A Federação das Associações e Entidades da Bahia, a FAEBA, fundada ontem no Centro Cultural da Câmara de Salvador, é a demonstração de um esforço coletivo e suprapartidário, e da determinação do movimento social de base, organizado, que resiste frente aos novos moldes de fazer a luta política.

Digo isso porque inúmeras são as dificuldades enfrentadas, pelos movimentos sociais, sobretudo pelos novos arranjos de organização social nesse novo século, principalmente sobre a efemeridade das pautas que tem tomado a atenção da audiência e onde estão sendo realizados esses debates, de modo a promover entre outras coisas o avanço da extrema-direita sobre uma agenda cada vez mais retrograda e prejudicial aos trabalhadores e aos direitos e humanos.

E o que podemos perceber é que a transformação digital chegou de vez na política e impele um novo modelo de construção social, mas para tanto, cumpre-nos dizer que a vida real a despeito desse grande movimento global, ainda acontece fora dos computadores, para uma grande maioria da população, e para algumas das nossas bandeiras de luta, a rua segue sendo o principal espaço de mobilização, mas também, por ser onde a vida de fato segue acontecendo, independente das redes.

A internet e as redes sociais são capazes de escalar de forma exponencial a comunicação, contudo, quando precisamos converter isso de forma atitudinal, o sofá continua a ser o principal lugar da luta desses novos tempos. As redes são importantes e não se questiona esse propósito, no entanto, ela não pode substituir o que a presença das pessoas na rua, lutando por seus direitos, é capaz de gerar como efeito positivo de sensibilização e mobilização social. Reitero isso porque ainda não vi uma manifestação unicamente virtual, que não tenha se objetivado e constituído posteriormente nas ruas, em forma de protesto e enfrentamento. A rua continua sendo a principal arena do debate de ideias.

Há inúmeras entidades do movimento social organizado, que seguem desde o quando foram criadas, com pautas atemporais, haja vista, considerando alguns avanços, a realidade concreta dessas lutas mudou muito pouco. E aqui trago como exemplo o Movimento dos Sem-teto, os sindicatos das diversas categorias de trabalhadores, a luta pela reforma agrária, com o MST, o Movimento Negro e o debate racial e a segurança pública, a luta pela educação e saúde de qualidade. Essa é a urgência e emergência frente a todas as demais lutas e bandeiras que poderemos propor, que são legitimas e verdadeiramente importantes.

E você há de convir que sem onde morar, sem ter onde trabalhar, sem ter onde colocar os filhos pra estudar de forma digna, e sem assistência de saúde, e sendo você um alvo permanente das forças policiais, outras indignações da vida moderna fazem pouco eco na mobilização generalizada a qual precisamos.

A Internet e a rede social são ferramentas, assim com foram os jornais, o rádio e a televisão, com a vantagem tem apenas o senso de instantaneidade e sua capacidade de alcance, obvio que o tempo social que vivemos, também dita comportamentos, mas isso é inerente a sociedade, mas não podemos ver as redes como substitutas à nossa capacidade de indignação com a burguesia e as elites. Afinal são sempre elas as donas dos meios de produção, e assim também o é, com a Internet e as redes sociais.

Devemos nos preocupar com outras coisas. Nosso foco estará muito mais na mensagem, que no meio. Cabe a nós, entender como sensibilizar a juventude nas escolas, e trazê-las conosco nesse processo, do que se tivemos 500 ou 5 milhões de visualizações.

Nos debrucemos no que fazemos de melhor, encantar mentes e corações, motivar as pessoas a brigar e lutar pelos seus ideais, por uma vida mais justa e menos desigual, a acreditar com esperança numa utopia que nos tire da zona de conforto e das redes e nos leve para rua!

Por isso, deve ser festejada a criação a FAEBA que em última análise, revela que o objetivo de organizar as bases, continua a ser uma prioridade, frente todas as dificuldades, e sobretudo aonde muitas vezes, chega o meme, a trend, mas não chega o conhecimento para enfrentar a lógica capitalista e os dramas sociais reais, nas periferias e rincões da Bahia.  

Nilo Cerqueira é articulista do Portal SSA e escreve semanalmente aos domingos.

One thought on “Internet é ferramenta, a luta ainda é na rua!”

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