Ibama dá sinal verde para Petrobras perfurar poço exploratório na Bacia da Foz do Amazonas
O Ibama autorizou, na segunda-feira (20), a Petrobras a perfurar um poço em águas profundas na região da Foz do Amazonas, localizada na Margem Equatorial — que se estende do Amapá ao Rio Grande do Norte. O aval é exclusivo para pesquisa exploratória.
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A atividade na região é duramente criticada por ambientalistas, enquanto especialistas em petróleo ressaltam sua importância para a produção. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que a Margem Equatorial representa o “futuro da soberania energética”.
Entenda nesta reportagem o que se sabe e o que falta saber sobre a operação. (clique nas perguntas abaixo para navegar pelo conteúdo)
Qual é a permissão concedida pelo Ibama?
Quanto tempo vai levar a pesquisa?
Onde será a exploração?
Qual o tamanho da Bacia da Foz do Amazonas?
Qual é a importância estratégica da área?
Qual volume pode ser extraído?
Quanto pode ser arrecadado?
Qual é a qualidade do óleo na região?
Qual o custo do navio usado para a perfuração?
Por que as ações da Petrobras caíram após aval do Ibama?
O que dizem Ibama e Petrobras?
Como ambientalistas avaliam a aprovação?
Quanto tempo levou para o Ibama conceder a licença?
Quais os próximos passos?
Qual é a permissão concedida pelo Ibama?
Na prática, a licença concedida pelo Ibama autoriza a realização de atividades de perfuração e pesquisa em um bloco na Foz do Amazonas. (veja a localização exata mais abaixo)
A proposta é que a empresa realize estudos para verificar se realmente existe potencial de ocorrência de petróleo na região. Caso a presença de petróleo seja confirmada, será necessário obter novas licenças para a extração.
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Quanto tempo vai levar a pesquisa?
A perfuração pela Petrobras está prevista para começar de forma imediata e deve durar cerca de cinco meses. Os efeitos concretos da iniciativa, portanto, só poderão ser observados após esse período.
Nesta fase, não há produção de petróleo: trata-se exclusivamente de pesquisa exploratória. Apesar disso, essa etapa é vista como uma derrota para aqueles que são contra a exploração na região.
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Onde será a exploração?
A perfuração será realizada no bloco FZA-M-059, localizado em mar aberto, a cerca de 175 km da costa do Amapá e 500 km da foz do Rio Amazonas, em uma área de águas profundas.
Segundo a Petrobras, serão coletados dados geológicos para verificar a presença de petróleo e gás em escala comercial. (veja as próximas etapas mais abaixo.)
Infográfico mostra o local em que a Petrobras vai explorar petróleo na bacia da Foz do Amazonas.
Arte/g1
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Qual o tamanho da Bacia da Foz do Amazonas?
A área está localizada no extremo oeste da Margem Equatorial brasileira e tem cerca de 268 mil km², segundo a Petrobras. A extensão abrange a plataforma continental, o talude e a região de águas profundas, até o limite entre as crostas continental e oceânica.
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Qual é a importância estratégica da área?
A Margem Equatorial, onde está localizada a Bacia da Foz do Amazonas, é vista como uma das novas fronteiras de exploração de petróleo e gás no Brasil, com potencial para se tornar um novo “pré-sal”, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME).
A região é considerada promissora devido à semelhança geológica com as bacias vizinhas da Guiana e do Suriname, que concentram algumas das reservas de petróleo e gás mais relevantes do mundo.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), esses países passaram de zero produção em 2019 para 360 mil barris por dia em 2023, com projeções de ultrapassar 1 milhão de barris diários até 2027.
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Qual volume pode ser extraído?
O governo estima que a Margem Equatorial teria reservas que permitiriam explorar 1,1 milhão de barris de petróleo diariamente. É mais do que a capacidade dos dois principais campos da Bacia de Santos: Tupi, com cerca de 850 mil barris por dia, e Búzios, que ultrapassou os 900 mil.
Segundo o MME, com isso, seria possível retirar até 10 bilhões de barris de petróleo da região. Atualmente, o Brasil tem uma reserva comprovada de 16,8 bilhões de barris — o que seria suficiente para manter o país sem precisar comprar petróleo de outros países até 2030.
