Em sétima carta, COP30 pede engajamento do setor privado no combate às mudanças climáticas – CartaCapital

“A situação não poderia ser mais grave”, disse um alto funcionário da ONU a repórteres antes da Cúpula do Clima da organização, realizada em Nova York nesta quarta-feira 24. Inundações intensas, secas e ondas de calor cada vez mais longas são apenas alguns dos eventos climáticos extremos que afetaram comunidades somente no último verão.

Os desastres climáticos estão “causando estragos” em todos os continentes, acrescentou o interlocutor.

Cientistas afirmam que o aquecimento global causado pelo homem está provocando mudanças no clima da Terra e que o aumento das temperaturas terá impactos ainda piores a longo prazo.

Para tentar enfrentar a crise climática, líderes mundiais concordaram em limitar o aumento médio da temperatura global a bem menos de 2 °C, buscando esforços para limitá-lo a 1,5 °C.

Esse consenso foi selado no âmbito do Acordo de Paris, de 2015, com os países comprometidos a renovar e comunicar seus compromissos, chamados NDC (contribuição nacionalmente determinada, na sigla em inglês), a cada cinco anos.

O prazo para a NDC de 2035 era em fevereiro, mas poucos dos 195 signatários que ratificaram o acordo cumpriram a data. Agora, há pressão para que as nações apresentem seus compromissos esta semana.

Grandes emissores estão ficando para trás

A menos de dois meses do início da COP30, que acontecerá em Belém, no Pará, 50 países haviam apresentado suas metas climáticas até o momento da publicação desta reportagem. Juntos, eles representam apenas 24% das emissões globais.

Grandes emissores, incluindo China, União Europeia e Índia, estão entre os que ainda não apresentaram suas metas. Alguns países que apresentaram seus compromissos, como Austrália e Japão, foram criticados por não demonstrarem ambição mais forte e não fazerem sua parte.

Espera-se que muitos países – incluindo a China – apresentem propostas. Mais de 100 nações se inscreveram para falar na Cúpula Climática da ONU desta semana, que acontece paralelamente à reunião da Assembleia Geral da ONU.

Então, o que os países estão prometendo? E o que isso significa para as ações contra o aquecimento global?

União Europeia: líder climática?

Com a guerra na Ucrânia ameaçando suas fronteiras, problemas econômicos em alguns Estados-membros e uma mudança política geral para a direita, chegar a um acordo sobre uma resposta unificada à crise climática tem se mostrado difícil para o bloco de 27 países.

Poucos dias antes da cúpula climática, a União Europeia indicou que não cumpriria o prazo estabelecido pela presidência brasileira da COP para apresentar sua NDC antes do fim de setembro. Em vez disso, emitiu uma declaração de intenções.

O documento sinalizou o compromisso do bloco de apresentar uma meta climática antes da conferência de novembro, com uma redução de gases de efeito estufa em 2035 entre 66,25% e 72,5% em comparação com os níveis de 1990.

Stientje van Veldhoven, diretora regional para a Europa do World Resources Institute, afirmou que, embora a declaração mostrasse “margem para progressos”, corria o risco de “enviar uma mensagem confusa, minando a confiança dos investidores e prejudicando o emprego, a segurança energética e a competitividade”.

Há algum tempo que está em discussão uma proposta para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa da UE em 90% até 2040, mas ainda não foi aprovada por todos os Estados-membros. Especialistas afirmam que a meta mais acanhada para 2035 teria um impacto nesse objetivo.

“O caminho é importante: se a UE ficar na extremidade inferior da faixa, como 66,3%, a reta final para 90% apenas cinco anos depois será uma subida íngreme e difícil. Isso não proporciona a credibilidade política de longo prazo de que os investidores e as empresas precisam”, acrescentou van Veldhoven.

China: gigante da energia verde

Maior emissora mundial, a China produz cerca de um terço de todas as emissões de gases de efeito estufa e, como tal, está sob pressão para estabelecer uma meta doméstica ambiciosa de redução.

No entanto, dada a falta de uma meta da UE e a saída dos EUA do Acordo de Paris, especialistas afirmaram que isso é improvável.

“Não creio que haja dúvidas de que a tomada de decisão chinesa levará em consideração a situação dos EUA e, em certa medida, o debate europeu em curso sobre sua própria NDC. Acho que esses fatores, em geral, representarão desafios para uma ambição elevada”, disse Li Shuo, diretor do China Climate Hub no Asia Society Policy Institute.

A boa notícia é que parece provável que a China tenha atingido seu pico de emissões ou que o faça em breve, o que significa que o único movimento possível é de redução.

