
O brasileiro vive na correria. E isso não significa apenas a correria do dia a dia. Mas sim naqueles momentos em que ele calça um tênis e parte para academias, ruas ou parques e aumenta o passo. Esse boom teve dois momentos no Brasil. O primeiro quando a São Silvestre era um evento que unia famílias na frente da televisão. Depois, quando o famoso Teste de Cooper, criado em 1968 pelo médico Kenneth H. Cooper, da Força Aérea dos Estados Unidos, para medir o condicionamento físico dos militares. Foi transformado em desafio para todas as pessoas. O teste se popularizou e, volta e meia, era possível ver pessoas tentando aumentar a distância nos 12 minutos propostos de corrida. Hoje há uma estimativa que no Brasil existem mais de 13 milhões de praticantes frequentes de corridas. Os dados são da pesquisa Por Dentro do Corre, da Olimpikus e da BOX1824.
Em 2024 ocorreram no Brasil mais de 2,8 mil eventos de corrida, o que representou uma alta de 29% em relação ao ano anterior. A expectativa é que esse crescimento se repita nesse ano, chegando a mais de 3,5 mil eventos. A busca por qualidade de vida aparece como principal motor desse crescimento — mas o conceito de “qualidade” mudou. Correr deixou de ser ato solitário. grupos de corrida se organizam, criam interação entre os praticantes e geram novos relacionamentos. Corredores se encontram antes da corrida, durante e depois. Viajam juntos para competições, inclusive para outros países.
Esse estilo de vida rende dividendos robustos. Track&Field fechou 2024 com receita líquida de R$ 831 milhões e seguiu acelerada: no terceiro trimestre de 2025, registrou R$ 268,5 milhões, alta de 31,4% sobre 2024. O lucro líquido também avançou, atingindo R$ 35 milhões. O segredo? A aposta em relacionamento. Só em 2024, a marca realizou mais de 3,6 mil eventos — não apenas corridas, mas experiências voltadas ao bem-estar que mantêm o público orbitando a marca.
Nos calçados, a brasileira Olympikus, da Vulcabras, colocou os dois pés na pista. A companhia reportou em 2025 um terceiro trimestre com receita bruta recorde de 1,1 bilhão de reais, um resultado fruto de uma maratona estratégica. A marca reforçou o portfólio, ajustou preços e mirou diretamente o corredor. Associou-se a pelo menos 50 provas em 2024/2025 — das maratonas de São Paulo, Porto Alegre e João Pessoa à tradicional Corrida Pão de Açúcar, no Rio.
Paralelamente, a tecnologia reinventou o tênis de corrida. E, agora, a inteligência artificial empurra essa reinvenção para um novo patamar. Sensores embutidos, análise de desempenho em tempo real e materiais inteligentes permitem maior conforto, desempenho e prevenção de lesões. A Avelo, criada nos EUA por uma equipe formada por engenheiros, especialistas em ciência do esporte e designers, nasceu com a missão de redefinir o que um tênis de corrida pode fazer. A empresa ganhou visibilidade após suas primeiras pesquisas combinarem IA com medições de impacto, pronação e cadência, criando um sistema capaz de aprender com cada corrida.
O principal produto da marca é o Avelo Supertrainer One, atualmente o único modelo disponível. Ele reúne sensores internos, espuma de alta responsividade, malha respirável e algoritmos que ajustam o amortecimento conforme o padrão da passada. Lançado no mercado americano por 250 dólares, o modelo já apareceu em pré-venda por cerca de 199 dólares. A proposta é entregar um tênis leve, estável e totalmente personalizado ao corredor, oferecendo suporte inteligente e reduzindo o risco de lesões — uma combinação que posiciona a Avelo como uma das marcas mais inovadoras do segmento.
Fora do Brasil, o mercado global de calçados esportivos segue em expansão, com projeções de crescimento anual na casa de 4% a 5% até o fim da década, segundo avaliação da empresa Modor Intelligence. Essa oportunidade tem exigido investimentos de marcas regionais e dos players internacionais em design, tecnologia, conforto e inovações, inclusive com incorporação de chips e apps de monitoramento de desempenho. Quem quiser acompanhar, vai ter que correr.
