A presença masculina no mercado de beleza e estética avança no Brasil, mas ainda encontra barreiras sociais. Segundo levantamento da Kantar, 72% dos homens já demonstram interesse por produtos de beleza. No entanto, o avanço do setor esbarra na resistência cultural ligada à ideia de masculinidade e ao tabu sobre o autocuidado.
Interesse cresce, mas limita expansão
Entre os itens mais buscados estão pomadas capilares, óleos para barba, shampoos, tônicos e cremes. Procedimentos como aplicação de toxina botulínica, peelings, transplante capilar e rinoplastia também vêm ganhando adesão. Apesar disso, apenas 17% dos homens procuram tratamentos faciais, segundo o estudo.
De acordo com a biomédica Jéssica Magalhães, muitos pacientes chegam aos consultórios com queixas ligadas à foliculite e à acne, mas hesitam em nomear esse cuidado como autocuidado. Ela destaca que a falta de informação contribui para a cautela: “Existe ainda uma ideia de que cuidar da pele é vaidade, quando na verdade é sobre bem-estar e segurança em ambientes sociais e profissionais.”
Estigma limita o acesso
A especialista afirma que o imaginário coletivo ainda associa o cuidado pessoal à ausência de virilidade, o que inibe a procura masculina. Em seu consultório, porém, a presença de pacientes homens aumentou 40% nos últimos anos.
Segundo a Grand View Research, a expectativa é que o mercado global de produtos de beleza masculinos cresça 9% até 2030. A tendência já se reflete na busca por peelings químicos, microagulhamento, toxina botulínica e bioestimuladores de colágeno, além de orientações para redução de manchas e melhora da textura da pele.
Homens negros buscam representatividade
Entre os pacientes homens, cresce também a procura de pais que buscam prevenção ao envelhecimento. Nos casos de homens negros, Jéssica ressalta que há atenção especial às manchas e à foliculite, que exigem protocolos diferenciados ainda pouco representados no setor.
Ela destaca que muitos homens negros foram historicamente afastados de ambientes de cuidado, por conta de estigmas relacionados à força e à insensibilidade. “Esse imaginário acabou afastando muitos homens negros das clínicas de estética”, afirma.
Redes sociais influenciam mudança
A biomédica atribui parte da mudança à exposição digital, que favoreceu a busca por autoestima e confiança. Segundo ela, a aproximação com o autocuidado não significa vaidade, mas sim um caminho para romper padrões antigos e construir novos significados para a imagem masculina.
Com a proximidade do Dia dos Pais, Jéssica observa um aumento na procura por tratamentos voltados à queda de cabelo, acne, barba e harmonização facial. Para ela, muitos pais estão se permitindo cuidar de si, criando novas referências de masculinidade.
“Ver esse cuidado nascer como um presente para si no Dia dos Pais é também uma forma de quebrar ciclos e abrir espaço para um novo olhar sobre o bem-estar”, afirma.