A EPE calcula que a Bacia da Foz do Amazonas possui um volume recuperável de 6,2 bilhões de barris de óleo equivalente. A estimativa faz parte de um estudo que compõe um projeto dedicado à análise das bacias sedimentares brasileiras.
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Quanto pode ser arrecadado?
Em entrevista à GloboNews, o ministro Alexandre Silveira afirmou que a Margem Equatorial poderá receber mais de R$ 300 bilhões em investimentos e gerar até R$ 1 trilhão em arrecadação nas próximas décadas, com retorno para áreas como saúde e educação.
Ele não detalhou o potencial específico da Bacia da Foz do Amazonas, situada na mesma região.
Segundo o Simulador de Impacto na Margem Equatorial, do Observatório Nacional da Indústria, uma produção de 100 mil barris diários na costa do Amapá — 16% da atual produção da Guiana — poderia acrescentar R$ 10,7 bilhões ao PIB do estado e criar 53,9 mil empregos.
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Bruno Carazza fala sobre exploração da Bacia da Foz do Amazonas
Qual é a qualidade do óleo na região?
Ainda não existem estudos oficiais que comprovem a qualidade do petróleo e do gás natural na Bacia da Foz do Amazonas.
Os óleos que eventualmente forem encontrados podem ser classificados como leves, médios ou pesados, conforme a densidade avaliada em graus API — uma escala que compara a densidade do petróleo à da água.
No entanto, essas características só poderão ser confirmadas após a coleta e análise das amostras. Além disso, não há detalhamento sobre o teor de enxofre do material.
As primeiras respostas sobre a composição e a qualidade do petróleo e do gás devem surgir ao longo do período de exploração, previsto para cerca de cinco meses, quando os resultados laboratoriais das perfurações forem divulgados.
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Qual o custo do navio usado para a perfuração?
A Petrobras contratou a sonda NS-42 para perfurar um poço na Bacia da Foz do Amazonas. O navio, utilizado na exploração de petróleo e gás e em pesquisas científicas em alto-mar, custa R$ 4 milhões por dia de aluguel.
A embarcação tem 238 metros de comprimento — o equivalente a dois campos de futebol — e uma torre de perfuração com 64 metros de altura, similar a um prédio de 20 andares. Essa estrutura funciona como um elevador, com a função de erguer, descer e sustentar a coluna que perfura o solo.
A NS-42 é capaz de perfurar poços com profundidade de até 12,1 mil metros, considerando tanto a distância entre a superfície e o fundo do mar quanto as camadas de rocha localizadas em níveis ainda mais profundos.
O navio utiliza a mesma tecnologia empregada no pré-sal, com equipamentos de alta precisão e sistemas automáticos de posicionamento. São esses sistemas que mantêm a embarcação estável, sem o uso de âncoras, mesmo diante de correntezas e rajadas de vento.
A sonda pertence à empresa Forsea. A sonda estava parada desde agosto no Amapá esperando pela autorização para perfuração do bloco FZA-M-59, na Bacia da Foz do Amazonas.
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Sonda de perfuração NS-42
Divulgação Foresea
Por que as ações da Petrobras caíram após aval do Ibama?
Mesmo com o avanço para a exploração da Foz do Amazonas, as ações da Petrobras não tiveram bom desempenho na bolsa de valores.
As ações ordinárias da petroleira (PETR3) recuaram 0,54% na segunda-feira, dia do anúncio. Nesta terça, o recuo foi ainda maior, de 1,05%.
Já os papéis preferenciais (PETR4) tiveram leve alta de 0,13% na segunda e queda de 0,74% nesta terça.
Especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que, embora a medida represente um avanço estratégico com foco no longo prazo, o mercado reagiu com pouca empolgação porque já esperava a decisão. Além disso, fatores externos continuaram pressionando as ações da Petrobras.
Um deles é a queda no preço do barril de petróleo no mercado internacional. A cotação atingiu o menor nível em meses, pressionada pelo excesso de oferta e pela recente redução das tensões em conflitos como Rússia-Ucrânia e Israel-Hamas. Nesta terça (21), o Brent foi negociado a US$ 61,63.
