonas”, reforçou o Ibama. Durante a atividade de perfuração, será realizado um novo exercício simulado de emergência, com foco nas estratégias de atendimento à fauna, a fim de comprovar a eficácia das medidas adotadas.
A região onde o poço de pesquisa começou a ser perfurado fica a 500 km da foz do rio Amazonas e a 175 km da costa, na margem equatorial brasileira. O bloco é considerado a nova fronteira exploratória de petróleo do país e crucial para repor a queda estimada da produção para os próximos anos, com um potencial de produzir 10 bilhões de barris de óleo equivalente.
Um levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima uma renda de R$ 175 bilhões no PIB brasileiro, com geração de 495 mil empregos.
“A ampliação das atividades na Margem Equatorial pode, portanto, contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento regional e para a redução das desigualdades socioeconômicas nas regiões Norte e Nordeste”, afirmou a entidade em nota.