O fundo soberano da Noruega anunciou nesta segunda-feira 11 que vendeu integralmente seus investimentos em 11 empresas israelenses como resposta à crise humanitária vivida em Gaza.
Nicolai Tangen, chefe do Norges Bank Investment Management (NBIM), gestor do fundo, disse que a decisão foi tomada “em resposta a circunstâncias extraordinárias”.
“A situação em Gaza é uma grave crise humanitária. Temos investimentos em empresas que operam em um país em guerra, e as condições na Cisjordânia e em Gaza pioraram recentemente. Em resposta, vamos reforçar ainda mais nossa diligência prévia”, disse Tangen em um comunicado.
O fundo da Noruega – abastecido pelas receitas das exportações de petróleo do país – é o maior fundo soberano do mundo. Ele acumula investimentos de 1,9 trilhão de dólares, em mais de 8,6 mil empresas ao redor do globo.
A medida ocorre após o jornal norueguês Aftenposten revelar que o fundo havia investido na empresa israelense Bet Shemesh Engines Holdings, que fabrica peças para motores usados em jatos de combate.
Tangen confirmou posteriormente as informações. Segundo ele, o fundo de fato aumentou sua participação na fabricante após o início da ofensiva israelense em Gaza.
As operações militares israelenses tiveram início em 7 de outubro de 2023 após ataques do Hamas contra Israel, grupo fundamentalista considerado uma organização terrorista pela União Europeia.
Ministro pede revisão da política de investimentos
As revelações levaram o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Store, a pedir ao ministro das Finanças, Jens Stoltenberg, uma revisão na política de investimentos do NBIM, que é vinculado ao banco central norueguês, o Norges Bank. Stoltenberg foi secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) até 2024.
Segundo o NBIM, o fundo norueguês acumulava investimentos em 61 empresas israelenses até o final do primeiro semestre deste ano, 11 das quais não compunham seu “índice de referência de ações”.
O índice estabelecido pelo Ministério das Finanças compreende 8,7 mil empresas e é usado para medir o desempenho dos ativos e orientar investimentos. Companhias que não são listadas são consideradas fora do escopo do fundo.
Em nota, o banco afirmou que “todos os investimentos em empresas israelenses que não fazem parte do índice de referência de ações serão vendidos o mais rápido possível”. No futuro, “os investimentos do fundo em Israel serão limitados às empresas que estão no índice de referência de ações”, continuou.
A NBIM também disse que todos os investimentos em empresas israelenses mediados por gestores externos seriam transferidos para a estrutura interna do banco e que os contratos com os administradores israelenses serão encerrados.
Norges Bank deve anunciar novas medidas
Em entrevista coletiva na segunda-feira, Stoltenberg disse estar satisfeito que o Norges Bank “agiu rapidamente”, mas afirmou esperar que o fundo adote medidas adicionais. O ministro descartou uma venda de ativos de todas as empresas israelenses, indicando que somente os investimentos em empresas ligadas à guerra devem ser restringidos.
“As diretrizes éticas do fundo estipulam que ele não deve investir em empresas que contribuam para violações do direito internacional por Estados”, disse aos jornalistas. “Portanto, o fundo não deve deter ações em empresas que contribuem para a guerra de Israel em Gaza ou para a ocupação da Cisjordânia”, afirmou.
Segundo o banco, a revisão de sua política de investimentos acontece até 20 de agosto e novas medidas podem ser anunciadas. O NBIM argumentou que o fundo soberano “há muito tempo presta atenção especial a empresas associadas a guerra e conflitos”.
“Desde 2020, mantivemos contato com mais de 60 empresas para discutir esse tema. Destas, 39 diálogos estavam relacionados a Cisjordânia e Gaza”, afirmou em nota. Segundo o Norges Bank, a fiscalização das empresas israelenses foi intensificada em 2024, o que levou anteriormente à venda de alguns ativos.
Também nesta segunda-feira, o fundo de pensão norueguês KLP anunciou que excluiu a empresa israelense NextVision Stabilized Systems de seus investimentos porque a empresa “fornece componentes para drones militares usados na guerra em Gaza”.