O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou nesta terça-feira (12) que assinará uma medida provisória (MP) com uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para exportadores afetados pelo tarifaço dos Estados Unidos. Segundo o petista, o valor foi estimado para o início da ajuda aos empresários e pode ser aumentado.
“Amanhã [quarta], vou lançar uma medida provisória que cria uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para as empresas brasileiras que porventura tiveram prejuízos com a taxação do Trump. [Essa quantia de] R$ 30 bilhões é o começo. Você não pode colocar mais porque não sabe quanto é”, disse o mandatário em entrevista ao programa “O É da Coisa”, da BandNews.
Lula afirmou que empresas menores e de alimentos perecíveis terão prioridade. “A gente está pensando em ajudar as pequenas empresas, que exportam espinafre, frutas, mel e outras coisas. Empresas de máquinas. As grandes empresas têm mais poder de resistência. Nós vamos aprovar [a medida provisória] amanhã, e acho que vai ser importante para a gente mostrar que ninguém ficará desamparado pela taxação do presidente Trump”, ressaltou.
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O chefe do Executivo convidou os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para participarem do anúncio das medidas. Já o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), convidou diversos empresários para o evento. Alckmin comanda o grupo de negociação do governo sobre o tarifaço.
A cerimônia de assinatura da MP está marcada para a manhã desta quarta-feira (13), no Palácio do Planalto. A taxação de 50% sobre produtos brasileiros entrou em vigor no último dia 6, com quase 700 exceções. Sem conseguir negociar um acordo com os EUA, o governo brasileiro acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC).
Durante a entrevista, Lula afirmou que o pacote de contingência deve incluir a possibilidade de compras governamentais e a busca de novos mercados. O presidente também afirmou que o governo ajudará os empresários afetados a brigar na Justiça americana contra o tarifaço. “Vamos incentivar os empresários a brigar pelos mercados. Não dá para dar de barato a taxação do Trump. Tem leis nos Estados Unidos, e a gente pode abrir processo. Eles podem brigar lá”, disse.
Mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as medidas de ajuda serão viabilizadas por meio de crédito extraordinário ao Orçamento, recursos que não entram no limite de gastos do arcabouço fiscal, informou a Agência Brasil. Haddad não deu detalhes sobre o plano, mas reforçou que as propostas foram definidas após reuniões com representantes de vários setores.
“Quilo do filé estava US$ 150” nos EUA, diz Lula
Lula destacou que o presidente dos EUA, Donald Trump, tem agido “com certa anormalidade” e que a população americana também será afetada pela taxação de produtos de todo o mundo. Ele disse que o governo ainda avalia a possibilidade de aplicar medidas de reciprocidade.
“Para quem reclama, queria que vocês entrassem num site americano e procurassem [o preço de] um quilo de filé, hoje estava sendo vendido a US$ 150. Uma das coisas que acho que o presidente Trump não pensou é que, embora ele diga que está juntando muito dinheiro, os produtos taxados a todos os países do mundo vão aumentar de preço nos Estados Unidos”
EUA têm “ciúmes” do Brasil no Brics
O presidente brasileiro afirmou que os Estados Unidos devem ter “ciúmes” do Brics. O bloco formado por Brasil, Índia, Rússia, China, entre outros países, é alvo de críticas de Trump. Nos últimos dias, Lula conversou com Vladimir Putin (Rússia), Xi Jinping (China) e Narendra Modi (índia) sobre as tarifas.
“Eu acho que os EUA têm um pouco de ciúmes da participação do Brasil nos Brics. É importante não esquecer que o G20 foi criado por conta da crise causada pelos EUA em 2008. Foi criado o G20 para salvar a economia mundial”, destacou o petista.
Lula afirmou que nunca trata a relação com outros presidentes “de forma ideológica” e disse ter enviado um convite a Trump para a Conferência do Clima (COP 30), que será realizada em Belém, entre os dias 10 e 21 de novembro. “Eu mandei uma carta para ele [Trump] convidando-o para a COP 30. Não pense que eu guardo mágoa de ninguém. Eu não guardo mágoa de ninguém não. Não sei se ele já recebeu, eu espero que ele responda”, disse o mandatário.