Depois dos 39 segundos de “química” nos bastidores da Assembleia-Geral da ONU, um telefonema de 30 minutos selou a reabertura das negociações entre o presidente Lula e seu homólogo norte-americano, Donald Trump. “Tivemos uma ótima conversa e vamos começar a fazer negócios”, resumiu o republicano a jornalistas na Casa Branca. Trump não confirmou presença na COP30, em Belém, mas disse querer encontrar-se em breve com o presidente brasileiro: “Em algum momento, eu irei ao Brasil. E ele virá aqui. Estamos conversando sobre isso”.
O presidente dos EUA parece ter rifado Jair Bolsonaro. Em nenhum momento citou o ex-presidente condenado por tentativa de golpe, a quem havia dedicado o tarifaço por acreditar que era vítima de uma “caça às bruxas” do Judiciário brasileiro. Desolado, Eduardo Bolsonaro ainda tentou azedar a aproximação, dizendo que Trump deu um “golpe de mestre” ao escalar Marco Rubio para as tratativas – alguém que, segundo ele, conhece bem os “regimes totalitários de esquerda” e “não cairá em conversa mole”.
Rubio pode atrapalhar, mas Lula abriu um canal direto com Trump. A aproximação foi uma ducha de água fria nas ilusões bolsonaristas. A marcha na terça-feira 7, em Brasília, foi um fiasco, e a proposta de anistia enfrenta crescentes resistências. Relator do projeto, o deputado Paulinho da Força antecipou que vai propor apenas a redução das penas. Além disso, 52% dos brasileiros, segundo a Quaest, consideram justas as penas aplicadas.
A vez da rataria
O ministro Flávio Dino, presidente da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, marcou para 11 de novembro o início do julgamento de dez réus do núcleo militar da trama golpista, com sessões adicionais nos dias 12, 18 e 19. Entre os acusados figuram oficiais das Forças Especiais do Exército, apelidados de “kids pretos”, e o agente da Polícia Federal Wladimir Matos Soares, que teria repassado dados sigilosos sobre a posse de Lula em 2023. Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República, o grupo elaborou o plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato de Lula, do vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes.
Conselho de Ética/ Arcar com as consequências
Câmara abre processos contra bolsonaristas por motim no Plenário
Hugo Motta preferiu não aplicar o rito sumário aos amotinados – Imagem: Marina Ramos/Agência Câmara
O Conselho de Ética da Câmara instaurou, na terça-feira 7, processos disciplinares contra três deputados envolvidos no motim bolsonarista que paralisou o plenário da Casa Legislativa em agosto. As sanções sugeridas pela Corregedoria incluem suspensão de 90 dias para Marcos Pollon (PL) e de 30 dias para Zé Trovão (PL) e Marcel van Hattem (Novo).
Os três parlamentares protagonizaram momentos de tensão durante a tentativa de obstruir o retorno do presidente da Câmara à Mesa Diretora. Zé Trovão chegou a barrar a passagem de Hugo Motta com a perna, enquanto os outros dois se recusaram a deixar as cadeiras. Ainda assim, Motta preferiu não aplicar o rito sumário, optando por encaminhar os casos ao trâmite regular. Dos 14 deputados envolvidos no motim, apenas três foram alvo de recomendação de afastamento temporário. Aos demais deve ser aplicada uma censura escrita, punição branda que não requer votação em plenário.
Rio de Janeiro/ Punição bilionária
Justiça fluminense condena Pezão e Cabral por esquema de caixa 2 em campanha de 2014
A dupla terá de devolver quase 4 bilhões de reais ao Erário – Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil
A 15ª Vara de Fazenda Pública da Capital condenou, na segunda-feira 6, os ex-governadores do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão, além do ex-secretário estadual de Obras Hudson Braga, por enriquecimento ilícito e dano ao Erário. A decisão atende a uma ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público estadual em 2018. Segundo a denúncia, os réus participaram de um esquema de concessão ilegal de benefícios fiscais a empresas, em troca de recursos não declarados – caixa 2 – destinados à campanha de Pezão ao governo naquele ano.
Cabral foi condenado a devolver 2,5 bilhões de reais aos cofres públicos, que serão recolhidos a partir de “valores ilegalmente acrescidos ao seu patrimônio”, e a pagar uma indenização de 25 milhões de reais por “danos morais coletivos”, além de ter seus direitos políticos suspensos por dez anos. Pezão, que hoje é prefeito de Piraí (RJ), terá de restituir 1,4 bilhão de reais ao Erário, pagar 10 milhões de reais de indenização e ficará inelegível por nove anos. Já Braga terá de ressarcir “apenas” 35 milhões de reais, além de permanecer afastado da política por oito anos.
