MST conclui semeadura aérea de 10 toneladas de palmeira juçara para reflorestamento no Paraná – Brasil de Fato

Onze toneladas de sementes de palmeira juçara foram semeadas com o auxílio de helicópteros no Paraná em ação organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entre terça (3) e sexta-feira (6). 

A semeadura aérea integra a 3ª Jornada da Natureza – “Semeando vida para enfrentar a crise ambiental” –, que começou no dia 2 e segue até 7 de junho, como parte das mobilizações pelo Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta quinta (5). A iniciativa envolve camponeses, povos indígenas, universidades, órgãos públicos e instituições federais em um esforço conjunto de reflorestamento da Mata Atlântica e fortalecimento dos territórios da reforma agrária.

As semeaduras aéreas ocorreram no assentamento Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu, e na comunidade agroflorestal José Lutzenberger, em Antonina. A ação também foi realizada na Terra Indígena Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras, onde vivem os povos Kaingang e Guarani. O trabalho foi realizado com apoio de helicópteros da Polícia Rodoviária Federal (PRF), e simboliza um esforço massivo de recomposição ecológica da palmeira juçara, uma espécie nativa e ameaçada de extinção no bioma da Mata Atlântica.

Indígenas se mobilizam para semeadura de palmeira juçara na TI Rio das Cobras | Foto: Vino Carvalho/ Divulgação MST | Vino Carvalho / Divulgação MST

Na Terra Indígena Rio das Cobras, a ação lançou duas toneladas de sementes e foi celebrada como um marco pela comunidade. “Se a natureza morrer, morre o indígena. E se o indígena morrer, morre a natureza. A gente faz parte de todo esse ecossistema”, afirmou Adelar Fagpri Felix Manduca, liderança Kaingang. Segundo ele, é a primeira vez que a comunidade participa de uma atividade ambiental dessa dimensão, com envolvimento direto dos povos originários e sem mediações.

Em Quedas do Iguaçu, oito toneladas de sementes foram lançadas sobre áreas de reserva ambiental da comunidade Dom Tomás Balduíno. A atividade contou com a presença do ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macêdo, que destacou a importância da ação para a restauração ecológica e a segurança alimentar. “Essa semeadura promove a preservação, o reflorestamento e também a renda para as famílias camponesas, por meio do processamento do fruto da juçara”, disse.

A secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Fernanda Machiaveli, também participou da ação e reforçou o papel da reforma agrária na promoção da justiça climática. “Essa jornada é o símbolo do que é o processo de transformação que a reforma agrária pode promover: produzir, preservando nossos recursos naturais, a nossa biodiversidade, garantindo que a juçara continue aqui por muitos e muitos séculos”, afirmou.

Na presença de representantes do governo, o MST cobrou a efetivação da reforma agrária. “Temos 950 famílias esperando o assentamento [em Quedas do Iguaçu]. Essa mensagem precisa chegar ao presidente Lula”, declarou Jonas Natan, da coordenação do acampamento Dom Tomás. Para o MST, plantar juçara é também plantar futuro, soberania e justiça social.

Estratégia a longo prazo

A semeadura aérea da juçara é parte de uma estratégia de longo prazo. Ao todo, 21 toneladas de sementes serão lançadas ou plantadas diretamente no solo em dezenas de comunidades camponesas e indígenas do Paraná, com oficinas práticas, mutirões de plantio e atividades educativas. Além de restaurar ecossistemas, a proposta busca fortalecer a soberania alimentar e a geração de renda por meio do beneficiamento dos frutos nativos.

A iniciativa conta com o apoio de instituições como o Ibama, Embrapa, Incra, universidades públicas e da PRF, responsável pela operação dos helicópteros. A parceria entre camponeses e agentes públicos tem sido vista como exemplo de política ambiental com participação popular. “A semeadura aérea imita o que a natureza já faz. Aqui, usamos tecnologia e organização popular para restabelecer o equilíbrio ambiental”, explicou o comandante Juliano Kunen, da aeronave da PRF.

Lançamento aéreo de sementes de palmeira juçara
As sementes vão contribuir com o reflorestamento da Mata Atlântica | Foto: Diagela Menegazzi / Divulgação MST | Diangela Menegazzi / Divulgação MST

Na comunidade Dom Tomás, o evento foi batizado de Festa da Semeadura da Juçara e reuniu famílias camponesas, estudantes, autoridades e pesquisadores. Um café da manhã coletivo apresentou alimentos produzidos com frutas da Mata Atlântica – como pães, sucos e geleias – resultado de parcerias com a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e com o Laboratório Vivam de Sistemas Agroflorestais. A ideia é valorizar a floresta como alimento, renda e cultura.

“Para além da semeadura, da defesa da natureza, da materialidade que existe aqui, o nosso projeto é sério, com perspectiva socioeconômica, e é um projeto que tem sabor, cheiro, gosto, e textura, e queremos que vocês possam saborear”, garantiu Tarcísio Leopoldo, integrante da direção estadual do MST e da coordenação da comunidade, na abertura do café. O projeto das famílias envolvidas com a produção das polpas das frutas nativas é avançar para a construção de uma agroindústria de beneficiamento dos alimentos.   

A Jornada conta ainda com a inauguração de um viveiro, neste sábado (7), e um horto medicinal no assentamento Contestado, na Lapa, com capacidade para produzir mais de 100 mil mudas por ano, com foco em espécies da floresta ombrófila mista, a conhecida floresta de araucária.

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