Apesar da guerra na Faixa de Gaza, a pressão para uma solução diplomática de dois Estados, Palestina e Israel, ganha força na comunidade internacional. Após dois dias de discussões, a conferência sobre a questão palestina, copresidida pela França e pela Arábia Saudita, terminou na sede das Nações Unidas, em Nova York, com um pedido inédito de países árabes pelo desarmamento do Hamas.
Países árabes se somaram nesta terça-feira 29 a um pedido para que o Hamas se desarme e deixe de controlar a Faixa de Gaza, em uma tentativa de encerrar um conflito de sete décadas no Oriente Médio. Dezessete países, além da União Europeia e da Liga Árabe, apoiaram a Declaração de Nova York. Entre os signatários estão Brasil, Arábia Saudita, Canadá, Catar, Egito, Espanha, França, México e Reino Unido.
“No contexto de encerrar a guerra na Faixa de Gaza, o Hamas deve pôr fim ao controle do território e entregar as armas à Autoridade Palestina, com participação e apoio internacional, seguindo o objetivo de um Estado palestino soberano e independente”, diz o documento, de sete páginas.
Na segunda-feira, a delegação palestina na ONU havia feito um apelo para que tanto Israel quanto o Hamas abandonem a Faixa de Gaza e permitam que a Autoridade Palestina administre o território.
O texto condena os ataques de 7 de outubro de 2023 do Hamas contra Israel, o que a Assembleia Geral da ONU ainda não fez.
Na tribuna da ONU, onde anunciou a aprovação da declaração, o ministro das Relações Exteriores saudita, príncipe Faisal bin Farhan, pediu aos 193 países-membros da organização que apoiem o documento antes da Assembleia Geral, em setembro.
A França, que presidiu a reunião juntamente com a Arábia Saudita, referiu-se à declaração como “histórica e sem precedentes”. “Pela primeira vez, os países árabes e os do Oriente Médio condenam o Hamas, condenam o 7 de Outubro, pedem o desarmamento do Hamas, pedem a sua exclusão do governo palestino e expressam claramente sua intenção de ter relações normalizadas com Israel no futuro”, ressaltou o chanceler francês, Jean-Noel Barrot.
A declaração também pede o possível envio de forças estrangeiras para estabilizar a Faixa de Gaza após o fim das hostilidades. Os aliados Israel e Estados Unidos não participaram da reunião.
Vinte e um meses de guerra
O chefe da diplomacia britânica, David Lammy, afirmou que Londres vai reconhecer formalmente um Estado palestino em setembro se Israel não tomar medidas para mudar a situação na Faixa de Gaza, incluindo um acordo de cessar-fogo e a entrada de ajuda humanitária suficiente.
A decisão do Reino Unido veio após o anúncio do presidente Emmanuel Macron de que a França vai reconhecer um Estado palestino em setembro, durante a Assembleia Geral.
Embora mais de 140 países já reconheçam o Estado da Palestina, nenhum deles tem o peso do Reino Unido e da França, aliados de Israel, que possuem armas nucleares e são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
Durante décadas, a maioria dos membros da ONU apoiou a solução de dois Estados, mas, após mais de 21 meses de conflito na Faixa de Gaza, a expansão dos assentamentos israelenses na Cisjordânia e a declaração de funcionários israelenses sobre planos de anexar o território ocupado, teme-se que criar um Estado palestino possa se tornar geograficamente impossível.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou ontem na conferência que “a solução de dois Estados está mais distante do que nunca”.
Em declaração divulgada na noite de terça-feira, 15 países, incluindo França e Espanha, reafirmaram seu “apoio firme à visão da solução de dois Estados”. Entre os signatários, nove países que ainda não reconheceram um Estado palestino expressaram sua “disposição ou consideração positiva”: Andorra, Austrália, Canadá, Finlândia, Luxemburgo, Malta, Nova Zelândia, Portugal e San Marino.
(Com AFP)