PGR se manifesta contra soltura de general investigado por trama golpista – Justiça – CartaCapital

O general Mário Fernandes admitiu, em depoimento ao Supremo Tribunal Federal nesta quinta-feira 24, ter idealizado o plano conhecido como Punhal Verde e Amarelo, que segundo a Polícia Federal previa o assassinato do presidente Lula (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro da Corte Alexandre de Moraes. Ele minimizou, porém, a importância do documento.

Fernandes, que está preso desde novembro de 2024, é um dos seis réus do núcleo 2 da tentativa de golpe de Estado. Ele irá a julgamento pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado por violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.

A PF apreendeu no curso da investigação o material sobre o plano elaborado pelo general.

Esse arquivo digital nada mais retrata do que um pensamento meu que foi digitalizado. Um compilado de dados, um pensamento, uma análise de riscos. Esse pensamento digitalizado não foi compartilhado com ninguém”, alegou, nesta quinta.

Fernandes afirmou se arrepender da digitalização. Ele disse ao STF que decidiu imprimir o plano porque evita ler documentos em telas. “O que é mais importante: não passa de uma compilação de dados, com a visão de um militar. Apenas isso, não foi compartilhado ou apresentado a ninguém.”

Também são réus do núcleo 2:

  • Fernando de Sousa Oliveira (delegado da Polícia Federal)
  • Filipe Garcia Martins Pereira (ex-assessor internacional da Presidência da República)
  • Marcelo Costa Câmara (coronel da reserva do Exército e ex-assessor da Presidência)
  • Marília Ferreira de Alencar (delegada e ex-diretora de Inteligência da Polícia Federal)
  • Silvinei Vasques (ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal).

Plano de assassinato

A PF concluiu que o plano para assassinar Moraes em 15 de dezembro de 2022 não foi adiante devido à recusa do comando do Exército de aderir ao golpe de Estado.

A denúncia da Procuradoria-Geral da República aponta que pessoas disfarçadas por codinomes colocaram em prática um plano para prender e matar o ministro.

A conspiração veio à tona em novembro de 2024, quando a PF deflagrou a Operação Contragolpe e prendeu quatro militares do Exército ligados às forças especiais, os chamados “kids pretos”: Rodrigo Bezerra, Rafael Oliveira, Mário Fernandes e o tenente-coronel Helio Ferreira Lima. Outro preso foi o policial federal Wladimir Matos Soares, também alvo do julgamento da denúncia nesta terça.

A polícia teve acesso a mensagens de um grupo de conversas criado pelos golpistas no aplicativo Signal e chamado “Copa 2022”, com o objetivo de monitorar Moraes. Os militares envolvidos receberam codinomes de países, como Alemanha, Austria, Japão e Gana.

“Apesar de todas as pressões realizadas, o general Freire Gomes e a maioria do alto comando do Exército mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado. Tal fato não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final e, por isso, o então presidente da República Jair Bolsonaro, apesar de estar com o decreto pronto, não o assinou. Com isso, a ação clandestina para prender/executar ministro Alexandre de Moraes foi abortada”, diz o relatório da PF.

Em busca de apoio ao golpe, segundo a Polícia Federal, Bolsonaro promoveu diversas reuniões com os comandantes militares e com o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Chefiavam as Forças Freire Gomes (Exército), Baptista Júnior (Aeronáutica) e Almir Garnier (Marinha).

Na manhã de 7 de dezembro de 2022, por exemplo, após realizar pessoalmente ajustes na chamada minuta do golpe, Bolsonaro convocou ao Alvorada os chefes militares, a fim de “apresentar o documento e pressionar as Forças Armadas a aderirem ao plano de abolição do Estado Democrático de Direito”, conforme o relato da PF.

A corporação concluiu que Garnier e Paulo Sérgio se juntaram à intentona golpista, enquanto Freire Gomes e Baptista Júnior se manifestaram contra a ruptura institucional.

Em 15 de dezembro, Mário Fernandes enviou uma mensagem ao general Luiz Eduardo Ramos, então secretário-geral da Presidência, relatando que Freire Gomes iria ao Palácio da Alvorada para supostamente comunicar sua anuência ao golpe.

“Kid preto, algumas fontes sinalizaram que o comandante da Força sinalizaria hoje, foi ao Alvorada para sinalizar ao presidente que ele podia dar ordem”, dizia a mensagem, segundo a transcrição da PF.

Freire Gomes de fato esteve no Alvorada, a exemplo de Ramos. Não houve, porém, adesão institucional do Exército à ruptura.

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