
O presidente da França, Emannuel Macron, afirmou estar animado e nutrir expectativas em relação ao “triângulo amoroso” em construção com Brasil e África. “Essa relação começou dificil, com dores e lutas, mas agora conseguimos transformá-la em algo de amor”, disse, nesta quarta-feira 5, durante a cerimônia de abertura do Festival Nosso Futuro, em Salvador (BA).
O evento, que celebra os 200 anos de relações diplomáticas entre França e Brasil, termina nesta sexta-feira e conta com debates, shows, exposições e experiências gastronômicas ligadas aos países e às suas relações com o continente africano.
Antes de participar da cerimônia, Macron fez uma breve caminhada pelas ruas do centro de Salvador. Foi, por exemplo ao prédio da Fundação Pierre Verger, que reúne as obras do antropólogo franco-brasileiro. Depois, visitou a Casa do Benin, museu localizado no Pelourinho que foca na relação com o país africano, origem de parte dos escravizados trazidos ao Brasil.
Em seu discurso, o presidente francês citou os trabalhos de Verger durante a estadia no Brasil como o pontapé da relação multilateral e afirmou que a cultura tem contribuído para reescrever a história. Também fez uma menção ao artista plástico do Benin Roméo Mivekannin, cujo trabalho revisita obras clássicas através de lençóis — com o diferencial de que o rosto de Mivekannin está incluso nas cenas.
“Vivemos em uma época marcada por grandes incertezas, que geram uma onda de raiva, de violência. Seria um erro reagir com a raiva e fechar-se a si mesmo, fechar-se às proprias certezas. Temos de ter outra forma de encarar o mundo”, declarou Macron. “Essa nova maneira de encarar o mundo pode passar pela reapropriação do passado. Temos de reinventá-lo e reaprendê-lo.”
O Benin, país do oeste da África com 12 milhões de habitantes, foi uma das colônias da França e conquistou sua independência em 1960. As relações com o país europeu, embora marcadas por um passado colonial, começaram a evoluir recentemente. Um dos marcos da reaproximação ocorreu em 2021, quando os franceses devolveram 26 obras de arte do antigo Reino de Daomé que haviam sido saqueadas no século XIX.
Ao discursar, o ministro do Benin Olushegun Adjadi Bakaki exaltou o novo estágio da relação: “O que nos une não é apenas o Oceano Atlântico, que foi o teatro de uma história sofrida, mas o sopro que podemos sentir nas ruas, nas danças, na cultura, nas artes, na forma de viver em Salvador. Temos muito a fazer em comum, entre nossos três mundos. Há séculos fomos obrigados a construir essa relação. Que esse comércio triangular que nos fez tanto mal no passado possa nos trazer bons frutos”.
Macron também destacou a importância do festival na capital baiana para a construção de uma nova etapa nas relações entre os países e a África. “A nova casa do mundo africano está sendo criada peça por peça, degrau por degrau, para aumentar essa relação e mudar as coisas nesse triângulo para melhor”, afirmou. Segundo ele, a iniciativa faz parte de um esforço conjunto com o presidente Lula (PT) para consolidar uma “reinvenção das relações” entre Brasil e França.
Ainda nesta quarta, o líder francês participa de um jantar com personalidades da cultura brasileira.
Na manhã de quinta-feira, Macron embarca rumo a Belém (PA), onde deve se encontrar com Lula às margens da 30ª Conferência do Clima das Nações Unidas, a COP30. O francês fica na capital do Pará até a sexta-feira, quando vai ao México para uma agenda com a presidenta Claudia Sheinbaum.