Crime e castigo
Eleito vereador em Cotia (SP) no ano passado, o ator e ex-deputado federal Alexandre Frota teve o mandato cassado na sexta-feira 3 pela Câmara Municipal, após sofrer uma condenação definitiva na Justiça Federal por injúria e difamação. O crime foi cometido em 2017, quando Frota ainda não ocupava cargo público: em suas redes sociais, ele difundiu uma sórdida fake news, atribuindo ao então deputado Jean Wyllys falsas declarações em defesa da pedofilia. A pena imposta foi de dois anos e 26 dias de detenção, mas poderá ser substituída por prestação de serviços comunitários.
Bebidas adulteradas/ Drinque mortal
Ministério da Saúde recebe primeiro lote de antídoto contra metanol
A polícia fecha o cerco aos envolvidos em falsificações – Imagem: SSP/Vigilância Sanitária/GOVSP
O Ministério da Saúde recebeu, na quinta-feira 9, um primeiro lote com 2,5 mil ampolas de fomepizol, medicamento utilizado como antídoto contra intoxicações por metanol, substância altamente nociva ao organismo humano e responsável pelos casos de envenenamento por bebidas alcoólicas adulteradas que se espalham pelo País. Até o fechamento desta edição, ao menos cinco mortes, todas em São Paulo, haviam sido confirmadas. Outros 11 óbitos estavam sob investigação em vários estados. Ao todo, o Ministério da Saúde recebeu a notificação de 257 casos suspeitos de intoxicação.
Enquanto os casos se multiplicam, cresce o cerco ao mercado de bebidas adulteradas no Brasil. Na terça-feira 7, a Polícia Civil de São Paulo apreendeu 100 mil garrafas originais vazias em um galpão clandestino na Vila Formosa, Zona Leste da capital. As garrafas estavam escondidas em uma suposta empresa de reciclagem, e dois homens que estavam no local foram presos e autuados por falsificação e adulteração de bebidas. Após afirmar que só iria se preocupar “quando começassem a falsificar Coca-Cola”, o governador Tarcísio de Freitas pediu desculpas aos familiares das vítimas.
França/ O preço da prepotência
Sébastien Lecornu renuncia menos de um mês após assumir
Seu gabinete não durou 14 horas – Imagem: Stephane Mahe/AFP
Quarto primeiro-ministro a cair em menos de um ano e meio – e o mais breve deles, com apenas 27 dias no cargo –, Sébastien Lecornu renunciou ao governo da França na segunda-feira 6. A decisão foi anunciada apenas 14 horas após a divulgação de seu gabinete, cuja composição conseguiu desagradar tanto aliados quanto opositores. O pedido de renúncia foi aceito pelo presidente Emmanuel Macron, que agora deverá indicar outro nome para o posto.
Antes de Lecornu, o país havia testemunhado a queda precoce de Gabriel Attal, Michel Barnier e François Bayrou, todos derrotados pelas mesmas intransigências partidárias que travam a aprovação do Orçamento francês. E não há qualquer sinal de que o próximo nomeado terá mais êxito na tentativa de aprovar as contas públicas para 2026 na Assembleia Nacional.
A instabilidade política tornou-se crônica desde a reeleição de Macron em 2022, marcada pela ausência de maioria parlamentar. A crise agravou-se após o presidente convocar eleições legislativas antecipadas no ano passado, que resultaram em um Parlamento ainda mais fragmentado e disfuncional.
Diante do impasse, crescem os apelos por mudanças mais profundas. “A contagem regressiva começou”, declarou a deputada Mathilde Panot, do partido de esquerda França Insubmissa, que defende a renúncia de Macron. Jordan Bardella, presidente do ultradireitista Reagrupamento Nacional, defendeu a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições.
Com apenas 16% de aprovação popular, Macron segue no cargo até 2027, sem possibilidade de disputar um novo mandato. Apesar das pressões, o presidente afirma que pretende cumprir o mandato até o fim – missão que exigirá habilidade política para restaurar a confiança e evitar o colapso da governabilidade na França.
Falsa bandeira?
A Venezuela denunciou, na segunda-feira 6, um suposto plano de “setores extremistas da direita local” para plantar explosivos na Embaixada dos EUA em Caracas. Jorge Rodríguez, chefe da delegação venezuelana nas negociações com o governo Trump, classificou a ação como uma “operação de falsa bandeira”, afirmou ter alertado Washington por três canais distintos e anunciou reforço na segurança da sede diplomática. O alerta surge em meio à escalada de tensão entre os países, após a mobilização das Forças Armadas norte-americanas no Caribe, sob o pretexto de combater o narcotráfico.
Publicado na edição n° 1383 de CartaCapital, em 15 de outubro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A Semana’