Neurociência explica por que temos dificuldade de dizer 'não' – Do Micro Ao Macro – CartaCapital

A raiz da dificuldade em negar pedidos

Saber dizer “não” se tornou uma habilidade necessária. No entanto, a maioria das pessoas ainda sente desconforto em recusar um pedido ou convite.

Segundo a neurocientista Ana Carolina Souza, da Nêmesis, a origem dessa dificuldade está ligada a uma pergunta recorrente: “O que vão pensar de mim?”.

Esse receio ativa mecanismos inconscientes no cérebro, ligados à nossa natureza social e ao medo da rejeição.

O peso do pertencimento social

Somos programados biologicamente para buscar aceitação. Pertencer a um grupo é tão relevante que há evidências de que a qualidade das nossas relações sociais é um dos principais preditores de saúde, longevidade e felicidade.

“Estudos mostram que a exclusão social ativa áreas do cérebro associadas à dor emocional. Já o suporte social pode amenizar o estresse físico”, explica Ana Carolina.

Por isso, negar algo a alguém pode soar como rejeição. Isso gera desconforto, tanto em quem ouve quanto em quem nega.

O impulso do “sim” e o risco da sobrecarga

Recusar um pedido pode parecer hostil ou egoísta. Por isso, muitas vezes, dizemos “sim” apenas para evitar conflito — especialmente diante de alguém em posição hierárquica superior.

“Quando evitamos o constrangimento do ‘não’, muitas vezes comprometemos nossa própria saúde, tempo e prioridades”, afirma a neurocientista.

A longo prazo, esse comportamento gera sobrecarga, cansaço e frustração. Para evitar esse ciclo, é preciso aprender a criar limites claros e sustentáveis.

Estratégias para dizer “não” de forma respeitosa

Antes de recusar, avalie o pedido com calma. Faça perguntas para entender o contexto e ver se ele faz sentido para sua agenda ou seus objetivos.

Caso decida recusar, Ana Carolina sugere três passos:

1. Agradeça e reconheça a importância
Demonstre empatia. Isso mostra respeito pela outra pessoa, mesmo que a resposta seja negativa.

2. Apresente sua decisão com base racional
Explique brevemente os motivos. Sem exagerar, dê contexto para evitar interpretações distorcidas.

3. Seja firme e direto, mas aberto à negociação
Frases como “Neste prazo não consigo, mas posso te indicar alguém” ou “Consigo fazer, mas terei que pausar outra atividade. Podemos rever prioridades?” ajudam a manter o equilíbrio.

Dizer não também é uma habilidade treinável

Quanto melhor for sua relação com a outra pessoa, mais fácil será estabelecer limites. Comece com situações simples e vá ganhando confiança.

“Ao reconhecer seus próprios limites, você começa a identificar o que realmente importa. Isso é o primeiro passo para tomar decisões com mais consciência e equilíbrio”, reforça Ana Carolina.

Um exercício prático: o papel do “sim” e do “não”

A neurocientista propõe um exercício simples: escreva “SIM” de um lado de uma folha e “NÃO” do outro.

Agora imagine que você vai usá-la para responder a um pedido. Ao mostrar o “SIM” para o outro, qual palavra fica virada para você?

Sempre que dizemos sim a algo, abrimos mão de outra coisa — às vezes, de algo importante para nós.

Dizer “não” é abrir espaço para o que realmente importa

Negar convites ou demandas que não se alinham aos seus objetivos é o melhor caminho para preservar sua energia e foco.

“Mais do que negar ou aceitar, é preciso se conhecer. Criar limites saudáveis nos torna mais eficientes, satisfeitos e conectados com o que realmente importa”, conclui Ana Carolina Souza.

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