Ícone de Busca

O empreendedorismo sênior atingiu marca inédita no país, com 4,3 milhões de pessoas acima de 60 anos à frente de empresas, segundo levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Como a expectativa de vida alcançou 85 anos em 2023, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o avanço do indicador acompanhou o crescimento do empreendedorismo sênior, que subiu 53% desde 2012.

De 2020 para cá, a alta foi de 34%. Os números são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE (Pnad Contínua). No Paraná, 213 mil negócios são liderados por pessoas acima dos 60 anos: houve aumento de 9,2% em oito anos, segundo o Sebrae.

Apesar de dedicar menos horas semanais ao trabalho, o público sênior registra melhores rendimentos médios e negócios mais longevos em comparação com outras faixas etárias.

“Muitos aposentados, diante do alto custo da nova fase de vida, recorrem ao empreendedorismo para equilibrar as contas. Além disso, alguns precisam assumir compromissos feitos por familiares, diante dos empréstimos consignados feitos em seus nomes, por filhos e netos; e por outro lado, outros aproveitam sua experiência para transformar desafios em novas oportunidades”, explica o economista da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Marcos Rambalducci.

VEJA TAMBÉM:

  • PCC controla império bilionário em 15 setores e você pode ser cliente sem saber

Empreendedorismo sênior ganha espaço entre pessoas com ensino superior

O perfil do empreendedor sênior mudou desde 2012. Nesse período, caiu em 22,2 pontos percentuais o número de empreendedores com baixa escolaridade. Por outro lado, cresceu a fatia com ensino médio e superior completo.

Homens lideram 72% das 4,3 milhões de empresas; mulheres, 28%. De acordo com o Sebrae, a renda média mensal é de R$ 4.076. Os ramos de atividade e o índice de concentração de empreendedores acima dos 60 anos estão distribuídos da seguinte forma:

  • serviços (30%)
  • comércio (24%)
  • agronegócio (23%)
  • outras atividades (23%)

Segundo o levantamento do Sebrae, apesar de dedicar menos horas semanais ao trabalho, o público sênior registra melhores rendimentos médios e negócios mais longevos em comparação a outras faixas etárias. “São várias razões para justificar esse aumento de pessoas acima de 60 anos que estão empreendendo. E uma das que nós conseguimos identificar realmente é a experiência de vida que soma o desejo de empreender”, afirmou Álamo Santos, analista de negócios do Sebrae.

Custo de vida na terceira idade empurra para novos empreendimentos

O empreendedorismo sênior também cresce como resposta a dificuldades financeiras. Segundo o Serasa, a inadimplência entre pessoas com mais de 60 anos subiu 43% nos últimos cinco anos, atingindo 15 milhões de nomes negativados.

“O aumento do custo de vida na terceira idade, especialmente com gastos de saúde, e a limitação do poder de compra da previdência tornam o empreendedorismo uma alternativa prática e necessária para garantir renda. Diante desse cenário, muitos optam por trabalhar por conta própria ou abrir um negócio”, afirma Renan Pieri, professor de economia da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP).

De acordo com Pieri, o crescimento do empreendedorismo entre idosos reflete mudanças estruturais na economia e na sociedade. Ele destaca que melhores condições de saúde permitem que pessoas idosas tenham mais disponibilidade para o trabalho, mesmo diante das dificuldades de ingresso no mercado formal.

“Empresas adotam políticas de contratação restritivas e a velocidade das mudanças tecnológicas exige atualização constante, dificultando a reinserção no trabalho tradicional. Por isso, muitos se voltam para o empreendedorismo”, explica o professor.

Da universidade à startup de cosméticos

Histórias individuais mostram a força do fenômeno. A professora aposentada Aneli Dekker, 69 anos, transformou três décadas de pesquisa em um negócio inovador.

Após deixar a Universidade Estadual de Londrina (UEL), ela criou a startup Beta-Glucan Biotecnologia. A empresa desenvolve cosméticos à base de beta-glucana, substância com efeito anti-idade e propriedades cicatrizantes.

Empreendedorismo sênior: a professora Aneli Dekker usa o que antes ficava restrito a artigos e laboratórios: a beta-glucana, com seus benefícios em cosméticos.Transformar ciência em cuidado: a professora Aneli Dekker usa o que antes ficava restrito a artigos e laboratórios, a beta-glucana, com benefícios em cosméticos. (Foto: Divulgação/Acervo Aneli Dekker)

“Quero deixar a beta-glucana como um legado que já está beneficiando e vai continuar a beneficiar a comunidade. Afinal, ela tem propriedades maravilhosas. Eu não queria que ficasse apenas nos artigos científicos e capítulos de livros, como consulta para o meio científico. Por isso, comecei a trabalhar para deixá-la ao dispor da população e, assim, as pessoas pudessem usufruir dos seus benefícios”, disse Aneli Dekker.

Fundada em 2020, a startup tem no portfólio negócios com farmácias locais e inclui loções corporais, itens faciais e água micelar. Aneli afirma que nunca havia se visto como empreendedora, porém, o conhecimento e a vontade de continuar trabalhando foram fatores decisivos para empreender.

“Tenho clientes que controlam rosácea com nossos produtos. Tem cicatrizado queimaduras causadas por diferentes agentes. Tem cicatrizado feridas”, contou a empreendedora.

Repost

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *