Indicado ao Grammy Latino em 2000, o cantor e compositor paraense Nilson Chaves carrega meio século de trajetória dedicada à canção amazônica. Em setembro, sua obra foi reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial do Pará pela Assembleia Legislativa, um título que consagra a relevância de uma carreira com mais de 20 discos lançados.
Agora, às vésperas da COP30, que será realizada em novembro de 2025, em Belém (PA), o músico lança uma nova leva de canções que reafirmam a potência e a diversidade do cancioneiro amazônico. “Sempre tive essa visão de que é importante cantar a Amazônia, principalmente suas belezas”, diz Nilson Chaves em entrevista a CartaCapital. “Claro que falamos dos problemas, mas entendo que falar da beleza é provocar paixão das pessoas por ela.” E quem se apaixona pela floresta, reforça, acaba defendendo-a.
O projeto, distribuído pela Nikita Music, traz sete faixas, das quais seis evocam diretamente a Amazônia, entre elas parcerias com Ivanildo Pessoa, Fernando Luiz de Souza Pessoa, Tião Pinheiro e Max Reis.
Essa ideia, de que a música pode gerar pertencimento e proteção, atravessa sua obra. Canções como Olhando Belém (com Celso Viáfora), Olho de Boto e Sabor Açaí (com Joãozinho Gomes) fazem parte de um repertório que conecta natureza, memória e identidade regional.
“As pessoas me diziam que eu falava muito bem da Amazônia. Aí percebi que essa era a minha missão: cantar a região”, afirma.
Nilson cobra que a COP30 reflita a voz cultural da Amazônia, e não uma vitrine cosmética para artistas de fora. Ele criticou a escolha da americana Mariah Carey como atração principal de um evento preparatório realizado em 17 de setembro, sobre um palco flutuante no rio Guamá, em Belém, que também reuniu Joelma, Dona Onete, Gaby Amarantos e Zaynara.
“Respeito todos os artistas que participaram, especialmente as minhas companheiras da música paraense. Mas foi infeliz convidar uma artista americana que nunca teve aqui, que não conhece essa realidade e caiu de gaiata no rio”, comenta.
Ao refletir sobre a ascensão do Pará e do Norte no mapa da música brasileira, tema que ressurge ciclicamente desde os anos 1980, Nilson Chaves é incisivo:
“Nós temos dois caminhos. Um, é fazer parte da mídia outro é fazer parte da história. A música da Amazônia tem compromisso de fazer parte da história. Não vejo preocupação dos companheiros da Amazônia de explodir na mídia.”
Para o cantor, a representação amazônica na COP30 deve ir além da estética exótica e traduzir o pensamento, a emoção e a resistência cultural de quem vive e canta a floresta. Seu projeto recém-lançado, afirma, é apenas o início de uma nova safra de composições que deve continuar nos próximos meses.