O economista Adriano Pires, sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), afirma que a expectativa de um petróleo ainda mais barato em 2026 ajudou a frear o ânimo do mercado.
“Demorou para sair a licença do Ibama para perfurar o poço exploratório na Foz do Amazonas. Quando saiu, o mercado já apontava para uma queda no preço do barril, com uma média prevista de US$ 50 em 2026. Isso vai diminuir a receita da empresa”, diz.
Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos, destaca que o ânimo dos investidores foi mais moderado, principalmente, porque a aprovação já era esperada.
Por outro lado, há a expectativa de que a área a ser explorada tenha características semelhantes às encontradas na Guiana e, possivelmente, no Suriname, o que pode ser “muito positivo” para a Petrobras. A Guiana tem vivido um boom petrolífero como nunca na história.
“Será feita a pesquisa para verificar se há presença de hidrocarbonetos, entender as características geológicas da região e avaliar se há, de fato, proximidade com os reservatórios encontrados na Guiana”, destaca Arbetman.
Segundo os especialistas, ainda não é possível afirmar com precisão quais serão os ganhos em royalties — pagamentos feitos pela exploração de recursos naturais — com a nova exploração.
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Edifício-sede da Petrobras, no centro do Rio
Marcos Serra Lima/g1
O que dizem Ibama e Petrobras?
O Ibama informou que a permissão foi concedida após uma série de aperfeiçoamentos no projeto da Petrobras. Enquanto isso, a petroleira disse que comprovou a “robustez de toda a estrutura de proteção ao meio ambiente” que será usada na perfuração.
A Petrobras também afirmou que novas fronteiras de exploração são importantes para “assegurar a segurança energética do país e os recursos necessários para a transição energética justa”.
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Como ambientalistas avaliam a aprovação?
Após a aprovação, ambientalistas e entidades afirmaram que a licença é um duro golpe nas políticas ambientais às vésperas da COP30.
O Observatório do Clima classificou a medida como uma “dupla sabotagem”, tanto ao planeta quanto à conferência climática que o Brasil vai sediar.
Suely Araújo, coordenadora de Políticas Públicas do Observatório do Clima, disse que, “por um lado, o governo atua contra a humanidade, ao estimular mais expansão fóssil e apostar em mais aquecimento global”.
“Por outro, atrapalha a própria COP30, cuja entrega mais importante precisa ser a eliminação gradual dos combustíveis fósseis”, acrescentou.
O climatologista Carlos Nobre, copresidente do Painel Científico para a Amazônia, alertou que a região está próxima de um limite perigoso.
“A Amazônia está muito próxima do ponto de não retorno. Não há justificativa para qualquer nova exploração de petróleo”, criticou.
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Quanto tempo levou para o Ibama conceder a licença?
A licença para exploração encerra um processo que durou mais de uma década. O bloco foi concedido em 2013 e o processo de licenciamento ambiental do bloco 59 começou em abril de 2014.
O tema passou a ser discutido pelo Ibama a pedido da empresa BP Energy do Brasil. Em 2020, os direitos de exploração de petróleo no bloco foram transferidos para a Petrobras.
Em agosto, a empresa realizou um simulado de emergência supervisionado pelo Ibama, etapa final para comprovar a capacidade de resposta e segurança da operação.
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Quais os próximos passos?
Antes que a estatal inicie a produção de petróleo na Foz do Amazonas, é necessário cumprir algumas etapas. Entre elas:
confirmar a existência de petróleo em volume suficiente para justificar o investimento na produção;
declarar a comercialidade da área, dando início à fase de desenvolvimento do campo;
obter a aprovação de novos licenciamentos ambientais junto ao Ibama para as atividades de instalação de equipamentos, infraestrutura e produção.
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Área da Foz do Amazonas
Arte/g1
André Trigueiro: Brasil vive ‘contradição’ com autorização para pesquisas de petróleo na Foz do Amazonas
* Com informações da GloboNews, de Roberto Peixoto e de Poliana Casemiro.
Quanto pode ser arrecada?

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