“No caso da China, quando eles estabelecem uma meta, é algo com que estão realmente comprometidos, que realmente pretendem cumprir”, afirmou Sofia Gonzales-Zuniga, analista sênior de políticas climáticas da Climate Analytics. “De certa forma, pode não ser a meta mais ambiciosa, mas podemos ter um certo nível de confiança de que eles vão cumprir o que prometem.”

A China é, de longe, o maior investidor mundial em energia limpa, com investimentos que atingiram cerca de 625 bilhões de dólares (R$ 3,3 trilhões) somente em 2024, de acordo com o think tank global de energia Ember. Na visão de Shuo, é improvável que isso mude.

Até o momento, o país não apresentou sua NDC – especialistas esperam ouvir do país sobre suas metas durante a cúpula climática.

Brasil: anfitrião dá o exemplo?

Como anfitrião da COP30, o Brasil tem sido cada vez mais questionado sobre suas metas domésticas.

Seus planos de reduzir as emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67% em relação aos níveis de 2005 até 2035 foram alvo de críticas por parte de especialistas, que afirmaram que tal variação criava incerteza e menos compromisso.

O país também foi criticado por seus planos de expandir a exploração de petróleo, especialmente na foz do rio Amazonas.

No entanto, Gonzales-Zuniga disse que a estratégia nacional recentemente publicada pelo Brasil para reduzir as emissões traz mais clareza ao especificar cortes em determinados setores, como agricultura e desmatamento, responsáveis por três quartos das emissões de gases de efeito estufa do país.

Reino Unido: a origem do problema

O Reino Unido foi o pioneiro da Revolução Industrial, em meados do século 18 – quando combustível fóssil foi queimado pela primeira vez para alimentar processos industriais.

Como um dos países com as maiores emissões acumuladas – tendo emitido mais do que os EUA, os países da UE e a China –, alguns especialistas argumentam que ele tem uma responsabilidade especial de reduzir suas emissões rapidamente.

E parece que o ex-membro da UE intensificou seus esforços. Além de apresentar sua NDC dentro do prazo, o governo britânico prometeu reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 81% em relação aos níveis de 1990.

“Eles estabeleceram uma meta que, em termos de redução das emissões domésticas, estaria alinhada com o objetivo de 1,5 °C. Isso foi muito positivo”, disse Gonzales-Zuniga, acrescentando que, em comparação com as metas para 2030, foi “definitivamente um aumento na ambição”.

Mas não é tão simples assim. O Reino Unido ainda precisa superar a lacuna entre suas promessas e as políticas necessárias para cumprir esses compromissos.

E mais – de acordo com o site Carbon Action Tracker, a responsabilidade do Reino Unido vai além das reduções domésticas.

“Eles têm a responsabilidade de fornecer financiamento climático aos países em desenvolvimento para reduzir as emissões fora de suas fronteiras, para poderem dizer que estão realmente contribuindo de forma justa para reduzir as emissões”, disse Gonzales-Zuniga.

Indonésia: eliminação gradual dos combustíveis fósseis

Grande emissor no Sul Global, a Indonésia chama a atenção dos especialistas. Com dependência de combustíveis fósseis e desmatamento significativo contribuindo para as emissões, a nação insular produz mais de 3% de todos os gases de efeito estufa globais, mas isso pode estar prestes a mudar.

O presidente Prabowo Subianto prometeu eliminar gradualmente as usinas de energia movidas a combustíveis fósseis, incluindo carvão, nos próximos 15 anos e quer atingir a meta de zero emissões líquidas até 2050, uma década antes do planejado anteriormente.

O país ainda não apresentou suas novas metas domésticas.

Estados Unidos: os desistentes

O ex-presidente americano Joe Biden apresentou uma meta climática para os Estados Unidos no ano passado, prometendo reduzir as emissões de carbono em 61% e 66% até 2035, em comparação com os níveis de 2005.

Desde então, no entanto, o presidente Donald Trump retirou os EUA do Acordo de Paris, anulando o compromisso. Em um relatório recente, especialistas disseram que o país havia experimentado sua “mudança mais abrupta na política energética e climática da história recente”.

Ainda assim, apesar da reviravolta política, o relatório prevê que os EUA ainda estão no caminho certo para reduzir seus gases de efeito estufa em 26% a 35% até 2035.

Falando sobre o Acordo de Paris, Gonzales-Zuniga disse que houve algum sucesso, com a projeção de aumento da temperatura até o final do século tendo diminuído.

No entanto, ela acrescentou: “Sempre enfatizamos que isso nunca esteve em linha com a meta real de 1,5 °C, então ainda existe aquela lacuna de emissões com a qual estamos lidando.”

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