O ato convocado por Jair Bolsonaro (PL) em São Paulo neste domingo 29 reuniu 12,4 mil pessoas, segundo uma estimativa do Monitor do Debate Político, formado por pesquisadores da Universidade de São Paulo. O organizador do protesto contra a possível condenação do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal pela tentativa de golpe foi o pastor bolsonarista Silas Malafaia.
A contagem ocorreu no momento de pico, às 15h40, a partir de fotos aéreas analisadas com um software de inteligência artificial. O método, segundo os pesquisadores, tem uma precisão de 72,9% e uma acurácia de 69,5% na identificação de indivíduos. O erro percentual absoluto médio na contagem é de 12% — portanto, pode haver 1,5 mil pessoas para mais ou para menos.
A direção-geral do Monitor do Debate Político é dos pesquisadores da USP Márcio Moretto e Pablo Ortellado.
Trata-se de um público consideravelmente menor que o da manifestação anterior, de 6 de abril. Na ocasião, cerca de 45 mil pessoas foram à mesma Avenida Paulista para pedir anistia aos golpistas do 8 de Janeiro de 2023, de acordo com o mesmo grupo.
Antes mesmo de iniciar oficialmente o ato deste domingo, Malafaia, em clara admissão do comparecimento abaixo do esperado, disse que o número de participantes seria “menos importante” que o teor de seu discurso.
A mobilização, com cartazes contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, também teve bandeiras dos Estados Unidos e de Israel. Ela aconteceu 19 dias depois de Bolsonaro chamar de “malucos” seus apoiadores que montaram acampamentos golpistas em frente a unidades do Exército após a vitória de Lula (PT) em 2022.
“A anistia é um remédio previsto na Constituição, de iniciativa do Parlamento, independentemente de qualquer um dos outros Poderes. É o caminho da pacificação”, alegou, no carro de som. “Esperamos que essa anistia tenha o apoio dos outros dois Poderes, além do Legislativo.”
Na última sexta-feira 27, Moraes declarou encerrada a fase de instrução da ação penal da trama golpista e abriu prazo para as alegações finais da Procuradoria-Geral da República e dos oito réus do chamado núcleo crucial, entre eles Bolsonaro.
O ex-capitão responde por organização criminosa armada, golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.
Eleições 2026
Bolsonaro também reforçou neste domingo sua obsessão por conquistar maioria no Congresso Nacional — especialmente no Senado — com as eleições de 2026.
Ser majoritária na Casa Alta é uma prioridade para a extrema-direita. Seria uma forma, por exemplo, de fustigar ministros do Supremo Tribunal Federal, inclusive com a ameaça ou a abertura de processo de impeachment.
“Se vocês me derem, por ocasião das eleições do ano quie vem, 50% da Câmara e 50% do Senado, eu mudo o destino do Brasil”, alegou o ex-capitão em São Paulo. “Se vocês me derem isso — não interessa onde eu esteja, aqui ou no além —, quem assumir a liderança vai mandar mais que o presidente da República.”
Ao se dirigir ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), Bolsonaro disse que ainda haveria 50% do Parlamento “para o Republicanos, o PSD, o PP, o MDB e o União Brasil”.
Com essa maioria, acrescentou, o bolsonarismo elegeria os presidentes da Câmara e do Senado, controlaria as comissões mais importantes do Congresso, definiria os comandantes das agências reguladoras e escolheria o presidente do Banco Central.
Para atingir a maioria no Senado, seria necessário ter menos 41 dos 81 integrantes.
As declarações também sinalizam também a falta de convicção de Bolsonaro sobre uma eventual recuperação de seus direitos políticos.
Em junho de 2023, o TSE o sentenciou a oito anos longe das urnas por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação devido a uma agenda de julho de 2022 em que reuniu embaixadores estrangeiros para disseminar mentiras sobre o sistema eleitoral brasileiro.
Quatro meses depois, a Corte condenou Bolsonaro por abuso de poder político e econômico nas cerimônias do 7 de Setembro de 2022.