
O livro Vamô Vadiá Nesta Lezeira – Ancestralidade e Simbolismo na Dança da Lezeira do Sertão do Piauí (Edições Corisco e Banquinho Publicações; 394 páginas), de Eduardo Pontin e Francisca Sousa, se debruça sobre a tradição musical ainda praticada em municípios, lugarejos e comunidades quilombolas no interior do estado.
A lezeira, considerada uma dança afro-indígena, ocorre em pares de casais. Mestres e mestras entoam os cantos, acompanhados do coro dos participantes. A manifestação não adota o instrumento musical, embora a percussão já tenha sido introduzida em alguns grupos.
O bom relato do livro surpreende, ainda mais por se tratar de uma dança ainda pouco conhecida no País. Há também muitas fotografias da dança e de seus principais personagens.
A obra apresenta em um capítulo mais de mil quadras – cada quadra é uma estrofe de quatro versos – recuperadas de mestres e mestras do sudeste do Piauí, onde se concentra a tradição. A irreverência é a principal marca das letras.
Os cantos são transmitidos oralmente pelos grupos. Estima-se que a tradição exista desde o fim do século XIX no País.
Vamô Vadiá Nesta Lezeira estabelece relações entre a lezeira e outras manifestações populares do Nordeste, como a literatura de cordel e a vaquejada, além da indústria da música.
Esse aspecto é importante porque se costuma tratar a cultura popular como algo descolado da música popular que conhecemos, quando na verdade elas se entrelaçam na forma, na expressão e na história. O livro traz cantos da manifestação adotados no meio musical dito profissional.
O projeto envolveu, além do livro, a gravação de seis álbuns digitais com um estúdio itinerante, que captou a sonoridade de rodas de lezeira no chão de terra batida onde elas acontecem.
O casal de pesquisadores Eduardo Pontin e Francisca Sousa percorreu o sertão do Piauí lembrando os grandes estudiosos da cultura popular do Brasil. Trata-se de um projeto e tanto.
