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A disputa no setor automotivo brasileiro se intensificou após Volkswagen, Toyota, Stellantis e General Motors pedirem ao presidente Lula a manutenção dos impostos de importação sobre carros desmontados. Em resposta, a montadora chinesa BYD provocou o establishment nacional questionando por que sua presença causa tanto incômodo.

A fabricante da segunda maior economia global busca redução temporária do Imposto de Importação para carros semidesmontados — de 18% para 10% em elétricos e de 20% para 10% em híbridos — enquanto finaliza sua fábrica em Camaçari (BA). A medida seria válida por um ano, até que a planta esteja apta a produzir com componentes nacionais.

Em resposta intitulada “Por que a BYD incomoda tanto?”, a empresa chinesa não poupou críticas às concorrentes. Afirma que seu “problema” é ser bem recebida pelos consumidores brasileiros que, segundo ela, “foram obrigados a pagar caro por tecnologia velha e design preguiçoso” por décadas.

A companhia defende que trouxe ao Brasil veículos “tecnológicos, sustentáveis e mais acessíveis”, citando como exemplo a redução de mais de R$ 100 mil no preço de um modelo elétrico concorrente após sua chegada. Para Alexandre Baldy, vice-presidente da BYD no Brasil, as montadoras estabelecidas fazem “chantagem com o governo” ao ameaçar demissões e suspensão de investimentos.

A BYD está investindo R$ 5,5 bilhões na implantação de uma fábrica para produção de automóveis elétricos e híbridos em Camaçari (BA), na região metropolitana de Salvador, onde antes funcionava a unidade da Ford.

A empresa projeta nacionalização de até 70% da produção e garante que a importação temporária de kits para montagem é prática comum no setor — estratégia adotada por outras montadoras antes de atingirem produção completa.

Do outro lado, a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e as quatro grandes montadoras alertam para riscos significativos. Argumentam que a concessão do benefício pode comprometer R$ 60 bilhões em investimentos previstos até 2030 e resultar no fechamento de 50 mil postos de trabalho formais. O temor é que o Brasil se torne uma “maquila” — plataforma de montagem de baixa complexidade que sacrifica empregos qualificados e desenvolvimento tecnológico local.

Igor Calvet, presidente da entidade empresarial, ressalta que o setor precisa de previsibilidade e que mudanças nas regras forçam empresas a reavaliar planos. A preocupação se intensifica diante dos números: importações de veículos chineses nos primeiros seis meses de 2025 quase igualaram o total de 2024, com marcas chinesas já representando 5,4% dos emplacamentos totais, segundo números da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

A BYD aposta no apoio popular para fortalecer sua posição. Cita comentários nas redes sociais da própria Anfavea, como “Lutar por carro mais barato vocês não lutam, agora querem nosso apoio pra quê?”. Para a montadora chinesa, a resistência das estabelecidas sinaliza que está no caminho certo — oferecendo mais tecnologia por menos dinheiro.

A decisão sobre os incentivos para a BYD poderá ser tomada ainda nesta quarta. O impasse ocorre em cenário de crescente protecionismo global e intensificação das relações comerciais Brasil-China, com governadores de seis estados pedindo adiamento da discussão.

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