Um dos principais meios de pagamento dos brasileiros, o Pix entrou na mira do presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, como uma prática comercial que ele considera desleal e que “distorce a concorrência em serviços digitais”.
A ferramenta – amplamente difundida pelo comércio e a população do país – é mais uma entre as críticas do líder norte-americano a constar de um pedido de investigação após a taxação de 50% imposta na semana passada aos produtos brasileiros exportados para lá.
O documento do Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) emitido nesta terça (15) afirma que o Brasil “parece se envolver em uma série de práticas desleais com relação a serviços de pagamento eletrônico, incluindo, entre outras, a promoção de seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo”.
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Em resposta, o governo Lula (PT) foi às redes sociais para defender que o “Pix é do Brasil e dos brasileiros!”e ironizar a iniciativa de Trump. A publicação faz parte da campanha “Brasil soberano” que ganhou força depois do anúncio do tarifaço.
“Parece que nosso Pix vem causando um ciúme danado lá fora, viu? Tem até carta reclamando da existência do nosso sistema Seguro, Sigiloso e Sem taxas”, destacou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência nas contas oficiais do governo.
“Só que o Brasil é o quê? Soberano. E tem muito orgulho dos mais de 175 milhões de usuários do Pix, que já é o meio de pagamento mais utilizado pelos brasileiros. Nada de mexer com o que tá funcionando, ok?”, disse o governo.
A Gazeta do Povo procurou a Secom e o Banco Central para comentarem a crítica do governo Trump e aguarda retorno. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, classificou a medida dos Estados Unidos como algo “inacreditável”. Além da ferramenta de transferência, Trump quer investigar os produtos vendidos em centros comerciais brasileiros, como a rua 25 de março, em São Paulo.
“Uma das duas maiores potências do mundo estar preocupada com a 25 de março, e colocar isso num documento internacional, estar preocupado com o nível de pagamento em um país adotado, que é abraçado por todos, pela população, pelas empresas, pelo sistema financeiro, que é o Pix. Então, é inacreditável algo dessa natureza”, disse Costa.
O ministro reiterou que um governo estrangeiro não pode “se intrometer” em assuntos internos do Brasil. “São brasileiros e vamos definir o seu destino. Nenhuma outra nação, nenhum outro líder mundial pode escolher, seja na atividade que vai se dar na rua 25 de Março, seja no meio de pagamento que queira se intrometer e seja absolutamente de definição do Brasil”, afirmou.
Oposição se divide sobre investigação do Pix pelos Estados Unidos
Nas redes sociais, enquanto usuários criticaram a nova ofensiva de Trump, apenas parte da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se pronunciou sobre a citação ao Pix.
Para o Movimento Brasil Livre (MBL), a ferramenta “agora também é comunista”, disse reproduzindo uma manchete de um veículo de imprensa sobre o assunto e uma postagem do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) agradecendo Trump pela taxação ao Brasil.
Já o deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), vice-líder do partido na Câmara, não comentou diretamente a crítica ao Pix, mas afirmou que a investigação contra o Brasil é “mais um reflexo direto do isolamento diplomático causado pelo descondensado (sic) Lula, que insiste em colocar o Brasil ao lado de ditaduras e contra os interesses das maiores democracias do mundo”.
“Lula, a culpa é sua! Você e seu desgoverno estão conseguindo colocar o Brasil nas piores posições internacionalmente, se fosse na gestão do Presidente Bolsonaro o Brasil nunca passaria por isso”, disse o deputado Messias Donato (Republicanos-ES) seguindo na mesma linha de Nunes de não citar diretamente a investigação sobre o Pix.
O mesmo tom foi adotado pelo deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO), que classificou a investigação como “mais uma paulada”.
O Pix se tornou a principal bandeira de defesa da direita no começo deste ano após o governo sinalizar que poderia aumentar a fiscalização de alguns patamares de operação. Na época, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) chegou a gravar um vídeo para explicar a medida.
A alta repercussão da gravação fez o governo recuar e desistir da fiscalização, e afirmar que a medida foi alvo de supostas fake news. A principal mudança seria a extensão do monitoramento das transferências Pix que somassem pelo menos R$ 5 mil por mês para pessoas físicas e R$ 15 mil para pessoas jurídicas.
A Receita Federal esclareceu, na época, que a norma não significava aumento de tributação e pretendia apenas melhorar o gerenciamento de riscos para a administração tributária.