O Brasil passa por um momento de alerta com 113 casos notificados de intoxicação por metanol associada ao consumo de bebidas alcoólicas, com 12 mortes notificadas. Diante do cenário, a recomendação de especialistas e autoridades da saúde é evitar a ingestão de álcool, especialmente destilados como vodca, gim e uísque.
“A principal recomendação é que se evite a ingestão de bebida alcoólica. Neste momento, onde as situações estão bem preocupantes, a recomendação inicial é que se evite principalmente os destilados, as bebidas incolores”, orienta a médica Daniela Ponce, diretora do Departamento de Injúria Renal Aguda da Sociedade Brasileira de Nefrologia, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
Além de seguir as recomendações, o entendimento do que fazer diante da suspeita de intoxicação por metanol pode representar a diferença entre recuperação e dano irreversível. De acordo com a Nota Técnica Conjunta nº 360/2025, emitida pelo Ministério da Saúde, os sintomas da intoxicação por metanol costumam aparecer entre seis e 24 horas após a ingestão e podem ser confundidos com os de uma embriaguez prolongada ou ressaca.
Os principais sinais de que pode se tratar de intoxicação por metanol são dor abdominal intensa e cólica (diferente da dor de estômago causada pelo álcool comum); alterações visuais, como visão borrada, turva ou pontos luminosos. “Esse é um sinal de alerta muito importante porque quando o metanol é metabolizado no ácido fórmico, ele tem predileção pelo sistema nervoso central e pelo nervo óptico”, explica Ponce.
O Ministério da Saúde orienta que qualquer pessoa com suspeita de intoxicação procure imediatamente um serviço de urgência e leve, se possível, a embalagem da bebida consumida. A pasta reforça que não se deve tentar tratamentos caseiros e que o atendimento médico rápido é essencial para evitar sequelas permanentes, como a cegueira.
Ao chegar a um pronto-socorro, “esse paciente vai ser atendido, vão ser realizados exames laboratoriais como a gasometria, que já dá uma pista de que o paciente está intoxicado. Existe tratamento, mas precisa ser numa fase ainda reversível do quadro”, destaca a médica.
Nos hospitais, o tratamento segue protocolos específicos, que incluem suporte clínico intensivo, uso de etanol farmacêutico como antídoto, administração de ácido folínico e, em casos graves, hemodiálise para remover o metanol e seus metabólitos tóxicos do organismo. O tempo de resposta é curto: até 12 horas após os primeiros sintomas há uma maior chance de reversão. Uma vez instalada a cegueira, o dano costuma ser permanente.
O Ministério informou ainda que adquiriu cerca de 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico para abastecer as redes estaduais de saúde e busca, junto a organismos internacionais, a compra do fomepizol, outro antídoto usado em casos severos. Os casos estão sendo tratados como Evento de Saúde Pública, o que exige notificação imediata às autoridades municipais, estaduais e federais. A vigilância sanitária também está orientada a intensificar fiscalizações e retirar do mercado produtos de origem suspeita.