O Irã afirmou, neste domingo 29, ter “sérias dúvidas” de que Israel respeitará o cessar-fogo em vigor desde a terça-feira 24, após 12 dias de guerra.
O conflito eclodiu quando Israel lançou, em 13 de junho, bombardeios contra o Irã que mataram os principais comandantes militares do país e vários cientistas vinculados ao programa nuclear iraniano.
“Não provocamos a guerra, mas respondemos ao agressor com todas as nossas forças”, disse o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Abdolrahim Musavi, referindo-se a Israel.
“Temos sérias dúvidas sobre o respeito de seus compromissos, inclusive o cessar-fogo, e estamos prontos para uma resposta contundente”, acrescentou, em entrevista por telefone com o ministro da Defesa saudita, o príncipe Khaled bin Salman, segundo a televisão iraniana.
Israel garante ter agido para evitar que o Irã obtivesse a bomba atômica, o que Teerã nega, alegando que seu programa nuclear tem fins civis.
Os Estados Unidos participaram da ofensiva israelense bombardeando três instalações nucleares do Irã na noite de 21 de junho. Desde 24 de junho, está em vigor um cessar-fogo.
Em carta dirigida ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o governo iraniano pediu que a ONU reconheça que Israel e Estados Unidos foram os responsáveis pelo conflito.
“Pedimos oficialmente ao Conselho de Segurança que reconheça o regime israelense e os Estados Unidos como os precursores do ato de agressão e que reconheça sua responsabilidade subsequente, incluindo o pagamento de indenizações e de reparações”, reivindicou o ministro iraniano de Relações Exteriores, Abbas Araqchi.
Irã desmente ameaças contra Grossi
O presidente americano, Donald Trump, advertiu que “sem dúvida” os Estados Unidos voltarão a bombardear o Irã se o país enriquecer urânio em níveis que lhe permitam fabricar armas nucleares.
Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o Irã é o único Estado sem armas nucleares que enriquece urânio em alto nível (60%), muito acima do limite de 3,67% estabelecido no acordo internacional de 2015, do qual os Estados Unidos se retiraram unilateralmente em 2018, durante o primeiro mandato de Trump.
Para fabricar uma bomba, o enriquecimento necessário é de 90%, de acordo com a AIEA.
No início da trégua, o Irã rejeitou o pedido do diretor da AIEA, o diplomata argentino Rafael Grossi, de visitar as instalações bombardeadas por Israel e pelos Estados Unidos, e o acusou de ter “más intenções”.
O jornal ultraconservador iraniano Kayhan acusou Grossi de ser “um espião do regime sionista”. “É preciso dizer oficialmente que [Grossi] será julgado e executado ao chegar ao Irã por espionagem em favor do Mossad e por participar do assassinato do povo oprimido de nosso país”, advertiu, mencionando o serviço secreto israelense.
O embaixador do Irã na ONU, Amir Saeid Iravani, desmentiu neste domingo que o país represente alguma ameaça para o diretor da agência da ONU que supervisiona as atividades nucleares.
“Não há nenhuma ameaça” contra os inspetores, nem contra o diretor-geral da AIEA, assegurou o embaixador do Irã na ONU, Amir Saeid Iravani, em uma entrevista à emissora americana CBS, ao ser questionado sobre a declaração do jornal Kayhan.
O Ministério das Relações Exteriores da Argentina expressou no sábado seu apoio a Grossi e condenou as “ameaças” do Irã, sem especificar sua natureza. “Instamos as autoridades desse país a garantirem a segurança dele e de toda a sua equipe”, pediu.
Segundo o Ministério da Saúde iraniano, pelo menos 627 pessoas morreram e aproximadamente 4.900 ficaram feridas nos 12 dias de guerra contra Israel.
Os ataques em represália do Irã contra Israel deixaram 28 mortos, de acordo com as autoridades israelenses.
O Irã informou, neste domingo, que um bombardeio lançado por Israel na segunda-feira contra a prisão de Evin, em Teerã, deixou pelo menos 71 mortos. No momento do bombardeio, vários opositores e prisioneiros estrangeiros ou com dupla nacionalidade estavam presos nesse presídio de alta segurança.