Fim de semana na porta: médica recomenda evitar bebidas alcoólicas por risco de intoxicações por metanol

A médica Daniela Ponce, diretora do Departamento de Injúria Renal Aguda da Sociedade Brasileira de Nefrologia, recomenda que, diante da escalada de casos de intoxicação por metanol em bebidas adulteradas, a população evite o consumo de álcool, especialmente destilados como vodca, gim e uísque. As orientações foram feitas durante uma entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta sexta-feira (3).

“A principal recomendação, no cenário atual, é que se evite a ingestão de bebida alcoólica. Eu sei que pode parecer assustador, ainda mais numa sexta-feira, mas a ingestão de bebida alcoólica não é considerada essencial, é puramente por prazer. Neste momento, onde as situações estão bem preocupantes, a recomendação inicial é que se evite principalmente os destilados, as bebidas incolores”, afirma.

Segundo a médica, a dificuldade está no fato de o metanol ser muito semelhante ao etanol, sem alteração perceptível no sabor ou aparência da bebida. Os primeiros sintomas surgem cerca de seis a 12 horas após a ingestão e podem ser confundidos com sinais de embriaguez: tontura, dor de cabeça e fala empastada. Porém, ao contrário de uma ressaca comum, os sintomas se intensificam.

Até a tarde desta quinta-feira (2) foram registradas 59 notificações de intoxicação por metanol, segundo informou o ministro da Saúde Alexandre Padilha durante coletiva de imprensa, sendo 11 confirmados e 42 em investigação. A maioria dos casos é de São Paulo (53), cinco são de Pernambuco e apenas uma é do Distrito Federal. Também foram contabilizadas seis mortes, todas no estado paulista.

Sinais de alerta

Os principais sinais de que pode se tratar de intoxicação por metanol são: dor abdominal intensa e em cólica (diferente da dor de estômago causada pelo álcool comum); alterações visuais, como visão borrada, turva ou pontos luminosos (“fosfina”).

“Esse é um sinal de alerta muito importante porque quando o metanol é metabolizado no ácido fórmico, ele tem predileção pelo sistema nervoso central e pelo nervo óptico. Esse dano pode ser irreversível, tanto da visão como do sistema nervoso central”, explica Ponce.

O que fazer

Se houver sintomas gastrointestinais fortes ou alterações na visão, a orientação é procurar imediatamente um pronto-socorro. “Esse paciente vai ser atendido, vão ser realizados exames laboratoriais como a gasometria, que já dá uma pista de que o paciente está intoxicado. Existe tratamento, mas precisa ser numa fase ainda reversível do quadro”, destaca a médica.

O tempo de resposta é curto: até 12 horas após os primeiros sintomas há uma maior chance de reversão. Uma vez instalada a cegueira, o dano costuma ser permanente.

Atendimento e tratamento

De acordo com Daniela Ponce, os serviços de urgência estão preparados para receber pacientes, com protocolos já orientados pelo Ministério da Saúde e pelo governo de São Paulo. O tratamento pode incluir medicamentos que competem com o metanol no organismo e sessões de diálise para remover tanto o metanol quanto o ácido fórmico.

“É possível tratar, é possível remover o metanol em um tempo curto e evitar a irreversibilidade do quadro e o óbito. Mas agora precisamos da população em dois sentidos: primeiro, se puder evitar a bebida alcoólica destilada, evite. Se não puder ou não quiser, nos primeiros sinais de alerta, procure o sistema de saúde”, conclui.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

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