Vivemos em uma era marcada por contradições profundas. Por um lado, a humanidade nunca teve tanto acesso à informação, tecnologia e recursos para construir uma sociedade mais justa e sustentável. Por outro, testemunhamos o crescimento da intolerância, o recrudescimento de ideologias neofascistas, guerras brutais e uma crise ambiental sem precedentes. A pergunta que se impõe é: a que se deve tanta barbárie em pleno século XXI? e, mais importante ainda: como resistir e transformar esse status quo?
As raízes da Intolerância e do ódio
A escalada da intolerância e do discurso de ódio não é um fenômeno aleatório. Ela está ligada a fatores estruturais, muitos deles agravados pelas dinâmicas do capitalismo tardio e pela crise da democracia liberal:
Crise econômica e desigualdade social
A concentração de riqueza, o desemprego estrutural e a precarização do trabalho alimentam frustrações que são frequentemente canalizadas para bodes expiatórios—imigrantes, minorias raciais, LGBTQIA+, mulheres e outros grupos vulneráveis.
A exploração do medo pela política
Líderes autoritários e movimentos neofascistas se aproveitam do medo e da insegurança para promover agendas de exclusão, vendendo soluções simplistas para problemas complexos. O discurso do “inimigo interno” (seja ele o comunismo, o globalismo ou as minorias) serve para unir parcelas da população em torno de um projeto de poder antidemocrático.
A fragmentação das redes sociais
As plataformas digitais, em vez de promoverem o diálogo, muitas vezes funcionam como câmaras de eco que radicalizam indivíduos. O algoritmo privilegia conteúdos extremistas porque geram engajamento, criando bolhas onde o ódio se normaliza.
A crise ambiental e o colapso imaginado
À medida que os recursos naturais se tornam mais escassos e os desastres climáticos mais frequentes, setores reacionários promovem narrativas xenófobas e nacionalistas, culpando os mais pobres pela degradação ambiental em vez de questionar o modelo de produção predatório.
O Neofascismo no Século XXI
O neofascismo contemporâneo não usa necessariamente uniformes nem saúda líderes com braços estendidos, mas compartilha a mesma essência: a rejeição da democracia pluralista, o culto à hierarquia, a glorificação da violência e a perseguição a dissidentes. Ele se adapta aos novos tempos, usando a linguagem da liberdade (“liberdade de expressão”, “contra a censura”) para defender a opressão.
Governos como os de Bolsonaro (Brasil), Trump (EUA), Orbán (Hungria), Meloni (Itália) e Milei (Argentina) demonstram como o neofascismo se infiltra nas instituições democráticas, corroendo-as de dentro para fora. A estratégia inclui:
– Ataques à imprensa livre (acusando veículos críticos de “fake news”);
– Judicialização da política (usando o sistema legal para perseguir opositores);
– Militarização da sociedade (encorajando armamentismo e violência política);
– Nostalgia de um passado idealizado (como o mito do “Brasil grande” ou o “Make America Great Again”).
Como resistir e construir alternativas?
Diante desse cenário, a resistência precisa ser multifacetada:
Organização popular e solidariedade de classe
A única força capaz de frear o avanço autoritário é a mobilização coletiva. Movimentos sociais, sindicatos, coletivos antirracistas e ecológicos devem fortalecer redes de apoio mútuo.
Combate à desinformação
É essencial promover educação midiática e apoiar veículos independentes que façam jornalismo crítico, desmontando narrativas fascistas.
Para tal, a curto prazo, aqui no Brasil é necessário que a comunicação institucional do governo federal destine à mídia “progressista”, no mínimo, o mesmo montante das verbas publicitárias destinadas à ‘grande mídia’ que tenta sabotar os governos que não “obedecem” às suas ordens.
Projetos políticos de esperança
A esquerda precisa oferecer uma visão de futuro que vá além da mera resistência. Um programa que una justiça social, transição ecológica e democratização da mídia pode ser um contraponto atraente ao discurso do ódio.
Internacionalismo
O neofascismo é um fenômeno global, e só será derrotado com solidariedade transnacional. Coalizões entre movimentos progressistas de diferentes países são fundamentais.
Cuidado coletivo e afeto político
Em tempos de tanto ódio, cultivar espaços de acolhimento e afeto é um ato revolucionário. A arte, a cultura e a ocupação dos espaços públicos são armas contra a desumanização promovida pelo fascismo.
A História não está escrita
Apesar da escuridão do presente, a história não é linear nem predeterminada. O fascismo já foi derrotado antes, e pode sê-lo novamente—mas não sem luta. Estamos vivendo tempos de crise, mas também de possibilidade. Cabe a nós decidir se seremos espectadores do colapso ou agentes de transformação.
Como disse Bertolt Brecht:
“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.”
É hora de romper as margens da opressão e construir um novo curso.
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