O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou ao seu homólogo francês Emmanuel Macron, nesta quarta (20), o tarifaço imposto pelo governo dos Estados Unidos aos produtos brasileiros. A reclamação foi feita durante uma ligação ao líder da França com quase uma hora de duração.
De acordo com um comunicado emitido pelo governo brasileiro pouco depois da conversa, Lula repudiou o tarifaço e relatou que recorreu à Organização Mundial do Comércio (OMC).
“O presidente Lula repudiou o uso político de tarifas comerciais contra o Brasil e relatou as medidas que seu governo adotou para proteger os trabalhadores e as empresas brasileiras. Também informou o presidente Macron do recurso que o Brasil apresentou à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as injustificadas tarifas norte-americanas”, diz o comunicado (veja na íntegra mais abaixo).
Macron adotou cautela na resposta e afirmou que “discutimos longamente questões econômicas, em particular tarifas alfandegárias, bem como nossa cooperação bilateral nas áreas de defesa e transporte”, segundo postou nas redes sociais.
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Ainda na ligação a Macron, Lula afirmou que trabalha para concluir novos acordos comerciais e abrir mercados para a produção nacional, com destaque para o Acordo Mercosul-EFTA e as negociações com países como Japão, Vietnã e Indonésia.
“Macron e Lula comprometeram-se a ultimar o diálogo com vistas à assinatura do Acordo Mercosul-União Europeia ainda neste semestre, durante a presidência brasileira do bloco”, pontuou o comunicado sobre a sinalização de avanço das negociações entre os dois blocos, emperrada principalmente por críticas do líder francês.
Já Macron reiterou a Lula que está pronto para assinar o acordo “desde que protegesse os interesses da nossa agricultura francesa e europeia e servisse às nossas respectivas economias”.
Lula e Macron ainda reafirmaram a intenção de promover uma maior cooperação entre os países desenvolvidos e o “Sul Global” por um “comércio baseado em regras multilateralmente acordadas”. Nesse contexto, diz o comunicado, Lula afirmou que a defesa do multilateralismo será um dos principais temas da Cúpula Virtual do Brics, que pretende realizar em setembro.
A realização da COP 30 de Belém, que será realizada em novembro sob fortes críticas pelos preços cobrados pelas hospedagens, também foi tema da conversa e serviu de alfinetada em grupos políticos rivais.
“Lula afirmou que a COP-30 será a COP da verdade, em que ficará claro quais países acreditam na ciência”, diz o comunicado.
O presidente cobrou a União Europeia a apresentar “metas à altura do desafio que o planeta enfrenta”, enquanto que Macron confirmou a presença no evento.
Os dois líderes também conversaram sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia, em que Macron teria elogiado a tentativa brasileira de articular com a China as negociações de paz, e “acordaram continuar diálogo sobre o conflito”. Lula demonstrou “preocupação” com o aumento dos gastos militares no mundo – mais recentemente, a União Europeia se comprometeu com os Estados Unidos a adquirir armas e munições.
“O presidente Lula demonstrou preocupação com o aumento dos gastos militares no mundo, enquanto cerca de 700 milhões de pessoas ainda passam fome. Registrou, nesse contexto, a saída do Brasil do Mapa da Fome da FAO e defendeu a reforma das instituições multilaterais em favor de uma governança global mais representativa e democrática”, completou o comunicado apontando o compromisso bilateral entre os dois países para “aprofundar a cooperação em matéria de defesa”.
Veja abaixo o comunicado completo do Palácio do Planalto sobre a conversa entre Lula e Macron:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou na manhã desta quarta-feira, 20 de agosto, para o presidente da França, Emmanuel Macron. Na ligação, que durou quase uma hora, os dois líderes trataram de temas das agendas global e bilateral. Os mandatários reafirmaram seu apoio ao multilateralismo e ao livre comércio.
O presidente Lula repudiou o uso político de tarifas comerciais contra o Brasil e relatou as medidas que seu governo adotou para proteger os trabalhadores e as empresas brasileiras. Também informou o presidente Macron do recurso que o Brasil apresentou à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as injustificadas tarifas norte-americanas. Mesmo sem reconhecer a legitimidade de instrumentos unilaterais usados pelos Estados Unidos, como a Seção 301, o presidente Lula comentou sobre os esclarecimentos apresentados por seu governo.
O Brasil continuará trabalhando para concluir novos acordos comerciais e abrir mercados para a produção nacional. Destacou, nesse sentido, a conclusão do Acordo MERCOSUL- EFTA e a prioridade que tem conferido às negociações com novos parceiros, como Japão, Vietnã e Indonésia.
Macron e Lula comprometeram-se a ultimar o diálogo com vistas à assinatura do Acordo MERCOSUL-União Europeia ainda neste semestre, durante a presidência brasileira do bloco.
Os líderes da França e do Brasil reafirmaram intenção de promover maior cooperação entre os países desenvolvidos e o Sul Global, em favor do comércio baseado em regras multilateralmente acordadas. Nesse contexto, o presidente Lula afirmou que a defesa do multilateralismo será um dos principais temas da Cúpula Virtual do BRICS, que pretende realizar em setembro.
No que se refere ao enfrentamento da mudança do clima, Lula afirmou que a COP-30 será a COP da verdade, em que ficará claro quais países acreditam na ciência. O presidente Lula destacou a ambição das metas nacionalmente determinadas apresentadas pelo Brasil e realçou a importância de que a União Europeia e seus membros apresentem metas à altura do desafio que o planeta enfrenta. O chefe de Estado francês reiterou apoio à realização da Cúpula em Belém e confirmou sua presença no evento.
Os dois mandatários também trocaram impressões sobre as negociações de paz na Ucrânia. O presidente Macron elogiou o papel do Grupo de Amigos da Paz, liderado por Brasil e China. Os dois presidentes acordaram continuar diálogo sobre o conflito. O presidente Lula demonstrou preocupação com o aumento dos gastos militares no mundo, enquanto cerca de 700 milhões de pessoas ainda passam fome. Registrou, nesse contexto, a saída do Brasil do Mapa da Fome da FAO e defendeu a reforma das instituições multilaterais em favor de uma governança global mais representativa e democrática.
No campo bilateral, os presidentes comprometeram-se a aprofundar a cooperação em matéria de defesa.