O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, pediu nesta terça-feira 29 à embaixada dos Estados Unidos em Bogotá para “não interferir na justiça” de seu país, após Washington criticar a condenação do ex-presidente Álvaro Uribe por suborno de testemunhas.
Na segunda-feira, Uribe se tornou o primeiro ex-chefe de estado colombiano condenado em um julgamento penal. Ele foi declarado culpado de pressionar um paramilitar para que testemunhasse a seu favor e o desvinculasse desses esquadrões de extrema direita que enfrentavam as guerrilhas durante os piores anos do conflito armado na Colômbia.
O ex-presidente, que anunciou que apelará da sentença, é um antigo aliado de Washington. O chefe da diplomacia americana, Marco Rubio, denunciou na segunda-feira uma “instrumentalização do poder judicial colombiano por parte de juízes radicais”.
O presidente de esquerda Petro, que mantém uma relação tensa com seu par americano Donald Trump, qualificou o posicionamento como uma “interferência na soberania nacional”.
“Solicito à embaixada dos Estados Unidos na Colômbia não interferir na justiça de meu país”, disse Petro na terça-feira, em resposta a uma mensagem dessa representação que replica as palavras de Rubio.
Em um evento público, Petro também criticou os congressistas republicanos que se uniram a Uribe.
“Por que abaixar a cabeça para um congressista que vai insultar nossos juízes hoje? […] Ou será que voltamos a ser colônia?”, disse o presidente em um ato em Santa Marta, no norte do país.
Segundo Petro, a Justiça da Colômbia está sendo “agredida por um governo estrangeiro”.
Em uma recente escalada na tensão diplomática, Colômbia e Estados Unidos chamaram para consultas seus máximos representantes diplomáticos em Bogotá e Washington.
Petro chegou a incluir Rubio em um suposto complô golpista da “extrema direita” colombiana e americana, mas depois se retratou.
No entanto, as relações já estavam deterioradas desde janeiro, quando Bogotá se recusou a receber um avião americano com deportados colombianos, denunciando maus-tratos contra seus cidadãos.
O governo Trump deve decidir nos próximos meses se renovará a certificação colombiana como aliada na luta contra o narcotráfico enquanto o país acumula recordes de cultivos ilegais.
Durante o seu governo, Uribe (2002-2010) implementou, com apoio de Washington, o “Plano Colômbia”, uma ofensiva sem precedentes contra a agora extinta guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Sua política de linha-dura contra as guerrilhas fez com que Uribe conquistasse popularidade, embora também tenha sido alvo de acusações de violações aos direitos humanos e vínculos com paramilitares.