Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgado em julho, revelou um aumento expressivo na taxa de emprego de mulheres entre 50 e 59 anos. Entre 2010 e 2023, a participação de mulheres de 50 a 54 anos cresceu 10,4%. Para aquelas entre 55 e 59 anos, a alta foi de 18,5%.
Esses dados fazem parte da publicação OECD Employment Outlook 2025, mais especificamente da seção “Navigating the golden years: Making the labour market work for older workers”. O estudo associa o avanço à maior escolaridade, qualificação contínua e capacidade de adaptação das profissionais.
Escolaridade
A OCDE destaca que a escolarização tem impulsionado a presença feminina acima dos 50 anos no mercado. Em 2000, 32% das mulheres entre 55 e 64 anos possuíam ensino médio completo ou nível superior não universitário. Em 2023, esse percentual chegou a 43%.
Além da formação, habilidades como inteligência emocional, capacidade analítica e escuta ativa, frequentemente associadas à geração X, têm se tornado atrativas para as empresas.
Vantagem sobre homens
A presença feminina também ultrapassou a masculina em parte da faixa etária analisada. Entre 55 e 59 anos, as mulheres empregadas já superam os homens por uma diferença de nove pontos percentuais.
A OCDE interpreta esse dado como resultado de escolhas sociais, transformações políticas e mudanças na percepção sobre o envelhecimento no trabalho. O que antes era visto como fase de transição para a aposentadoria começa a ser reinterpretado.
Experiência e atualização
Para Lília Lopes, especialista em Comunicação e funcionária da Prefeitura Municipal de Salvador, o diferencial competitivo das mulheres maduras está na forma como aplicam sua trajetória profissional. Segundo ela, a combinação entre repertório técnico e equilíbrio emocional permite entregar resultados consistentes mesmo sob pressão.
“Profissionais mais experientes conseguem manter foco e estabilidade diante das mudanças constantes do mercado”, afirma. Na sua avaliação, a experiência não basta. É preciso associar atualização tecnológica e consciência social para gerar impacto real nas empresas.
Impacto na cultura
Ainda segundo Lília, a presença de trabalhadoras com mais de 50 anos também transforma a cultura interna das empresas. Ela observa que essa faixa etária colabora com ambientes mais éticos, empáticos e produtivos.
Essas profissionais, segundo ela, atuam com criatividade aliada à responsabilidade, o que gera resultados sustentáveis em diferentes contextos.
Desigualdade
Apesar dos avanços, o relatório da OCDE indica limitações estruturais. As mulheres acima dos 50 anos ainda enfrentam menos acesso a cargos de liderança e permanecem com salários menores. A jornada parcial, comum entre esse grupo, é citada como um dos fatores, mas o estudo reconhece que o problema é mais amplo.
“Ainda existe um modelo de gestão baseado em lógicas masculinas. Mesmo com desempenho elevado, os espaços no topo continuam reduzidos”, analisa Lília.
Revisão de políticas
A especialista defende que empresas precisam reformular seus processos de contratação e de promoção. Para acompanhar essa tendência, ela sugere que as lideranças empresariais valorizem a experiência prática combinada com pensamento estratégico, habilidades interpessoais e capacidade de adaptação tecnológica.
Essas características, presentes em muitas mulheres acima dos 50 anos, podem ajudar empresas a manterem produtividade, inovação e resiliência.
Força mais madura
Segundo Lília, o envelhecimento da população não representa queda na capacidade produtiva. Pelo contrário, pode sustentar o crescimento econômico, se for devidamente aproveitado.
Ela avalia que consumidores de diferentes mercados já demandam olhares mais diversos e personalizados. Para ela, as empresas que atenderem a essa exigência terão melhores condições de competir em um cenário de constantes mudanças.