Atritos entre a Amazon e os produtores de James Bond levaram a big tech a fechar um contrato cheio de zeros para assumir o controle criativo sobre os filmes da saga 007. No X, rede social de Elon Musk, o maior acionista da Amazon, Jeff Bezos, perguntou aos seguidores quem eles queriam que protagonizasse o agente com licença para matar. A resposta deve ser dada ainda esse ano, mas muitas dúvidas persistem: Bond irá mudar seus hábitos de comer e beber? Trocará as champagnes com caviar pelo quê? O fígado será mais seletivo? O requinte de outrora ficou no passado?
Sem Tempo para Morrer, último filme do agente secreto com licença para matar, o vigésimo quinto da série, com Daniel Craig em sua última aparição como James Bond, teve um final impactante (e um quê premonitório com o controle criativo da Amazon), mas foi brindado pelo espião, nascido na guerra fria e agora às voltas com terroristas sem pátria, com uma garrafa de bordeaux: Château Angelus, bebida quando ele chega de surpresa à casa de M, que estava preparando o jantar. O mesmo bordeaux tinha sido o escolhido da estreia de Craig no papel, em Casino Royale. No trem em que o leva a Montenegro, onde irá disputar partidas de pôquer, Bond pede uma garrafa de Château Ângelus 1982 para acompanhar o cordeiro que ele e Vesper comem.
Na hora de gravar Casino Royale, os produtores da série ligaram para o proprietário do renomado château, um dos principais de Bordeaux, Hubert de Bouard sugeriu a safra 1990, outra das maiores da história. Agradeceram, mas fizeram um pedido: James Bond tem um apreço especial pela safra 1982, que começa a ganhar maturidade agora. Pedido aceito. Bouard veria as garrafas de Ângelus 1982 subirem de preço depois da aparição, segundo reportagem da inglesa Decanter no fim de 2006, quando Casino Royale chegou à telona.
Além do dry Martini e dos tintos, a maior paixão do agente secreto são os champagnes. Aí sobra diversidade: em Dr. No e em Goldfinger, Dom Pérignon (LVHM do Brasil) é a eleita, sendo que Bond revela sua preferência pela safra 1953. No início de Goldfinger, quando está na cama com sua primeira loira do filme, ele fica indignado com a temperatura da garrafa. Ameaça levantar da cama, mas ela quer que ele continue. “Há coisas que não se podem fazer na vida, uma delas é beber Dom Pérignon na temperatura errada”, diz Bond, indo para a geladeira, onde em segundos é atingido na cabeça pelo seu mais carismático vilão. (Marilyn Monroe também tinha a champagne e a safra como suas preferências).
Em Moscou contra 007, Bond, no luxuoso vagão-restaurante do trem que corta os Bálcãs, pede para acompanhar seu linguado grelhado um Blanc de blancs (uma champagne feita apenas com uvas brancas). Na mesa, vem a Comtes de Taittinger, da casa Taittinger. Já o acompanhante na mesa pede um chianti. Ao que o garçom atônito retruca: “chianti branco?”. “Não, tinto”. Peixe com tinto? Não no manual de James Bond. Seria a senha para descobrir que o loiro alto que se fazia passar por amigo no fundo, era um espião inimigo.
Outra preferência no mundo das borbulhas é a Bollinger, que até confecciona rótulo e especial para um vinho dedicado aos fãs da série. Após ter sido mantido em solitária, espancado, ficado sem comida no início de Die another Day, Bond redobra o fôlego, foge da prisão, cruza o mar e chega a um luxuoso hotel de Hong Kong, onde faz uma série de pedidos ao gerente. No fim, sentencia “Não se esqueça, uma garrafa de Bollinger 1961, se você tiver uma ainda”. Tinha. Acompanhou com caviar beluga.
A conta? Por 25 filmes, foi para a rainha. Agora irá para o rei. E para Jeff Bezos.