O Brasil enfrenta um déficit de chuvas em suas principais bacias hidrográficas há pelo menos dez anos, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres (Cemaden). Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o geógrafo Wagner Ribeiro, professor da Universidade de São Paulo (USP), destaca que a situação já impacta diretamente a geração de energia elétrica no país.
“Isso traz muita preocupação, porque, no caso brasileiro, nós usamos muita água para a geração de energia elétrica, e a repercussão está chegando nos bolsos de todos nós, consumidores”, diz. Segundo ele, quando os reservatórios ficam em níveis baixos, o governo é obrigado a acionar usinas termelétricas, que são mais caras e poluentes. “A chamada bandeira [tarifária] vermelha mostra claramente que o sistema está operando com pouca água”, explica.
“Nós temos um déficit de chuva bastante preocupante nos últimos dez anos e que traz, de fato, um alerta: 80% da nossa energia elétrica vem da hidrelétrica”, pontua. Segundo Ribeiro, o problema está ligado à mudança no padrão de chuvas, que não segue mais as médias históricas utilizadas em modelos de previsão. “Está mudando o padrão de chuva, não é mais a média que tinha de quando se calculava”, aponta.
Ele alerta que o país corre risco de uma crise aguda se a demanda continuar crescendo sem que a oferta seja repensada. “Como vai aumentar a demanda e, ao mesmo tempo, dar conta de suprir essa demanda quando a fonte principal, que são as chuvas, estão diminuindo para a reposição dos reservatórios?”, questiona.
O professor defende ações urgentes, como ampliar programas de eficiência energética e melhorar o sistema de transmissão, que hoje gera uma grande perda de energia pela distância entre as barragens e os centros consumidores. “Temos que ser mais eficientes, portanto, no uso dessa energia, o que implica ter programas de eficiência energética. Temos que fazer algo muito sério e com urgência, que é aprimorar o sistema de transmissão de energia”, clama.
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