SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda firme nesta quinta-feira (11), um dia depois do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) manter a taxa Selic em 15% ao ano.
O comitê, no entanto, não indicou quando iniciará o corte de juros no Brasil. Também é destaque a decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) de ter cortado a taxa pela terceira vez consecutiva, colocando os juros entre 3,5% e 3,75%.
Às 12h54, a moeda norte-americana recuava 1,1%, a R$ 5,405, aprofundando a queda em linha com o movimento no exterior. O índice DXY, que compara o dólar ante seis outras divisas fortes, tinha perdas de 0,48%, a 98,18 pontos.
Já a Bolsa avançava 0,3%, a 159.559 pontos, apesar da queda de mais de 1% dos papéis da Petrobras.
O Copom manteve, em decisão unânime, a taxa básica de juros fixada em 15% ao ano pela quarta reunião seguida, fechando 2025 com a Selic no nível mais alto em quase duas décadas.
Apesar da desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) e da pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela queda dos juros, o colegiado do BC optou por uma postura mais conservadora e empurrou os cortes da Selic para 2026, ano eleitoral.
A manutenção já era esperada pelos integrantes do mercado. Frustrou, por outro lado, a falta de sinalizações sobre o início do ciclo de cortes. No comunicado que acompanha a decisão, o Copom repetiu que a Selic deve seguir alta “por período bastante prolongado”, sem suavizar a linguagem.
O comitê também avaliou que a estratégia “em curso” de manutenção dos juros por “período bastante prolongado” é “adequada para assegurar a convergência da inflação à meta”. No comunicado anterior, de novembro, não havia o termo “em curso” e, em vez de “adequada”, a palavra usada foi “suficiente”.
“Essa adição está em linha com o discurso recente do presidente do BC, Gabriel Galípolo, que esclareceu que o ‘bastante’ não reinicia a cada reunião, ou seja, esse período já vem ocorrendo há meses”, avaliou o consultor Sérgio Goldenstein, da Eytse Estratégia, em comentário enviado a clientes. “A retirada do caráter de guidance [sinalização dos passos futuros] abre espaço para corte já em janeiro sem ruptura na comunicação.”
Para o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth M anagement, Gino Olivares, o BC manteve no comunicado seu diagnóstico e sua sinalização. “Entendemos que isso deve esvaziar as apostas do mercado pelo início do ciclo de cortes de juros em janeiro. Nossa opinião, há algum tempo, é de que as condições para esse início não estarão dadas antes de março”, pontuou.
Ou seja, a dúvida se o início das reduções será em janeiro ou março persiste. Enquanto isso, no exterior, as apostas majoritárias são de que o Fed manterá a taxa de juros na faixa de 3,50% a 3,75% em janeiro. Na tarde de quarta-feira, o banco central dos EUA promoveu um corte de 0,25 ponto percentual, como esperado.
Jerome Powell, presidente da autarquia, afirmou que os juros estão bem posicionados para responder ao que está por vir para a economia, se recusando a indicar quais serão os próximos passos.
“Eu destacaria que, tendo reduzido nossa taxa de juros em 0,75 ponto percentual desde setembro e 1,75 ponto desde setembro do ano passado, a taxa básica está agora dentro de uma ampla faixa de estimativas de seu valor neutro e estamos bem posicionados para esperar para ver como a economia evolui”, disse Powell em entrevista coletiva após a decisão
Ele acrescentou que “a política monetária não está em um curso predefinido” e que o comitê tomará decisões “reunião a reunião”.
A fala de Powell “foi uma sinalização que mantém a porta aberta, sem garantir continuidade imediata do ciclo”, afirma João Duarte, sócio da One Investimentos. Essa postura injetou ânimo nos mercados, e o dólar apresentou fraqueza ante a maior parte das moedas globais.
Agora, os próximos dados da economia norte-americana serão observados de perto para que os operadores possam antever as próximas decisões. Por enquanto, a probabilidade de um novo corte de 0,25 ponto é de 24,4% na ferramenta FedWatch.
No Brasil, persistem ruídos sobre a corrida eleitoral de 2026. Deputados aprovaram na madrugada de quarta-feira um projeto de lei que reduz as penas de condenados pela tentativa de golpe de Estado do dia 8 de janeiro de 2023 -incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), cujo período no regime fechado pode passar de quase 7 anos para 2 anos e 4 meses.
Há a leitura de que, com a possível redução da pena de Bolsonaro, aumentariam as chances de o senador Flávio Bolsonaro (PL) desistir da candidatura à Presidência em 2026. Isso colocaria na disputa novamente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome favorito da Faria Lima.
Apesar da aprovação na Câmara, o projeto ainda precisa passar pelo Senado e, posteriormente, ser sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se o texto for vetado por Lula, o Congresso ainda poderia votar pela derrubada do veto. Há ainda dúvidas sobre a postura do STF (Supremo Tribunal Federal) quanto à validade da proposta.
“A verdade é que 2026 atropelou 2025”, afirmou o responsável pela área de renda variável da Criteria, Thiago Pedroso. Ele afirma que o mercado ainda está tentando entender se o PL da Dosimetria é “moeda de troca real ou só mais um capítulo da novela Brasília 40 graus”.
“O clima institucional segue pesado e qualquer ruído extra está sendo precificado quase instantaneamente.”
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