Depois de dois oficiais militares iranianos, o próprio conselheiro do líder supremo para assuntos internacionais, Kamal Kharazi – que também foi ministro das Relações Exteriores – afirmou que o Irã não hesitará em fabricar armas atômicas no caso de uma ameaça israelense.
“Há dois anos, eu disse que tínhamos capacidade para produzir armas atômicas, mas que não tínhamos intenção de fazer. Mas se a nossa existência for ameaçada, seremos forçados a mudar nossa doutrina nuclear”, declarou Kamal Kharazi.
As autoridades iranianas sempre afirmaram, há mais de vinte anos, que, de acordo com uma fátua (pronunciamento legal no Islã emitido por um especialista em lei religiosa) do líder supremo, a fabricação e o uso de armas atômicas eram proibidos.
Mas, há algumas semanas, dois altos funcionários da Guarda Revolucionária, o exército de elite do Irã, garantiram que, se Israel quisesse atacar as instalações nucleares iranianas, o país mudaria sua política sobre armas nucleares.
O comandante dos Guardiões da Revolução encarregado da segurança nuclear, Ahmad Haghtalab, declarou que as ameaças israelenses poderiam levar Teerã a “rever sua doutrina nuclear e se afastar de decisões anteriores”.
Após o ataque a Israel em 13 de abril, em que foram usados drones e mísseis, o Irã parece ter mudado sua política de contenção na região. As autoridades iranianas afirmaram claramente que Teerã responderá a qualquer ataque contra seu território, mas também contra seus interesses na região.
O país se posiciona, cada vez mais, como potência dominante na região, o que explica as novas declarações de Kamal Kharazi.
Confronto perigoso
Às margens da guerra em Gaza, o conflito entre Tel Aviv e Teerã entrou numa lógica de confronto particularmente perigosa.
O bombardeio israelense contra um anexo do consulado iraniano em Damasco, causando várias mortes entre a Guarda Revolucionária, no início de abril de 2024, foi seguido pela resposta iraniana a Israel, marcada por ataques de trezentos drones e mísseis.
A questão que se coloca agora é se as coisas continuarão como estão ou se, ao contrário, as hostilidades se intensificarão. A resposta reside, sem dúvida, na evolução da guerra em curso em Gaza.