Os Estados Unidos decidiram suspender as negociações diretas em prol da relação entre Rússia e Ucrânia, sem apresentar um motivo para a decisão.
A informação foi divulgada nesta segunda-feira 16 pelo governo russo. “Esperamos que a pausa que eles fizeram não dure muito tempo”, afirmou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova.
A porta-voz se mostrou surpresa com a decisão do governo de Donald Trump, mas os últimos capítulos dessa história mostravam que as tratativas por um cessar-fogo no leste europeu perderam força.
Na semana passada, por exemplo, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reconheceu haver “muitos obstáculos nas relações bilaterais” e considerou improvável “esperar resultados rápidos”.
A decisão norte-americana – ainda não confirmada oficialmente por Washington – surge no momento em que Trump vai ao Canadá para participar da reunião de cúpula do G7, para a qual o presidente Lula (PT) foi convidado.
Por lá, em reuniões bilaterais, o republicano estará diante de outras lideranças de peso, na condição de ter de explicar, finalmente, a sua postura sobre a guerra na Ucrânia.
Essa posição é incerta desde o início do segundo mandato de Trump, que já tentou abrir negociação direta com Moscou, invertendo a abordagem norte-americana. Ele também disparou críticas ao ucraniano Volodymyr Zelensky e foi acusado de pender para o lado da Rússia na negociação.
Recentemente, Trump demonstrou frustração com o avanço tímido das negociações por um cessar-fogo e decidiu relembrar ao mundo que os Estados Unidos poderiam adotar sanções contra a Rússia. Nesse vai e vem, horas de conversa em mesas de negociação foram gastas, mas, na prática, não se encontrou uma solução. Isso contraria a promessa feita por Trump, ainda em campanha, de que encerraria a guerra rapidamente.
Bonecas russas com imagens de Trump e Putin. Foto: Nikita Borissov/AFP
Sob a sombra da guerra no Oriente Médio
O fato de Trump mudar sua abordagem ao sabor do momento não é uma realidade apenas na disputa entre Rússia e Ucrânia: vale para o ampliado conflito no Oriente Médio.
No último domingo 15, quando as sirenes disparavam em Tel Aviv e Israel atacava bases militares em Teerã, Trump disse que seria “possível” que os Estados Unidos se envolvessem diretamente no conflito. Ao mesmo tempo, declarou estar “aberto” a trabalhar com o presidente russo, Vladimir Putin. “Ele me ligou para falar disso, tivemos uma longa conversa. Conversamos sobre isso nesta manhã. É algo que acredito que será resolvido”, afirmou Trump.
Uma eventual participação direta dos EUA no Oriente Médio contrariaria as bases do próprio discurso de Trump sobre conflitos ao redor do mundo. O republicano voltou ao poder se queixando de que o país gasta demais no apoio militar, estratégico e financeiro à Ucrânia. Trump não confirma nem nega o que fará, mas o G7 será um palco importante para possíveis anúncios.
Enquanto isso, os riscos de uma contradição retórica são deixados de lado diante da gravidade dos conflitos. Nesta segunda-feira 16, os Estados Unidos enviaram ao Oriente Médio dois porta-aviões, segundo informações repassadas à agência Reuters por fontes da Casa Branca. De acordo com a publicação, osUSS Nimitz, da Marinha norte-americana, saíram do Mar do Sul da China.
Enquanto isso, a guerra entre Rússia e Ucrânia prossegue. No fim de semana, Zelensky acusou a Rússia de planejar novos ataques ao setor de energia do seu país. Ele também colocou em dúvida a seriedade do Kremlin para acabar com o conflito.